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Privatizações repetem o ciclo colonial de exploração

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A precarização na Copel tem aumentado os casos de queda de energia elétrica em municípios do interior - Foto: Divulgação - Copel
chegou a hora de esquecer, de vez, essa história de “privatiza que melhora”, porque não melhora

A Braskem afundou Maceió (AL). A Enel deixou São Paulo (SP) no escuro. A Vale arrasou Brumadinho (MG). A Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel) segue o mesmo mau exemplo. Essas empresas têm em comum uma tática de mercado parecida com a empregada por países europeus em suas colônias de exploração há alguns séculos. A colônia de exploração só tinha um objetivo: dar lucro. Enviava-se tudo para a metrópole. Dissecava-se países inteiros para enviar ouro à corte. Os personagens mudaram, ganharam nomes atuais, mas a estrutura, nem tanto. 

Sobre a Copel: quedas de energia constante e demora no atendimento, mesmo em casos de emergência médica. Duas situações recentes envolvendo o fornecimento de energia aconteceram em Apucarana, cidade onde moro, e, por isso, posso falar com propriedade. Recentemente, duas pessoas ficaram presas no elevador do Edifício Palácio do Comércio após falha de energia. Aliás, as quedas na rede elétrica em Apucarana se tornaram constantes e já virou alvo de reclamações de moradores e lojistas. 

Porém, o caso mais preocupante aconteceu na noite da última quarta-feira (13/12). A Copel levou mais de uma hora para desligar a rede elétrica após um trabalhador ser eletrocutado ao fazer a poda de uma árvore. Equipes dos Bombeiros e do Samu precisaram aguardar cerca de uma hora até que o desligamento fosse feito e o atendimento fosse realizado. 

Além desses casos que foram retratados na mídia local, frequentemente sou informado de queda de energia elétrica em municípios do interior. A pergunta que não quer calar: quanto tempo o Paraná tem antes de ficar no escuro? Porque do jeito que está não deve demorar muito.

Esses são só alguns exemplos que contradizem a máxima que a gestão privada é melhor. É melhor prestadora de serviço. Mentira! A Copel já está sucateada. Trabalhadores sobrecarregados. A prestação dos serviços começa a demonstrar a verdadeira face da empresa, que é gerida por acionistas que moram bem longe do Brasil e nem sabem que Apucarana existe. Não sabem do desespero de ficar preso num elevador e, tão pouco, a dor de uma família de ver um familiar agonizar sem socorro. Assim é a cara das privatizações malfeitas.

Não muito longe de Apucarana, em Jandaia do Sul, trabalhadores fecharam a pista recém-concluída do contorno como forma de protesto por falta de pagamento. Oras! Empresas com contratos milionários não honram quem trabalha. As famosas pedageiras venceram novamente, mesmo após a nossa luta por contratos mais transparentes. Como serão os próximos anos? Será que veremos mais protestos de trabalhadores por não receberem seus salários? Não sou astrólogo nem médium, mas tenho certeza que não é uma situação improvável de se repetir no futuro. 

Também não posso deixar de observar outro ponto comum das privatizações: o discurso de que as empresas prestes a serem privatizadas só dão prejuízo. Agora não vou citar a Copel como exemplo, vou citar a Vale, antiga Vale do Rio Doce, vendida em 1997. Na época era uma empresa dita atrasada e foi avaliada em R$ 12 bilhões. Milagrosamente, num levantamento feito pelo G1 há menos de um ano, a mesma Vale tem valor de mercado de R$ 452 bilhões, uma valorização de 3.500%. 

O Brasil não só perdeu uma gigante na área de minérios, o Brasil perdeu autonomia numa área estratégica, mas é esse mesmo Brasil que socorre os brasileiros quando ocorrem os desastres. Não é a Braskem que corre para retirar as pessoas das áreas afetadas. Não foi a Vale que fez o resgate das vítimas. A Enel também se esquivou da responsabilidade. Em todas as situações, o estado precisou agir – ainda que tarde em algumas situações, mas agiu.

Dito isto, chegou a hora de esquecer, de vez, essa história de “privatiza que melhora”, porque não melhora. Aliás, o estado precisa ser mais presente na vida das pessoas e agir em defesa delas, para não permitir mais atrocidades como temos presenciado nos últimos anos de empresas. Chega de hipocrisia. Chega de entregar nossas riquezas para fundos multimilionários. Chega de ser colônia de exploração.

 

*Arilson Chiorato é deputado estadual e presidente do PT-PR.
**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná

Edição: Lucas Botelho