Com o forte onda de calor nesta semana, uma demanda nacional chegou também até Curitiba: os trabalhadores dos Correios reforçam a necessidade da mudança para a jornada de trabalho matutina, invertendo o atual turno de entrega das postagens. Consideram que o trabalho na rua, na parte da tarde, é muito pesado.
Os chamados ecetistas fazem parte da administração pública indireta (empresas públicas, fundações, autarquias) e seus trabalhadores são funcionários públicos. O regime de trabalho é regido pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e a jornada é de oito horas diárias e 44 semanais.
A empresa pública geralmente fornece protetor solar e o trabalhador pode dispor de água. No entanto, o aquecimento global, resultado da ausência de planejamento da produção no capitalismo, torna insuportável o trabalho com o sol a pino.
“Solicitamos a flexibilização do horário de entrega de vespertino para matutino, em novembro a empresa respondeu numa carta que faria a inversão (veja abaixo). Preocupados com a onda de calor, a empresa em atendimento se colocou, mas não foi operacionalizado”, afirma Emerson Marcelo Gomes Marinho, Secretário Geral da Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Fentect).
O dirigente sinaliza movimento nacional, uma vez que a pauta é unificada, caso a medida siga sem aplicação.
“A entrega matutina está sendo discutida nacionalmente. Trabalhadores e empresas não chegaram num ponto comum. Um grupo de trabalho está chegando num consenso de como ajustar isso, de que haja a entrega matutina no Brasil todo, devido à questão climática. Problemas estão aparecendo no Brasil todo”, afirma Ivan Carlos Pinheiro, liderança popular e integrante da base dos Correios.
Categoria essencial
Em Curitiba, Felipe de Carvalho Souza é trabalhador há onze anos dos Correios. Ele esteve já exposto durante a pandemia, contraindo covid-19 seis vezes, como afirma. Agora, ele aponta, ao lado da pauta pelo turno matutino, a necessidade, nas agências e locais de trabalho, de melhor condição de ventilação para os trabalhadores.
“Categoria essencial, mas não tivemos nenhum suporte por ser uma categoria que não podia parar, alguns companheiros faleceram. Agora, precisamos de ar condicionado nas unidades, dentro das agências e unidades, é um inferno, maioria dos carros não possui ar condicionado. Sem uma paralisação, a empresa vai empurrando com a barriga”, protesta.
Os aproximadamente 100 mil funcionários do quadro da empresa, na condição de serviço essencial, atuaram sem as devidas condições, sujeitos ao contágio e morte. O governo Bolsonaro ainda tentou, ao longo do mandato, sem êxito, entregar a empresa, lucrativa e superavitária, para controle do capital internacional e de empresas brasileiras.
O ex-governante ainda por cima não forneceu as condições que os trabalhadores do ramo exigiam. Chegaram a fazer uma greve de cerca de vinte dias, durante a pandemia. Os ecetistas acusavam o governo de não fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPI) em suas atividades cotidianas nas agências de atendimento. Até setembro de 2020, registrava-se na época 115 óbitos na categoria em diversos estados.
Ainda no que se refere à crise climática e à onda de forte calor, incluindo o sul do país, o tema do vestuário e do trajeto do segmento é motivo de questionamento. “Dificuldade de cumprimento que é a diminuição para 8 quilômetros, hoje tem distrito que chegam a 18 quilômetros, ganhamos ação e empresa recorreu. Estamos num processo de mediação, feito pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). Estamos verificando se a empresa propõe acatar ou finalizar esse processo e começar a implementar o percurso”, completa Emerson.
Posição dos Correios
Em resposta à reportagem do Brasil de Fato Paraná, a empresa, por meio de assessoria de imprensa, ressalta as condições de trabalho atual na empresa:
“a qualquer tempo, a estatal mantém protocolos de cuidados, como distribuição de protetor solar às carteiras e carteiros que executam atividades externas. Além disso, a empresa disponibiliza Equipamentos de Proteção Individual (EPI), vestimentas adequadas e acessórios protetores (camiseta, bermuda, boné, chapéu, guarda-sol e óculos escuros) para atenuar os efeitos à exposição solar entre 10h e 16h, conforme orienta a Organização Mundial de Saúde”.
Por outro lado, a partir do Acordo Coletivo de Trabalho de 2023, em resposta à Federação de trabalhadores, a empresa pública teria sinalizado para a mudança de turno, o que ainda não foi aplicado. “Adicionalmente, informamos que a Empresa, em virtude das altas temperaturas, tomou providências no sentido de autorizar imediatamente, de forma excepcional e temporária, a Entrega Matutina em todos os Centros de Distribuição Domiciliária - CDDs com distritos pedestres”, afirmou em documento o Chefe de Departamento de Relacionamento Organizacional, Fagner José Rodrigues.
Edição: Lia Bianchini