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Educação

Deputados denunciam perseguição da SEED a alunos que gravaram vídeo expondo problemas na escola

O material era parte de um trabalho escolar da disciplina de artes

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Vídeo de alunos do Colégio Panorama, em Sarandi, expõe problemas estruturais como goteiras, falta de recursos, quadra, etc - Reprodução TIK Tok

Alunos do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Panorama, em Sarandi, norte do Paraná, gravaram um vídeo expondo problemas da escola, como falta de materiais nos banheiros, de quadra de esportes,  paredes descascadas, pichações, etc.  O vídeo, que era uma atividade da disciplina de Artes,  foi publicado nas redes sociais dos alunos e acabou ganhando repercussão e chegando a conhecimento da Secretaria do Estado da Educação (SEED-PR) que, segundo relatos de alunos, sindicato e deputados, fez perseguição aos responsáveis pelo vídeo.  

Durante a sessão plenária na Assembleia Legislativa desta segunda, 28, os deputados da bancada de oposição ao governo Ratinho Jr denunciaram que os alunos estariam sendo perseguidos. Segundo relatos de alunos (que não quiseram ser identificados), no mesmo dia da publicação do vídeo, representantes do  Núcleo da Educação,  foram até à escola e chegaram a solicitar a retirada da sala de aula,  dos responsáveis pelo vídeo. Um dos alunos, portador de necessidades especiais, chegou a passar mal tendo uma crise epilética.  


Deputados denunciam perseguição da SEED a alunos que gravaram vídeos expondo problemas na escola / Reprodução internet

"Volta do Dops"

O deputado Arilson Chiorato, PT, fez uso da tribuna, na ALEP,  para cobrar providências sobre as denúncias de perseguição aos alunos. “Os alunos produziram um vídeo como trabalho escolar e denunciaram as condições precárias da escola, mostrando as imagens. Ou seja, não estavam deturpando a realidade. Mostraram a falta de papel higiênico, as goteiras e outras coisas mais. O vídeo teve mais de 1 milhão de visualizações e, por isso, o Núcleo da Educação promoveu uma visita surpresa na escola e resolveu chamar justamente estes alunos para uma conversa fazendo pressão psicológica ocasionando uma crise de epilepsia em um dos alunos,” contou o deputado.  

Arilson ainda relatou que visitou a escola e conversou com pais, alunos e professores. “Eu estou dizendo isso tudo porque eu conversei com a comunidade escolar, pais, professores, diretora e alunos. Se tudo for confirmado do que me foi relatado, tenho certeza que o DOPs voltou. Incrível a censura e autoritarismo usado. Algo que não vamos permitir e estamos pedindo esclarecimentos sobre tudo isso,” disse.  

Proteção das crianças

Líder da Oposição, o deputado Requião Filho pediu que representantes do governo esclareçam a situação: “O foco é saber por que, quando e como foram pressionar crianças. Depois a gente entra na situação da física do colégio, se há ou não dinheiro para a reforma da escola mas, antes de mais nada, devemos pensar no bem-estar e na proteção das crianças. Ou não é este o dever do Estado, proteger, dar condições de educação, acolher?” questionou. 

Também o deputado Professor Lemos (PT) repudiou a perseguição de alunos por representantes da SEED. “ Isso não poderia ter acontecido porque se trata de um trabalho escolar. Inclusive entrevistaram para saber quem tinha incentivado eles a fazer tal conteúdo. Eu já me comuniquei com o Secretário de Educação providencias e também que se faça reformas na escola e não retaliação junto à comunidade escolar. Ao contrário, atenda ao pedido de socorro divulgado no vídeo,” disse.  

APP Sindicato repudia ação antidemocrática

Além dos deputados, também a a APP Sindicato está acompanhando o caso e pedindo providências. “Não é possível que o Núcleo de Educação sem autorização dos pais chame os estudantes de forma individual ou mesmo coletiva para dar explicações. Trata-se de algo extremamente antidemocrático, que não ajuda e que, de uma certa forma, impactou e assustou, inclusive, alguns estudantes.  O procedimento da APP Sindicato é muito claro, é pela justiça, democracia, liberdade de expressão e, por isso, estamos acompanhando o caso nos colocando à disposição o diálogo junto ao governo do estado para resolver e mediar situações dessa natureza,” disse a Professora Marlei Fernandes, da direção do sindicato.  

O que diz a SEED:

Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a SEED disse que: 

 “ na tarde da última quarta-feira (23), uma equipe da Diretoria de Planejamento e Gestão Escolar (DPGE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) realizou, juntamente com o Núcleo Regional de Educação (NRE) de Maringá, no Colégio Estadual do Jardim Panorama, em Sarandi, uma visita técnica protocolar, prevista na Resolução Estadual 2.575/2022 GS/SEED, que visa avaliar o contexto pedagógico das escolas estaduais. 

Para realizar tais avaliações, as equipes técnicas fazem oitivas de toda a comunidade escolar (alunos, professores, gestores e colaboradores), para levantar dados referentes a múltiplos assuntos (ex. frequência escolar, aplicação de recursos repassados pelo estado, entre outros). 

Neste contexto, devido aos acontecimentos envolvendo o vídeo de grande repercussão, produzido pelos alunos na última semana, houve um equívoco no momento em que as equipes técnicas realizavam a oitiva dos alunos da escola. Por interpretarem que tal visita seria decorrente da atividade, como eventual forma de questionamento da mesma, alguns membros da comunidade escolar manifestaram-se, afirmando que o motivo da visita seria punir, de alguma forma, os estudantes: suposição, portanto, errônea. 

A Seed-PR considera importante a iniciativa dos alunos, em termos de exercício de cidadania dentro da atividade proposta e defende a liberdade de expressão dos mesmos.”  

 

 

 

Edição: Lia Bianchini