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O programa das escolas cívico-militares não acabou e deve seguir sendo combatido

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Trata-se de movimentação muito semelhante à da falsa interrupção do Novo Ensino Médio (NEM), que pegou desprevenida boa parte da esquerda - Secretaria de Educação da Bahia
Governos do PR, GO e RS, já anunciaram a abertura de novas escolas ao longo do segundo semestre

1. No dia 12/07, o MEC editou o Ofício Circular nº 4/2023, que tem como objeto o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (PECIM). No entanto, uma política educacional de natureza autoritária, influenciada por importantes setores das forças armadas durante um governo militar como o de Bolsonaro, não se extingue por ofício circular. Ainda mais com seis breves parágrafos que não regulam em absolutamente nada os mecanismos da política.

2. O centro da medida está na "desmobilização de pessoal" e na "adoção gradual de medidas que possibilitem o encerramento do ano letivo dentro da normalidade". O que isso significa, em termos de política educacional? Nada. Ainda mais quando combinado com o trecho em que o ofício apresenta a responsabilidade pela medida de reintegração das escolas militares ao sistema regular (civil) de ensino: cabe às "Unidades Educacionais" fazê-lo.

3. Ao contrário de barrar algo, o documento preserva intacta a abertura de escolas cívico-militares nos estados. Governos do PR, GO e RS, por exemplo, já anunciaram a abertura de novas escolas ao longo do segundo semestre, investindo pesado, financeira e politicamente, na continuidade do programa.

4. Trata-se de movimentação muito semelhante à da falsa interrupção do Novo Ensino Médio (NEM), que pegou desprevenida boa parte da esquerda. Vejam o que temos, meses depois, no NEM: preservação total da política e, pior, seu aperfeiçoamento, com ampla participação de Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) e associações e fundações empresariais.

5. Política educacional é movimento, é luta de classes. Há sérios riscos em pautarmos nossas ações e avaliações por movimentações tímidas do executivo como portarias e ofícios circulares. Participação, aliás, ao que parece, hegemônica, mesmo com os setores progressistas tendo construído uma quantidade muito  maior e muito mais qualificada de propostas, ao longo da "consulta pública" sobre o NEM.

6. Políticas educacionais existem sob duas condições muito bem definidas. Primeiro: são reguladas por dispositivos jurídicos do Estado. Segundo: são produto de embates e disputas. Na vigência de um Decreto Federal (nº 10004/2019, assinado por Bolsonaro) e num contexto de permanência do movimento neofascista, inclusive governando estados da federação, nenhuma das duas condições parece ter sofrido qualquer mudança, ainda que sensível, com o Ofício Circular de 12 de julho.

7. A efetiva extinção do PECIM pressupõe a luta pela revogação, via decreto federal, do programa. Um novo decreto deve prever a articulação entre União e estados, apontando saídas concretas para a efetiva desmilitarização de todas as escolas sob influência do PECIM.

 

 

Edição: Pedro Carrano