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Vamos falar sobre a Venezuela?

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Petróleo da Venezuela S.A. (PDVSA) - Foto: IkerAlex10/Wikimedia
A democracia é analisada pela mídia liberal apenas sob viés formal e sequer representativo

1) O país vive um bloqueio econômico, o que deveria ser o fator central pra análise séria. Mas a mídia liberal insiste na tese de 'ditadura' responsável por todos os problemas. Desconsideram a participação popular, mais de 25 eleições, plebiscitos e consultas à população no período dos governos bolivarianos.

2) Desde 2015, a ofensiva do governo dos EUA contra o país se intensificou, com o decreto do governo Obama classificando a Venezuela como país inimigo, passando pelo bloqueio econômico completo do governo Trump, em 2019, chegando até barricadas e violência conduzidas pela oposição venezuelana, as chamadas “guarimbas”.

3) Analistas liberais não abordam todas as sanções e intervenções internacionais contra o país, intensificadas entre os anos de 2015 e 2019: expropriação de reservas internacionais, subsidiárias da petroleira estatal PDVSA e de fábricas instaladas na Colômbia de Álvaro Uribe, que ao longo de anos serviu de cabeça de ponte dos EUA para o assédio contra o país. 

4) Dito isso, porém, a democracia é analisada apenas sob viés formal e sequer representativo. Vide o papel que o poder legislativo tem cumprido nos países latino-americanos, submetido ao neoliberalismo e contra os direitos da população. Sobre a Venezuela, nenhuma palavra é dita sobre direitos que foram conquistados e que, sem intervenções estrangeiras, teriam forte impacto nas condições de vida do povo. Até 2019, o programa Misiones Vivienda (Moradias) entregou algo próximo a dois milhões e 800 mil casas - para um povo de 28 milhões de pessoas.

5) Desconsideram também as conquistas de acesso a gás, combustível, energia elétrica, educação pública, saúde, com apoio de Cuba, transporte público. É fato que a inflação e a crise impactam os trabalhadores. Ao mesmo tempo, em que condições vivem os migrantes no Brasil? Muitas vezes vivendo em áreas de ocupação e sujeitos a empregos precários.

6) Sobre a democracia, nenhuma palavra sobre o papel que as Comunas cumprem, com parlamentares próprios, criando nos bairros e morros efetiva participação e gestão da produção, buscando alternativas populares em meio à crise, pressionando e exigindo políticas públicas do Estado. O bloqueio econômico afeta essas pessoas, no campo e cidade, no acesso a insumos.

7) Tudo isso então exigiria análise, leitura e conhecimento de campo, o que muitos analistas, falando de Washington, Buenos Aires ou São Paulo, não se arriscam. Estive no país em dois momentos, em 2006 e 2019. E posso atestar que o povo venezuelano têm direito à sua soberania, sem intervenções externas por parte do governo dos EUA e desestabilização permanente.

8) Os analistas que a classificam como ditadura ao mesmo tempo são omissos e relativizam as invasões e tentativas de golpes promovidas pelos EUA nos últimos vinte anos. Tentativas de golpe na América Latina e invasões diretas da OTAN no norte da África, Oriente Médio e agora mantendo a guerra na Europa.

9) Devemos saudar a iniciativa do governo Lula à retomada da integração latino-americana, incentivando o papel da Venezuela, que sempre incentivou e foi protagonista nesses espaços.

10) Trata-se de um povo informado, com muito acesso a livros e iniciativas culturais e de memória, variedade de veículos e canais midiáticos, inclusive na TV aberta, e com uma mídia internacional plural como a Telesur. Um povo politizado, consciente dos problemas e dificuldades, mas disposto a apoiar Maduro e defender a revolução bolivariana. A iniciativa de Lula coincide com a retomada das relações da Venezuela com a Colômbia e superação do país do momento mais grave de crise econômica.

Edição: Lucas Botelho