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Coluna Alimentação Política | Bek's Bar ainda sofre com “ataques” bolsonaristas

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Campanhas de extrema-direita influenciam avaliações de negócios no Google - Foto: Divulgação - Bek's Bar
Avaliações nas redes são influenciadas por campanhas de perfis de extrema-direita

Bolsonaro perdeu, mas o seu legado continua. A herança de fake news e ações coordenadas de seus seguidores continuam fazendo vítimas, mesmo em setores como o de bares de Curitiba. Apesar do bom humor com que Giovanna Lima, proprietária do tradicional bar Beks, rebate os comentários negativos nas mídias sociais da empresa, o bombardeio a seu estabelecimento ultrapassa os limites do aceitável.

Comentários no Google são fonte primária para muita gente que deseja conhecer novos lugares e serviços. O sistema de avaliações da gigante mundial, ainda que motivo de muitas críticas, pauta o processo decisório de várias pessoas de onde e o que consumir, em especial num período de restrições orçamentárias. O bar de Giovanna, abertamente progressista, viralizou nos anos pandêmicos quando decidiu não mais passar pelos constrangimentos que lhe proporcionavam clientes reacionários, após o falecimento de seu pai, que tocava o bar antes.

Desde que Giovanna declarou que clientes fascistas não eram bem-vindos, o Beks vem recebendo todo tipo de ameaça, boicote, xingamentos e fake news sobre a qualidade de seus serviços. Os bolsonaristas tomaram as declarações da proprietária como ofensa e contra-atacam difamando o bar nas redes sociais e no Google. Muitas vezes com ataques misóginos, homofóbicos, elitistas e todas as armas que seus apoiadores usaram nas redes nos quatro anos de desgoverno.


Bek's luta contra difamações online, impactando negativamente suas avaliações e ameaçando seu legado progressista / Foto: Divulgação - Bek's Bar Instagram

“Tem muita gente de fora, sabe? Que nunca esteve aqui. Muitas das pessoas estão fazendo a primeira ou a segunda avaliação na plataforma. É claramente só para prejudicar o bar”, diz a empresária. Ela também ressalta que as campanhas difamatórias parecem coordenadas, “começam de repente e recebemos umas vinte por vez”, conta. Por serem difusas, e a plataforma ainda engatinhar na luta contra essas investidas de rebanhos eletrônicos, a nota do restaurante acaba flutuando negativamente, ofuscando sua avaliação real para clientes que ainda não o conhecem.

O Google recentemente abriu uma ação legal nos Estados Unidos contra um usuário mal-intencionado que criou mais de 350 perfis falsos de empresas e tentou reforçá-los com mais de 14.000 avaliações falsas para enganar possíveis consumidores. Ainda que o gigante “big tech” esteja reagindo contra as inverdades que invadiram as ferramentas de sua plataforma, não é difícil encontrar empresas privadas vendendo avaliações e serviços do gênero, além disso, a corporação estadunidense parece estar longe de uma resolução para os ataques de milícias digitais.

De volta ao Beks, os ataques são respondidos por avaliações positivas de clientes simpáticos à causa. Porém, na guerra deletéria do neofascismo nacional, perdem todos, já que as opiniões honestas, que serviriam para orientar futuros clientes do bar ou sinalizar pontos em que poderia melhorar, ficam relegadas a essa disputa infantil e infrutífera. Não é só isso, o embate pelo reconhecimento digital é extremamente desigual. As milícias digitais contam com usuários do país inteiro, enquanto o pequeno comércio tem suas barreiras geográficas de influência estreitas.


Bek's Bar enfrenta ataques virtuais de seguidores bolsonaristas / Foto: Reprodução - Bek's Bar Instagram

O apagamento, modus operandi do fascismo, encontrou sua versão atualizada: o apagamento por excesso de informação. Os mecanismos digitais acabam caindo como uma luva para grupos organizados mal-intencionados, na medida em que prejudicar “o inimigo” se torna uma ação que depende de apenas cliques no mouse e teclado. É grave porque este poder de mobilização, que talvez não reflita para os seus operadores a gravidade que possui, acaba subvertendo ferramentas de comércio do mundo real e prejudicando empregos, faturamento, captação de impostos e todo o mais.

A ignorância é de fato o mar que atinge como tsunami líbio as trocas reais, na medida em que não há consciência dos impactos no mundo real dessas campanhas. Miram na Giovanna, mas acertam em seus cozinheiros, garçons e toda a extensa folha de pagamento do bar que está no mesmo lugar há 42 anos. Sem contar na perseguição política, deletéria a nossa sempre ameaçada democracia, promovida a troco de bem pouco ou nada. Infelizmente, nos livramos do sintoma dos últimos anos, mas a causa ainda nos será uma herança nefasta por algum tempo.

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*Felipe Petri trocou a profissão de engenheiro pela de cozinheiro em 2017 e desde então é Chef na Petrisserie - Cultura e Gastronomia. Além disso, escreve sobre as transversalidades políticas, sociais e econômicas do ato de comer para veículos locais e nacionais. Seus amigos dizem que já é quase curitibano, apesar de carioca, mas nunca deixou de gostar de sol, cerveja e música alta!

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Frédi Vasconcelos