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O peso do mundo em nossas costas: 121 anos de Drummond

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Neste 31 de outubro, celebramos os 121 anos de nascimento de um dos nossos maiores escritores. Nascido na cidade de Itabira (MG), Carlos Drummond de Andrade fazia parte de uma tradicional família de fazendeiros e, desde cedo, demonstrou um interesse particular pela escrita. - Diego Lopes/Feira do Livro Porto Alegre
Além de poeta, foi exímio cronista e contista

Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

(Carlos Drummond de Andrade, Os Ombros Suportam o Mundo, 1940)

 

Há dias em que nos sentimos com o peso do mundo em nossas costas. Tal qual nestes versos de Drummond. Há tantos conflitos em curso, tantos problemas, há tantas guerras e mortes, tanta fome e tanta miséria no mundo.  

Quando o poeta escreveu este poema, a 2ª Guerra Mundial tinha recém-iniciado e nem se imaginava a proporção a que chegaria. Hoje, passados mais de 80 anos, o texto é extremamente atual e nos mostra, mais uma vez, nosso tempo presente. Um tempo de desesperança, de muitas dores e o que nos resta, segundo o poeta, é trabalhar, pois não conseguiremos chorar todas as dores do mundo. 

Neste 31 de outubro, celebramos os 121 anos de nascimento de um dos nossos maiores escritores. Nascido na cidade de Itabira (MG), Carlos Drummond de Andrade fazia parte de uma tradicional família de fazendeiros e, desde cedo, demonstrou um interesse particular pela escrita. 

Formou-se em Farmácia, em 1925, mas nunca exerceu a profissão. Neste mesmo ano, casou-se com Dolores e tiveram dois filhos. Trabalhou como redator-chefe no Diário de Minas e, em 1928, publicou seu antológico poema No Meio do Caminho.

Dois anos depois, lançou seu primeiro livro, Alguma Poesia. Em 1933, mudou-se para o Rio de Janeiro, e lá viveu e escreveu por mais de 50 anos, vindo a falecer em 1987, com 85 anos. Escreveu mais de 40 obras, sendo Sentimento do Mundo, em 1940, um divisor de águas em nossa literatura. 

De lá para cá, o poeta já foi e continua sendo muito homenageado e estudado. Há categorização e divisão de suas obras em fases:  a 1ª fase gauche (década de 1930); a 2ª fase social (década de 1940), a 3ª fase do não (décadas de 1950 e 1960) e a 4ª e última fase da memória (décadas de 1970 e 1980). Em cada uma dessas fases, há experimentações linguísticas com poemas pílulas ou o retorno aos clássicos, e também podemos perceber a predominância de determinadas temáticas (guerras, solidão, crises existenciais, metalinguagem, saudosismo, memorialismo). Mas, em todas essas fases, há sempre uma preocupação com o seu tempo presente, com os sentimentos e emoções universais que nos envolvem: o amor, a saudade, a amizade, os medos, a liberdade. 

Além de poeta, foi exímio cronista e contista. Sua prosa apresenta humor, uma ironia fina e observações minuciosas do cotidiano, que nos levam a refletir sobre questões aparentemente banais. 

Drummond foi e sempre será lembrado pelas palavras certeiras para nossos momentos de dúvidas e angústias. O poeta que melhor fez nossos retratos existenciais mesmo sem nos conhecer. Por esses e outros motivos, sua obra nos atinge de forma precisa e nos faz refletir sobre o nosso ser/estar no mundo, por mais que esse mundo “não pese mais do que a mão de uma criança”.


*Cláudia Gruber é mestra em estudos Literários pela UFPR e Secretária Executiva de Comunicação da APP-Sindicato. 

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Edição: Pedro Carrano