Paraná

DEMOCRACIA EM FOCO

ARTIGO. O Congresso conservador é culpa do voto popular?

A classe capitalista dominante prefere, para manter seus privilégios, corromper a representação na Câmara

Curitiba (PR) |
Se a verdadeira proporção eleitoral prevalecesse, provavelmente Arthur Lira não passasse hoje de um obscuro deputado da minoria perdedora da eleição presidencial - Reprodução/Instagram

Muita gente se pergunta como é possível que a maioria dos trabalhadores e do povo tenha votado e eleito Lula, candidato do PT, à presidência do país, e, ao mesmo tempo, escolhido um Congresso tão à direita, dominado pelo nefasto Centrão, avesso aos interesses populares.

Alguns justificam certas atitudes conciliatórias de Lula, que vêm adiando ou contradizendo as promessas de campanha, devido ao fato de que foram os próprios eleitores quem colocaram no caminho de seu governo o obstáculo de uma maioria na Câmara dos Deputados vinculada e financiada pelas grandes oligarquias econômicas do país.

Onde está a razão deste desencontro entre o voto em Lula e a eleição de deputados na contramão das aspirações populares?

Está na grande maracutaia das regras de representação dos estados na Câmara dos Deputados.

A democracia pressupõe que cada homem ou mulher acima de 16 anos tenha direito a um voto para cargos executivos e legislativos. No caso da eleição para a Câmara Federal não é assim. Uma matéria no jornal O Estado de São Paulo, em 2010, questionava: “Por que o voto de um paulista que vive em Roraima vale 13 vezes mais do que um pernambucano que vive em São Paulo?”. E a matéria respondia sobre essa aberração: “É uma herança da ditadura, que aumentou suas bancadas [diminuindo o peso do voto de quem mora nos grandes centros urbanos - nota minha] para tentar barrar o crescimento da oposição no Congresso”. Essa distorção persistiu na Constituição de 1988.

A classe capitalista dominante prefere, para manter seus privilégios, corromper a representação na Câmara dos Deputados utilizando os “coronéis” da política dos menores estados – ligados a setores agrários e atrasados - a perder o controle com uma verdadeira democracia de um homem/mulher um voto para todo o país, onde pesaria a influência política de setores da classe trabalhadora, setores médios e populares mais organizados e politizados.

Se a verdadeira proporção eleitoral prevalecesse, provavelmente Arthur Lira não passasse hoje de um obscuro deputado da minoria perdedora da eleição presidencial. Enganam-se os que acham que já conquistamos a democracia no país.

 

*Editor, militante socialista e do Partido dos Trabalhadores (PT), escritor, autor de Lei de Responsabilidade Fiscal – Uma lei anti-social, entre outros livros em diversos gêneros.

--
Participe do nosso grupo de notícias:
https://chat.whatsapp.com/Bpo3CaCrm5yGjWnHPEZgE2

Edição: Pedro Carrano