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Balanço 2023. Sindicalismo: ganhos no primeiro ano de Lula, mas os fantasmas do bolsonarismo seguem assombrando

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Recomposição das condições de vida dos trabalhadores foi uma das tarefas do atual governo em seu primeiro ano, ainda com questões pendentes - Pedro Carrano
Incluindo as negociações de outubro, o percentual de resultados acima da inflação é de 78,3%

Nas eleições do ano passado, a esquerda - e o sindicalismo - tinham uma constatação: eleger o Executivo era insuficiente para reverter os ataques à classe trabalhadora e dar protagonismo à agenda progressista. Era necessário eleger um parlamento forte e, sobretudo, seguir militando e pressionando os poderes.

Inclusive o Executivo que se pretendia levar ao governo central pela terceira vez. Passado um ano, os desafios seguem os mesmos e o "aclamado" alívio financeiro ainda não veio.

De um lado, há motivos para o sindicalismo comemorar. Principalmente quando o assunto é sua atividade-fim: a defesa da classe trabalhadora. Dados do Dieese mostram que a vida dos trabalhadores melhorou de um ano para o outro. Reflexo do controle da inflação, menor pressão sobre a cesta básica e renda das famílias e crescimento do PIB em incríveis 3%, muito acima do projetado pelos “especialistas” do mercado, que estivam apenas 1%.

Esses números são puxados pela retomada da política de valorização do salário mínimo. E se “sobe embaixo”, se impulsiona as negociações com objetivo de conquistar ganho real. Quando o sindicalismo entrou em jogo - no negociado sobre o legislado - o saldo ficou positivo. De 15.822 negociações coletivas desde o início de 2023, incluindo as negociações de outubro, o percentual de resultados acima da inflação é de 78,3%. Reajustes iguais ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC-IBGE) totalizam 16,4%; e abaixo desse índice equivalem a somente 5,4%.

Para o Dieese, “os dados mostram que os setores organizados tiveram a capacidade de melhorar as condições salariais em 2023. Essa tendência positiva deve se manter em 2024”.

Ponto favorável para o sindicalismo, que ganha filiados quando conquista ganho real ou quando emprega greves. E isto é parte do outro lado da moeda que os sindicatos foram desafiados: travar paralisações principalmente quando a “derrotada” agenda neoliberal insiste em promover perda de direitos. São os casos do Paraná com a venda da Copel, escolas militares, entre outros, ou em São Paulo, com a tentativa de privatização da Sabesp e do Metrô. Os fantasmas do bolsonarismo são palpáveis.   

Importante destacar que das 558 greves, “323 ocorreram entre os trabalhadores do setor público, 209 entre aqueles da esfera privada e 16 entre funcionários de empresas estatais (10 mobilizações foram deflagradas conjuntamente por trabalhadores da esfera pública e privada). Os motivos mais frequentes foram: aumento salarial, implantação de piso salarial por categoria, alimentação (tíquetes e cesta básica) e pagamento de salários em atraso”.

Os sindicatos e o sindicalismo têm grandes desafios para 2024. Um deles, talvez o principal, é a retomada de seu financiamento. Neste ano, o governo Lula, apoiado quase que unanimemente pelas entidades, não avançou na reforma da reforma trabalhista que estrangulou a estrutura e as contas do setor.

Como “desculpa” tinha a necessidade de derrotar o “8 de janeiro” e formar maioria no Congresso Nacional. Missão satisfatória, dada as circunstâncias como o discurso reacionário vem perdendo espaço e sendo trancafiado, e como Lula (e Haddad) conseguiram aprovar a reforma tributária. Por outro lado, é fundamental estar atento aos gritos das ruas e aos uivos das redes. Este combate, para ser eficiente, “companheiro Lula” precisa também receber a sua fatia do bolo.

Edição: Pedro Carrano