Paraná

CRISE CLIMÁTICA

Não temos nenhuma resposta da prefeitura: Comunidades afetadas pelas cheias

Vereadora Giorgia Prates (PT) faz requerimento à prefeitura solicitando melhoria nos locais de cheias e enchentes

Curitiba (PR) |
Vila Pantanal 2, entre várias outras, registraram alagamentos no final de semana, em pleno outubro - Divulgação

O que acontecia todo dezembro e janeiro em Curitiba agora tem um intervalo de tempo menor. Quando, nas suas redes sociais, a liderança comunitária Andréia de Lima denunciava enchentes que afetam a sua casa e a da vizinhança, no início do ano, no bairro Parolin, agora as denúncias tornam-se praticamente cotidianas.

Com a pressão das altas temperaturas e aumento das chuvas, novamente comunidades são afetadas e denunciam falta de preparo e atenção por parte da prefeitura.

No Parolin, ao longo de três anos, a prefeitura constroi o canal extravasor na bacia do Rio Pinheirinho, cujas cheias afetam os córregos Santa Bernadete, Henry Ford e Curtume; e os rios Vila Guaíra e Pinheirinho, que deságuam no Rio Belém. Porém, as casas no local continuam sendo afetadas pela água.

A preocupação da liderança e trabalhadora em serviços é com outras mulheres no momento quando a chuva cai sobre a comunidade. "Já estou com a geladeira erguida, máquina de lavar roupa, e penso nas mulheres trabalhando no serviço”, afirma.

Andréia integra um grupo dos moradores e lideranças na faixa dos bairros Novo Mundo, Guaíra, Fanny, Lindoia. Em consenso, a necessidade de pressionar de forma comum a prefeitura de Curitiba e a Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP). “Estou aguardando também pelo Ministério Público, talvez a gente devesse acionar a ONU para acionar a secretaria por racismo ambiental”, critica.

Outras áreas impactadas

Richard Junior, da coordenação da área 29 de Janeiro, no bairro Uberaba, também comenta que a comunidade de mais de 70 famílias foi inteiramente impactada com a cheia. E agora conta com o apoio das vereadoras Professora Josete e Giorgia Prates (PT), acionando o canal de denúncias criado por esta última. Ao lado das áreas no Parolin, Fanny e Guaíra, foram registradas cheias também em Santa Felicidade. A vila Pantanal, no Alto Boqueirão, na divisa entre Curitiba e São José dos Pinhais, também apresentou imagens de alagamento.

De acordo com as páginas de Prates nas redes sociais, “Protocolamos uma proposição na data de ontem (07/10/2023) para cobrar providências da prefeitura sobre as obras de macrodrenagem da região, afinal é urgente melhorar a infraestrutura nas regiões do Guaíra, Parolin e Fanny. As moradoras e os moradores da região não aguentam mais perder seus móveis, ter sua saúde e saneamento afetado por alagamentos", apontou a vereadora.

Na avaliação do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), no Paraná, em praticamente todos os setores paranaenses as anomalias de temperatura ficaram perto ou acima de 2°C em setembro. Sabe-se que o atual modo de produção capitalista, que não possui planejamento e controle da produção pelos trabalhadores, é o principal responsável pela destruição progressiva do meio ambiente. No entanto, nada justifica a ausência de políticas públicas voltadas à população impactada. Pelo contrário, apenas reforça que a solução do problema passa pelos trabalhadores e por suas organizações.

Impacto mesmo na área central

Habitualmente, trabalhadores nas áreas de periferia e extrema periferia convivem e enfrentam o problema das cheias e enchentes, resultado de um urbanismo excludente construído na capital sobretudo desde os anos 60. A questão é que, no episódio do final de semana, também o centro da cidade e bairros na chamada zona A do urbanismo de Curitiba apresentaram problemas.

“Tal negligência não impacta apenas nosso patrimônio natural: representa também um perigo real e iminente para a população. Enquanto o centro lida com danos materiais, a periferia enfrenta ameaças ainda mais severas, com vidas em risco, propagação de doenças e perdas irreparáveis para muitas famílias”, indica João Paulo Mehl, um dos criadores do Movimento contra Enchentes na capital, buscando articular áreas de ocupação, entidades e ativistas.

