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Tom Zé, representante da Geografia na música popular brasileira

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Companheiro de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, Tom Zé revolucionou a música popular brasileira a partir da década de 1960
Companheiro de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, Tom Zé revolucionou a música popular brasileira a partir da década de 1960 - Divulgação
A letra retrata uma visão crítica sobre o processo de urbanização acelerada

Tom Zé, cujo nome completo é Antônio José Santana Martins, é um cantor, compositor e músico brasileiro nascido em Irará, Bahia, no dia 11 de outubro de 1936.

Ele é conhecido por sua contribuição significativa para a música popular brasileira, especialmente por sua abordagem experimental e inovadora na composição e performance musical.

Ao longo de sua carreira, Tom Zé desempenhou um papel importante no movimento da Tropicália, que emergiu na década de 1960 no Brasil. Esse movimento buscava renovar a música brasileira, mesclando influências da cultura popular, da música estrangeira e da vanguarda artística. Tom Zé fez parte do álbum "Tropicália ou Panis et Circencis" (1968), considerado um marco dessa época.

Esse personagem da cultura brasileira se soma às discussões dentro da Geografia brasileira, e quiçá pode ser chamado de representante da geografia na música popular brasileira.

Em sua música “Augusta, Angélica e Consolação” de 1973, o cantor e compositor aborda temas relacionados à urbanização e à transformação da cidade de São Paulo. Esses nomes se referem a três importantes ruas localizadas na região central de São Paulo. Essas ruas têm um significado histórico e cultural para a cidade, sendo conhecidas por sua vida noturna, com bares, casas de shows e movimento artístico.

A letra retrata uma visão crítica sobre o processo de urbanização acelerada e as mudanças sociais que ocorreram ali naquele espaço e em toda a cidade. Tom Zé aborda questões como a descaracterização dos bairros, o crescimento desordenado, a especulação imobiliária e a perda de identidade cultural, processo este que só pode gerar a aflição dos paulistanos, e como cantado:

Quando eu vi que o largo dos aflitos

Não era bastante largo pra caber minha aflição

Eu fui morar na Estação da Luz

Porque estava tudo escuro

Dentro do meu coração

(Augusta, Angélica e Consolação de 1973, Tom Zé)

Outra música parecida com a situação descrita acima e que possui total relação com a geografia e o urbano é “A Briga do Edifício Itália com O Hilton Hotel”, de 1972, que aborda um episódio real que ocorreu em São Paulo sobre uma suposta briga entre esses dois edifícios, personificando-os como entidades que travam uma disputa.

O Edifício Itália, representando a arquitetura e história da cidade, questiona a construção do Hilton Hotel, simbolizando o avanço da globalização e do capitalismo. E Tom Zé utiliza a metáfora dessa "briga" entre os edifícios para expressar críticas à descaracterização da cidade, ao processo de gentrificação, à influência do capital estrangeiro e à perda de identidade cultural, conforme descrito logo no início da canção:

O Edifício Itália

Era o rei da Avenida Ipiranga

Mas apareceu agora o prédio do Hilton Hotel

Ninguém chegava perto da sua grandeza

Mas apareceu agora o prédio do Hilton Hotel

Grasioso, moderno e charmoso

Roubando as atenções da sua beleza

(A Briga do Edifício Itália com O Hilton Hotel” de 1972, Tom Zé)

E mais ainda, em sua canção “Botaram tanta fumaça” o cantor e compositor consegue apresentar as questões urbanas e todos os problemas atrelados a ela. Lançada em 1973, a canção faz quase que uma retrospectiva das metrópoles do Brasil e mundo afora, incluindo suas questões ambientais.

E, segundo o cantor, de tanto botar lixo na cidade, ela está com a consciência podre. Uma metáfora rápida que podemos fazer é a de que, de tanto botar liberalismo na metrópole ela está ficando alienada, e aí podemos observar os resultados desse processo nas canções já discutidas anteriormente, os conflitos sociais.

E no dia 29 de maio, dia do Geógrafo e da Geógrafa, trago Tom Zé como um geógrafo popular para parabenizar todos estes profissionais da mesma categoria que eu.

E também mostrar que a geografia está no nosso cotidiano, e nesta situação das três músicas, de maneira muito nítida, trabalhando com os processos estudados e pesquisados pela geografia urbana, cultural, industrial, dentre muitos outros eixos que fazem parte desta grande ciência que é a Geografia.

As músicas de Tom Zé e suas abordagens artísticas refletem as complexidades e diversidades geográficas do Brasil.

Edição: Pedro Carrano