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Mobilização histórica: Curitiba abraça a sustentabilidade

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São necessárias iniciativas, mutirões e políticas públicas em prol da questão da ambiental e contra as cheias - Divulgação
A mobilização foi catalisada por uma consulta pública promovida pela Câmara Municipal de Curitiba

O cenário político e social de Curitiba testemunhou, na última semana, um marco histórico. Uma mobilização popular conseguiu, pela primeira vez, colocar a temática do meio ambiente e o combate às enchentes entre as prioridades da cidade. Este feito não apenas ressalta a crescente consciência ecológica entre os cidadãos, mas também a importância da participação cívica nas decisões políticas locais.

A mobilização foi catalisada por uma consulta pública promovida pela Câmara Municipal de Curitiba, uma iniciativa que permitiu à população incidir sobre a alocação dos 12,9 bilhões do orçamento municipal. É louvável o estabelecimento deste canal de participação, que, nesta edição, registrou sua maior adesão, refletindo o engajamento cívico em questões críticas.

No entanto, é preciso compreender que mecanismos como estes muitas vezes são frutos da disposição e compromisso público de servidores de carreira comprometidos com a participação social, mas que são instrumentos limitados se pensarmos na possibilidade de avançar muito mais em termos de inteligência coletiva. Esta última, que representa a capacidade do povo em pensar juntos as soluções para o comum, valoriza as experiências daqueles que enfrentam diariamente os desafios urbanos, como o impacto das enchentes, a necessidade de vagas em creches ou a coleta de lixo insuficiente.

Dar voz ao cidadão e ter capacidade de escuta é uma das maiores qualidades que um gestor público pode ter. São diversas as ferramentas de participação disponíveis, seja por meio de metodologias presenciais de co-criação ou tecnologias digitais avançadas. Colocar a escola como centralidade neste processo é um caminho a ser percorrido, dada sua capacidade de aglutinar toda uma comunidade que se faz no entorno da escola. Também devemos empoderar o cidadão para que participem de conselhos participativos, audiências públicas que permitem a expressão da vontade popular e, além da própria vontade, são instrumentos para a formação política do cidadão, essencial para sua visão crítica da sociedade.

Curitiba, apesar de suas inovações em gestão de águas pluviais, como os parques extravasores exemplificados pelo Parque Barigui, enfrenta desafios persistentes. As inovações datam da década de 1970, período em que, paradoxalmente, boa parte dos rios da cidade foram enterrados, exacerbando o problema das enchentes. A realidade é que as periferias continuam desproporcionalmente impactadas durante as chuvas intensas.

Ao observarmos a gestão das águas na cidade, podemos concluir facilmente que, apesar das práticas inovadoras do passado, há uma necessidade urgente de atualizações e novas soluções. A urbanização acelerada e a impermeabilização do solo são fatores que contribuem para o problema das enchentes, exigindo uma revisão das estratégias de manejo das águas urbanas.

O surgimento do movimento "Urgente Contra Enchentes" foi uma resposta cívica a essa questão crítica. Iniciado como uma tentativa de chamar a atenção do poder público, evoluiu para um grande movimento de construção de soluções urbanas, demonstrando a capacidade da comunidade de se organizar e propor soluções inovadoras.

É simbólico escrever este texto no mesmo dia da ação coletiva realizada na Vila das Torres junto ao Coletivo Mão na Terra, pois exemplifica a transição de uma reivindicação à ação direta. O plantio de árvores não só contribui para a absorção da água da chuva, mas também simboliza um compromisso com a resiliência urbana e a sustentabilidade.

A mobilização popular em Curitiba ressalta a importância do engajamento cívico contínuo. As ações conjuntas fortalecem a democracia local e contribuem para uma cidade mais verde, resiliente e inclusiva.

O desafio agora é manter este ímpeto. A mobilização deve continuar, pressionando por políticas públicas que priorizem a sustentabilidade e a justiça social, garantindo que Curitiba seja uma cidade boa para todos.

Em última análise, a história recente de mobilização em Curitiba é um lembrete poderoso do que é possível quando cidadãos engajados unem suas vozes e esforços. A jornada para uma Curitiba mais verde e justa está apenas começando, e é através da ação coletiva que continuaremos a construir um futuro promissor para todos os curitibanos.

 

*João Paulo Mehl é empreendedor e ativista social, um dos idealizadores do Movimento Urgente contra Enchentes.

**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato.

Edição: Pedro Carrano