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As eleições municipais de 2024 e a homenagem organizada para Bolsonaro pela ‘confraria da rachadinha’ no Paraná

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O ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível e respondendo uma montanha de processos por centenas de crimes - Divulgação imprensa Alep
Governo Ratinho Jr que opera a construção de uma “frente única” para a disputa eleitoral de 2024

A Assembleia Legislativa (Alep) promoveu, na sexta-feira (15), uma sessão solene, presidida pelo deputado Marcel Micheletto (PL), para a entrega do Título de Cidadão Honorário do Paraná ao ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

Na verdade, o evento foi uma confraternização política da extrema direita, que juntou notórios batedores de carteira do erário público, e contou também com a presença do governador Ratinho Júnior (PSD), que sancionou a homenagem proposta pela bancada bolsonarista da Alep.

Uma festa de fim de ano da confraria da rachadinha da Assembleia Legislativa, atualmente presidida pelo deputado Ademar Traiano, que confessou a prática em nebuloso acordo com o Ministério Público.

Traiano e o ex-deputado Plauto Miró fecharam um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), em dezembro de 2022, com o Ministério Público, e admitiram terem recebido propina do empresário Vicente Malucelli — um dos diretores da TV Icaraí, que venceu licitação para fornecer serviços de comunicação ao parlamento estadual.

O deputado Ricardo Arruda (PL), idealizador da homenagem, também é investigado pela prática de rachadinha. Ele é acusado de exigir parte dos salários de assessores de seu gabinete. Arruda é investigado ainda pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) por tráfico de influência. Ele é denunciado de receber quase meio milhão de reais para intermediar pedidos de terceiros junto ao governo estadual e ao poder Judiciário.

A tônica dos discursos, além do registro das supostas qualidades do homenageado, foi marcada pela tentativa de purgar os amargos sentimentos derrotistas da extrema direita, uma espécie de lambeção coletiva de feridas da derrota eleitoral para o presidente Lula (PT), nas eleições presidenciais de 2022.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível e respondendo uma montanha de processos por centenas de crimes, campeão na modalidade da rachadinha há mais de 30 anos, em pronunciamento curto voltou a atacar o presidente Lula, autoridades do Supremo Tribunal Federal (STF) e lamentou a derrota para o PT e para Lula nas eleições presidenciais. Ele terminou sua fala proclamando que 2022 era uma “página virada”.

Eleições 2024

O maior conteúdo político do evento foi dado pela presença do governo Ratinho Jr que opera a construção de uma “frente única” para a disputa eleitoral de 2024 entre o atual prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PSD), ausente do evento, com o PL dos bolsonaristas, juntando também o clã político chefiado por Ricardo Barros (PP), atualmente secretário do governo estadual, e o restolho lavajatista –, bastante enfraquecido com a perda do mandato de Deltan Dallagnol (Novo) e a possível cassação do mandato do senador Sergio Moro (União).

Na equação do governador Ratinho, as futuras candidaturas de prefeito(a), vice-prefeito(a) e a eleição suplementar para o Senado funcionariam como um vetor convergente para contemplar todas essas facções da extrema direita e da direita tradicional da política curitibana. Além, claro, da redivisão de espaços na Prefeitura de Curitiba e no Palácio Iguaçu, duas poderosas alavancas para a manutenção do projeto continuísta do atual ocupante do Palácio Iguaçu — que acalenta sonhos presidenciais.

A principal incógnita da equação operada por Ratinho, é sobre o futuro político do prefeito Rafael Greca.

No momento, o governador tem que arrumar o comando da Assembleia Legislativa, uma tarefa espinhosa, pois trata-se de remover um fiel aliado: o deputado Traiano conduziu a base governista na privatização da Copel (uma rachadona com o patrimônio do povo) e em todos os projetos de desmonte dos serviços públicos, no projeto de militarização das escolas e do aumento extorsivo do ICMS, entre outras ações danosas ao povo paranaense. Traiano é alvo de um processo de cassação no Conselho de Ética da Alep apresentado pelo deputado petista Renato Freitas.

O mineiro Magalhães Pinto, que foi uma raposa da política nacional, dizia que “a política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou”. É uma lição que fica para a meditação no período natalino.

 

*Jornalista e escritor. Autor dos livros ‘Brasil Sem Máscara – o governo Bolsonaro e a destruição do país’ [Kotter, 2022] e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ [Kotter, 2021]. É militante do Partido dos Trabalhadores [PT], em Curitiba.

**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná

Edição: Pedro Carrano