Paraná

PERFIL DE LUTA

Marcilene Garcia de Souza ingressa na Secretaria de Educação Profissional Tecnológica (Setec)

Na luta por ações afirmativas, paranaense simboliza caminhada e conquistas do movimento negro nos últimos anos

Curitiba (PR) |
Aqui no MEC, me coloco à disposição para contribuir, pela minha condição de ativista do movimento negro, como mulher negra, pesquisadora, e também com experiência em gestão”. Fotografia por - Silvia Acácia

A socióloga Marcilene Garcia de Souza assume nesta semana cargo na Secretaria de Educação Profissional Tecnológica (SETEC), do Ministério da Educação (MEC). Trata-se de uma secretaria responsável pela formulação de políticas públicas para educação profissional e tecnológica.

Mulher negra, paranaense, doutora em sociologia e, atualmente professora do Instituto Federal da Bahia (IFBA), Marcilene é um dos principais símbolos, no Paraná e no Brasil, de uma geração que participou de duas décadas de lutas e conquistas para o movimento negro. Agora, tem como foco contribuir na formulação de políticas afirmativas e acesso à educação, no marco da educação profissional tecnológica.

“Como professora de Sociologia do IFBA, eu também assumi, desde 2020, a Diretoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis, responsável por políticas para população negra, indígena, quilombola, pessoas com deficiência, beneficiários por cotas, em um estado como a Bahia, que é enorme, interiorizando (a política pública), proporcionando o fortalecimento, principalmente dos grupos beneficiados por cotas”, aponta.

Dentro do Ministério da Educação, dirigido pelo ministro Camilo Santana, a Secretaria na qual a socióloga passa a atuar é a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) dirigida por Getúlio Marques Ferreira. A SETEC está ligada à Diretoria de Políticas e Regulação da Educação Profissional e Tecnológica, cuja à diretora é Patrícia Barcelos.
“Venho com esperanças pela crença no governo Lula, no avanço de políticas públicas que foram construídas e que deverão avançar. No período anterior, houve um retrocesso enorme, sobretudo no que diz respeito às desigualdades sociais. Aqui no MEC, me coloco à disposição para contribuir, pela minha condição de ativista do movimento negro, como mulher negra, pesquisadora, e também com experiência em gestão”, aponta.

Ela que, entre várias experiências, foi coordenadora geral de Ações Afirmativas da Secretaria Municipal de Igualdade Racial do Município de São Paulo, entre 2013 e 2014, durante a prefeitura de Fernando Haddad – pensando sempre, como indica, o significado da presença de negros e negras na administração pública. Atualmente, Marcilene cita como fato positivo a medida recente do governo Lula, que é a possibilidade de inserção de pessoas negras nos cargos em comissão na atual administração.

Lutas do movimento negro

A notícia da entrada da socióloga na SETEC traz à tona memória afetiva e histórica, inevitavelmente um balanço de importantes lutas sociais ocorridas no início dos anos 2000, conduzidas pela geração de Marcilene. Em Curitiba, então formada socióloga pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), participou ativamente de um momento de ebulição do movimento negro no estado.

Naquela época, o movimento Hip Hop pautava com força o chamado “quinto elemento”, que era a preocupação social, na voz de grupos como Consciência Suburbana, Artvistas, entre outros, que despontavam nas mídias. A luta pela aplicação da política de cotas na UFPR, no ano de 2005, contou também com o protagonismo de Marcilene. Junto a isso, os cursinhos pré-vestibulares para pessoas negras, criaram uma cultura de resistência importante na universidade, e todos esses espaços tensionavam o discurso de “capital europeia” que na época prevalecia na cidade.

Em 2010, produziu uma das primeiras teses de doutorado na Sociologia, sobre cotas para negros nos concursos públicos, tendo como foco o Paraná. A socióloga é autora ainda do livro didático Africanidades Paranaenses.

Marcilene acredita que todas as lutas daquela época ajudaram a criar uma narrativa alternativa para a cidade. Além disso, impulsionaram lideranças importantes, caso do atual deputado estadual, Renato Freitas (PT-PR).

Marcilene recebeu, no dia 19 de julho, homenagem da Secretaria de Estado da Mulher e Igualdade Racial do governo do Paraná – menção que ela socializa com a construção do movimento negro na cidade. “A homenagem que a mim foi feita na verdade é uma homenagem ao movimento negro, com sua metodologia que me despertou para a necessidade de mudança na sociedade. É uma homenagem aqueles e aquelas que já se foram na luta. E aos que resistem – estamos falando de persistência, de resistência”, reflete.

Institutos federais, e o acesso da população negra

A socióloga ressalta ainda a criação dos Institutos Federais, no ano de 2008, por iniciativa do governo Lula, enquanto espaço de qualificação aberto à classe trabalhadora em sua diversidade. “Uma potência no país do ponto de vista de levar excelência para aqueles que mais precisam, onde políticas públicas têm desafios de inclusão e permanência no mundo do trabalho, e de mudança de realidade”, afirma.

Com isso, em resumo, entre tantas caminhadas já feitas, na estrada da Educação, da justiça e da inclusão, Marcilene leva a Brasília os mesmos desafios que guiaram sua luta até aqui. “É fato de que venho me colocando a serviço do país nessa área, enfatizando as políticas para população negra, indígena, questão de diversidade, me colocando para contribuir com essas singularidades, com esses grupos afetados por injustiças históricas”, finaliza.
 

 

 

 

 

Edição: Lucas Botelho