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PÁTRIA GRANDE

Para sindicalista equatoriano, só com Luisa Gonzáles será possível recuperar direitos trabalhistas

Líder sindical denuncia que no Equador “não existe direito ao trabalho à saúde e nem à educação”

Quito (Equador) |
Forças populares lutam pela eleição de Luisa Gonzáles, que representa ala voltada a políticas sociais - Divulgação

Escrito com Caio Teixeira

“Neste momento, a questão é eleger Luisa González ou Daniel Noboa para a presidência e o último debate demonstrou o que todos já sabíamos: a total inépcia do candidato, enquanto ela é bem preparada”, afirmou Fernando Ibarra Serrano, presidente da Central Equatoriana de Organizações Classistas – Central Latino-Americana de Trabalhadores (Cedoc-Clat), em entrevista exclusiva. O dirigente, que não é partidário do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), reconhece que com Luisa, do movimento Revolução Cidadã, os trabalhadores e o sindicalismo terão espaço político para recuperar direitos, ao contrário do outro candidato.

De acordo com Ibarra, “os tremendos vazios de Daniel” – filho do bilionário Álvaro Noboa - foram notados: “esperava-se que isso se refletisse no debate entre os dois e, de fato, foi o que ocorreu”.

A lei eleitoral equatoriana determina que pelo menos um dos integrantes da chapa majoritária deva ser do sexo feminino, o que fez a chapa de Noboa colocar como candidata à vice-presidência Verónica Abad, uma inexpressiva pretendente à Prefeitura de Cuenca, que chegou em sétimo lugar na última eleição entre os nove pretendentes, com míseros 5,27% dos votos.

“Esta senhora não tem sequer preparação ideológica para apoiar o que diz e fala em privatização de tudo”, contestou o sindicalista, frisando que, “para este pessoal, não existe direito ao trabalho, não existe direito à saúde e nem à educação”.

Os cartéis da mídia não perdoam Correa

“Uma das coisas positivas do governo do presidente Rafael Correa foi encurralar os antigos poderes constituídos, a velha imprensa, que não o perdoa. Era impossível a qualquer pessoa ter acesso aos meios de comunicação. Na lei de comunicação proposta por Correa e aprovada durante o seu governo, havia o direito de resposta e réplica, e os meios de comunicação tinham a obrigação legal de dar espaço ao contraditório”, recordou Ibarra.

Na época, o sindicalista disse que adorava pedir direito de resposta. “quando um ministro do Trabalho dizia barbaridades na imprensa, pois os meios de comunicação tinham obrigação legal de dar espaço de resposta para os sindicatos imediatamente”. “Quando e como isso mudou? Primeiro com Lenin Moreno (2017-2021), que fez o referendo e, depois, com a nova regulamentação da lei de meios de comunicação, a partir da qual voltamos ao passado. Não existe mais direito de resposta. Fica na vontade de cada veículo desenvolver o seu próprio código de ética e sabemos no que isso dá”. Na presidência, Moreno traiu Correa e as expectativas da população, “barrou esse avanço e retrocedemos ao passado”.

“Moreno traiu a dimensão política e ideológica do correísmo, se entregou à extrema-direita. E aí passa a ser levado de festa em festa, regada a champanhe francês e caviar, enquanto ensinavam a sua esposa as últimas modas de Paris e Milão. E isso não é especulação. Esta informação foi dada por seus próprios funcionários, gente próxima a ele”, garantiu.

O presidente da Cedoc-Clat denunciou que a partir desta capitulação, os grandes empresários passaram a “administrar tudo no governo Moreno”, com graves repercussões no mercado de trabalho e no cotidiano das empresas. “As medidas anti-trabalhistas não eram nem mesmo por decreto presidencial, mas por acordo ministerial, violando a legislação. Dessa forma foram criadas 11 novas formas de contratação precária. Os poderes fáticos recuperaram a sua força com Moreno e desfizeram o que Correa havia feito para demolir esses velhos poderes, incluindo a velha partidocracia. Infelizmente, foram seis anos (quatro de Moreno e dois de Guillermo Lasso) em que essas conquistas foram perdidas”, acrescentou.

