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Em Toledo (PR), artistas resgatam o velho e bom protesto contra censura de show

O prefeito do município, Beto Lunitti (MDB) cancelou show de Chico César, Tulipa Ruiz e da banda Nação Zumbi

Toledo (PR) |
Mas, a tentativa de calar sempre gera uma reação de quem quer se expressar - Ernesto da Silva Junior

Uma das palavras mais pronunciadas ultimamente tem sido a palavra “Democracia”, seguida da palavra “Liberdade”. Geralmente pronunciadas para justificar ataques à Democracia e a Liberdade! Toda censura tem como justificativa uma, suposta, proteção... “proteger as famílias”, “proteger as pessoas de bem”, “proteger o Brasil do comunismo”. Espantalhos argumentativos utilizados para calar o outro.

Mas, a tentativa de calar sempre gera uma reação de quem quer se expressar, já afirmavam Chico Buarque e Gilberto Gil: “Pai afasta de mim este cálice!” Este é o resultado da relação dialética entre o desejo de repressão e a necessidade de manifestação. Toledo, município da região oeste do Paraná, tem vivido, justamente isso, nos últimos dias.

Para quem não a conhece, Toledo é uma cidade de porte médio, localizada na região oeste do Paraná, com cerca de 150 mil habitantes e uma economia assentada na agroindústria de exportação. Ou seja, uma típica cidade interiorana de nosso estado, com todas as suas maravilhas e, também, todas as suas contradições.

Dentre as maravilhas, encontra-se uma vida cultural profícua, uma característica que destoa do “normal” na microrregião e faz com que o município ganhe um certo destaque regional, quando se fala em cultura. Um destes eventos que dá destaque à Toledo, é a chamada “Virada Cultural” que, em 2023, tem a sua 12ª edição e, recentemente, se tornou o “pomo da discórdia” entre a extrema-direita do município e a classe artística local.

O imbróglio tem início no dia 28 de novembro, quando o vereador Marcelo Marques (Patriota) sobe na tribuna da Câmara e faz um ataque à letra de uma das músicas do cantor Chico César, que havia sido contratado para se apresentar na “Virada Cultural 2023”.

Após este episódio, cedendo à pressão da extrema-direita, o prefeito do município, Beto Lunitti (MDB) cancela o show dos cantores Chico César, Tulipa Ruiz e da banda Nação Zumbi.

O ato de censura, porque foi isso o que houve, começa à repercutir de forma negativa para o município, e a conexão entre o cancelamento dos shows e a pressão da extrema-direita fica evidente, apesar do argumento oficial da municipalidade, que alegou problemas estruturais para a realização dos três shows. Afinal, é claro, não poderiam admitir que estavam censurando os artistas.

Mas, como toda ação tem uma reação, setores da classe artística do município, ao lado de cidadãos que defendem a liberdade de expressão, começaram a se mobilizar para se contrapor à censura, criando um movimento chamado “Movimento Cultural e Artístico de Toledo (MCAST).

O novo movimento organizou uma manifestação contra a censura no dia 4 de dezembro (segunda), quando dezenas de manifestantes se reuniram em protesto na câmara de vereadores e em frente à prefeitura do município.

Com cartazes, vestidos de branco e com bocas vendadas, manifestaram sua indignação ao ato de censura executado pelo prefeito, que cedeu à extrema-direita buscando calar a manifestação de quem pensa diferente, ao mesmo tempo que torna árido o terreno cultural do município, impondo uma monocultura da cultura, como uma plantação de eucaliptos, onde só é possível encontrar eucaliptos e nenhuma espécie de planta.

Sobre os motivos do ato, a coordenação do movimento, na pessoa da professora Jacqueline Parmigiani, apontou o seguinte:

“O ato pacífico organizado pelo Movimento Cultural e Artístico de Toledo revelou a indignação da comunidade artística contra a censura, a intolerância e o preconceito e demonstrou a sua disposição em se manter firme na defesa da democracia, da liberdade, da paz e da diversidade na cultura.”

Percebemos, a partir da manifestação acima que o movimento pretende manter sua mobilização na tentativa de impedir que a Censura se imponha à Cultura. A este que escreve, resta o desejo de que a Cultura possa se expressar livremente, em suas mais variadas formas, reforçando o manifesto na letra de uma das músicas do cantor censurado, Chico César:


“Deus me proteja de mim

E da maldade de gente boa

Da bondade da pessoa ruim

Deus me governe e guarde,

Ilumine e zele assim”

(Deus me proteja – Chico César)


Dentre as maravilhas, encontra-se uma vida cultural profícua, uma característica que destoa do “normal” na microrregião / Anderson Hilgert

Luciano Egidio Palagano é Historiador e Conselheiro Nacional da CNTE

**As opiniões expressas nesse texto são de responsabilidade do/a autor/a e não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato.

Edição: Pedro Carrano