Paraná

PLATAFORMAS DIGITAIS

OPINIÃO. 30 de agosto, dia de plataforma zero

"Querem que nos tornemos operários digitais numa linha invisível de produção"

Curitiba (PR) |
Desde janeiro o governo federal tem criado espaços de diálogo com representantes dos trabalhadores e das principais empresas detentoras das plataformas - Giorgia Prates

É inegável que a tecnologia tem operado milagres na nossa vida. Mesmo sendo clichê, temos tudo o que precisamos na palma da mão: pagamos contas, acessamos redes sociais, fazemos compras, nos divertimos, jogamos, sabemos o que acontece no mundo, recebemos (e mandamos) fake news, tiramos fotos e, pasmem, até telefonamos para alguém. 

A vida dentro destas telas de 4 ou 5 polegadas é maravilhosa! Tudo é perfeito, bonito e legal. Em sala de aula, a tecnologia pode ser uma grande aliada na hora de fazer uma pesquisa, assistir a algum vídeo, sanar dúvidas, resolver exercícios, mas a realidade está passando muuuuito longe dessas atividades.  

Para os estudantes, é o mundinho cor-de-rosa, onde tudo é muito mais interessante do que ouvir alguém falando sobre predicados, protozoários, ...não se anota mais nada no caderno, é só tirar uma foto do quadro e eis o conteúdo materializado à sua frente.

Não é preciso mais pensar, analisar, refletir, escrever. Os exercícios vêm todos em questões fechadas, basta apertar uma tecla e se errar, há múltiplas tentativas, até que se chegue a 100% de acerto. Uau! Você é o máximo!

Um fenômeno parecido ocorre com os professores, pois precisam administrar um monte de plataformas onde estão esses exercícios maravilhosos. Querem que nos tornemos operários digitais numa linha invisível de produção.

Não produzimos mais conhecimentos, somente dados estatísticos para alimentar os índices e o ego de um  governo que diz investir na educação e quer novamente chegar em primeiro lugar no IDEB.

Por esses e outros motivos, é importante que no dia 30 de agosto saiamos das quatro linhas da telinha e exerçamos nossa autonomia pedagógica, usando qualquer outro material didático que nos convier, menos as plataformas. 

Não podemos ser punidos por pensar, por questionar, por serem curiosos, afinal, é pra isso que um(a) professor(a) se forma. 

A pesquisa  “Plataformização da Educação”, realizada pelo Instituto Pesquisa de Opinião (IPO) para a APP-Sindicato só confirmou dados que já tínhamos certeza. Ela mostrou que, para 83% dos professores entrevistados, não houve melhorias de aprendizagem dos alunos, sobretudo no Ensino Fundamental.

Mostrou também que 72,3% das escolas não têm equipamentos suficientes para atender os alunos,  assim como acesso deficitário da internet. 

Por estes e outros motivos, Plataformas Zero! 

 

Edição: Pedro Carrano