Pesquisas serviram como 'catapulta para vender ilusão"

Como desde a última quinta-feira (5) os Institutos de Pesquisa não podem mais se pronunciar sobre as candidaturas, “após terem servido como catapulta para vender uma ilusão a respeito de Daniel Noboa”, precisam se adaptar à realidade e a registrar o avanço de Luisa. “Como esses institutos podem explicar o crescimento de 20 pontos de Noboa da noite para o dia?”, questionou.

O assassinato de Fernando Villavicencio às vésperas do primeiro turno, explicou Ibarra, teve reconhecidamente um impacto no eleitorado. “Se utilizaram da mídia, como poder fático, e a velha política de forma perversa, para lançar acusações contra o correísmo”, lembrou. O fato, disse o sindicalista, “é que não houve tempo para desmantelar essa narrativa, prejudicando a vitória de Luisa González no primeiro turno, porque as previsões eram para isso”.

Sobre o modelo de entrevistas feitas pelo cartel midiático, Ibarra analisa sua manipulação, pois “fazem as perguntas já com a resposta incluída”. “Com uma onda de triunfalismo - pró Noboa - queriam nos vender que havia surgido uma nova grande referência para a política nacional, um jovem, muito inteligente, preparado e com tudo pronto. De direita, é claro”, frisou.

Além disso, continua, “no primeiro debate de sete candidatos, obviamente você pode se misturar e se esconder. Mesmo assim, se tens 45 segundos e usas somente sete é porque não tens nenhuma ideia para defender”.

"Mais solta, Luisa teria enterrado Noboa"

O sindicalista também manifestou “uma insatisfação com a candidata Luisa González, porque acredito que ela tem mais ânimo e mais talento, mas seus estrategistas a mantiveram um pouco restringida no debate. Se a tivessem liberado um pouco mais, tenho certeza de que ela o haveria enterrado”.

“Luisa é uma mulher jovem e preparada. A diferença é que ela já teve experiência no setor público, na vida política, enquanto Noboa decidiu entrar na política na última hora. Um dia, tomando alguns drinks com amigos, discutem sobre quem seria o herdeiro da presidência. Então é mero capricho de um garoto rico”, protestou.

Para Ibarra, “o Equador merece um destino diferente do que nos aconteceu com a traição de Moreno e do que aconteceu com Lasso, ou seja, um Estado dominado pelo crime organizado e pelo tráfico de drogas”. “Queremos e merecemos outro estilo de vida, mas agora estamos presos no nosso próprio país, presos pela violência e pelas organizações criminosas”, declarou.

Sobre o crescimento descomunal da criminalidade, que multiplicou por cinco nos últimos seis anos, Ibarra ressaltou que ela “não vem dos pobres, que os sicários [assassinos de aluguel] até podem vir, mas quem se torna multimilionário com o tráfico de drogas não são eles, não são nem mesmo os líderes das gangues. Os grandes traficantes são outros”.

Em relação ao assassinato de Fernando Villavicencio, o sindicalista questionou a razão de, passados dois meses do crime, ainda não terem entregado o seu celular, que poderia informações relevantes às investigações, com a justificativa de que poderiam “prejudicar a reputação do falecido”.

“Portanto, são situações como essas, que mantêm o Equador assim, com um sistema judiciário debilitado, um sistema político falido, uma situação de ganância desenfreada, com esses poderes instituídos”, avaliou. Para completar, concluiu Ibarra, “com uma imprensa que se perdeu pelo caminho, que perdeu o seu compromisso com a sociedade e está apenas a serviço de interesses particulares. Esperemos que o povo faça a escolha certa”.

 

 

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Edição: Pedro Carrano