Gestão justifica ações realizadas

A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a assessoria da SMOP, que trouxe abaixo a seguinte resposta, com previsão de licitação e finalização em cinco meses das obras de conclusão e execução do canal de vazão normal em concreto armado nos rios Pinheirinho e Vila Guaira e nos córregos do Curtume e da Av. Henry Ford. Confira a resposta completa abaixo:

"Antes de mais nada é preciso ressaltar o alto índice de chuvas no período. Em cinco dias, a cidade recebeu um volume de chuva maior do que a média histórica de precipitação para todo o mês de outubro. De acordo com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), a média de chuvas para este mês é de 144 milímetros. Tivemos pontos de alagamentos, mas que escoram tão logo a chuva parou, o que demonstra que o sistema de drenagem da cidade funcionou.
O município tem uma série de medidas, que incluem obras de macrodrenagem, limpeza e desassoreamento de rios, córregos e canais e manutenção das estruturas de macrodrenagem para prevenir e minimizar os impactos das fortes chuvas.
Para tornar a cidade mais resiliente e minimizar os prejuízos causados por enchentes e alagamentos, desde 2017 foram executadas 24 obras de drenagem, sendo que 17 delas foram iniciadas e concluídas em menos de um ano. Outras cinco obras com a mesma finalidade encontram-se em andamento. O investimento total é de R$ 258.755.363,89.
Somam-se aos investimentos aplicados em obras de drenagem outros cerca de R$ 170 milhões destinados a serviços que influenciam diretamente no combate às enchentes e alagamentos. São mais de 11.600 ações, entre elas estão 40.946 metros de execução de galerias de águas pluviais e 363.455 metros de limpeza e desassoreamento de rios e córregos da cidade.
Somente nos primeiros nove meses deste ano, foram realizadas 112 intervenções, abrangendo 35 km de rios, córregos, valas de drenagem e canais, com uma média mensal de 4.212 metros de limpeza.
São intervenções do Programa Curitiba Contra Cheias, executado pelo Departamento de Pontes e Drenagem da Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP).
Os investimentos têm se mostrado eficientes, mesmo nas situações de chuvas volumosas, como nos últimos dias, os impactos foram menores e, na grande maioria dos casos pontuais de alagamentos, a água baixou rapidamente após a chuva. Resultado do amplo trabalho que vem sendo realizado nos bairros
Além disso, a Prefeitura de Curitiba faz campanhas de conscientização junto à população, enfatizando a importância de não jogar lixo nos rios. O descarte inadequado de materiais como terra, lixo e móveis contribui para o assoreamento dos rios, aumentando o risco de alagamentos.
 A cidade oferece diferentes opções para o descarte correto de resíduos, incluindo a coleta de lixo comum, lixo reciclável, lixo tóxico e lixo eletrônico, bem como a disponibilidade de Ecopontos para o descarte de entulhos.
Outras ações do município se somam às ações da Smop. A equipe "Amigo dos Rios" da Secretaria Municipal do Meio Ambiente está constantemente monitorando os rios e córregos da cidade, realizando limpezas para remover não apenas materiais vegetais, mas também itens descartados indevidamente pela população, como sofás, fogões e colchões.
Alinhada às diretrizes globais de gestão dos riscos causados pelas mudanças climáticas, a Prefeitura de Curitiba investe ainda em ações relacionadas ao combate às mudanças climáticas e à contenção das cheias. Com essas iniciativas, a Prefeitura de Curitiba demonstra um compromisso contínuo com a preservação de seus recursos hídricos e a segurança de seus cidadãos diante das adversidades climáticas.


Bacia do Rio Pinheirinho


As obras da bacia do Rio Pinheirinho que afetam os córregos Santa Bernadethe, Henry Ford e Curtume e os rios Vila Guaíra e Pinheirinho, que deságua no Rio Belém ainda não foram concluídas. Estão na fase final e a Secretaria Municipal de Obras está comprometida e concentra esforços para a finalização da obra que na totalidade abrange oito quilômetros.
Quando as três etapas estiverem concluídas a expectativa é reduzir o impacto das cheias na foz do Rio Pinheirinho, no encontro com o Rio Belém, beneficiando as famílias da região.
O Rio Pinheirinho tem uma bacia totalmente urbanizada e a última intervenção de macrodrenagem foi feita na década de 1950. A execução da obra de macrodrenagem é um dos maiores esforços de requalificação de uma ocupação irregular feitos em Curitiba. A obra que estava em andamento teve o contrato finalizado em junho, após a rescisão do contrato com a empresa que não cumpriu o cronograma.  
A licitação para a contratação de empresa para obras de conclusão e execução do canal de vazão normal em concreto armado nos rios Pinheirinho e Vila Guaira e nos córregos do Curtume e da Av. Henry Ford já está em curso. A abertura dos envelopes contendo as propostas de preço das empresas acontecerá em 24 de outubro. O prazo de execução das obras é de 5 meses após a assinatura da ordem de serviço

 

Edição: Ana Carolina Caldas