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Deputados cearenses reagem a tentativa de criminalização do MST na Assembleia Legislativa

As acusações ao Movimento fazem referência a promoção da agricultura familiar na IV Feira Nacional da Reforma Agrária

Fortaleza, Ceará |
4ª Feira Nacional da Reforma Agrária reuniu mais de 320 mil pessoas em um espaço com comida saudável, livre de veneno e com alimentos produzidos em diversas partes do Brasil. - Guilherme Gandolfi

Deputados estaduais saíram em defesa do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) do Ceará e do Governo do Estado durante a sessão no plenário da Assembleia Legislativa, nesta quarta-feira (24). 

Na tribuna da casa, o deputado de oposição Felipe Mota (União Brasil) criticou a celeridade do convênio assinado entre a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) e o MST para a liberação de recursos no valor de R$ 1,5 milhão, em forma de patrocínio para que os agricultores participassem, expondo seus produtos, durante a tradicional Feira da Reforma Agrária que aconteceu entre os dias 11 e 14 de maio, em São Paulo. 

O deputado estadual Renato Roseno (Psol) foi o primeiro a sair em defesa da SDA e do MST. O parlamentar, que esteve na 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, enfatizou a importância do evento que reuniu mais de 320 mil pessoas em um espaço com comida saudável, livre de veneno e com alimentos produzidos em diversas partes do Brasil. 

Renato Roseno também lembrou que é comum o  Estado incentivar a realização de feiras e exposições, seja a Marcha para Jesus, ou a participação do estado em Roterdã, na Alemanha, para divulgar a fruticultura cearense. “Porque não é legítimo o camponês, o assentado da reforma agrária ter a sua feira? O Deputado Felipe pode até discordar da decisão tardia, mas nós mesmos, no apagar das luzes do ano passado, patrocinamos a Marcha para Jesus, no mesmo trâmite e ninguém discordou dessa decisão”, questionou o parlamentar.

O deputado Júlio César (PT) também se pronunciou em favor do Movimento e do Governo do Estado. O parlamentar divulgou os números alcançados pela Feira Nacional da Reforma Agrária que contou com a participação de 1700 feirantes e 191 cooperativas que levaram para São Paulo cerca de 560 toneladas de produtos. “Um reconhecimento nacional e internacional. Uma oportunidade de expor nossos produtos cearenses. Agora querem fazer política com o patrocínio legal, justo, com os documentos tramitados, assinados, o trâmite perfeito, feita de forma correta. O que há de errado nisso? Crime é levantar falso testemunho”, ressaltou o deputado.

Na tribuna, o líder do governo na Assembleia,  Deputado Romeu Aldigueri (PDT), afirmou que não há nada de errado no trâmite do convênio assinado pelo titular da SDA, Moisés Braz, e lembrou que ainda não houve o repasse do recurso.  O que nós temos aqui é o patrocínio (para participação) de uma feira nacional da reforma agrária que envolve mais de 320 mil pessoas. O Estado sequer fez o aporte orçamentário e ainda não pagou esse patrocínio justo, legal, assim como também patrocinamos a feira da Faec e outras feiras pecuárias de agricultores rurais, o que é legítimo também”. 

CPI do MST

Os ataques ao MST no Ceará por parlamentares apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, acontecem no mesmo momento em que tentam criminalizar o Movimento por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Câmara dos Deputados. 


O MST Ceará participou da Feira Nacional da Reforma Agrária com 40 toneladas de alimentos produzidos em todas as regiões do estado / Matheus Alves

O Deputado Estadual Missias do MST, representante dos camponeses e assentados cearenses na Assembleia Legislativa do Ceará, emitiu uma nota defendendo a “legítima  participação dos agricultores e agricultoras familiares dos assentamentos”. O parlamentar ressaltou que não “existe nenhuma ilegalidade” no apoio institucional à reforma agrária do Ceará. “Da mesma forma que o Estado financia o agronegócio em feiras internacionais, também deve promover a produção de alimentos saudáveis dos camponeses e camponesas de todo o Brasil”, diz o texto.

Também por meio de nota, a SDA comunicou que o contrato assinado “cumpriu todos os requisitos legais previstos na Lei Estadual nº 16.142/2016, que trata sobre a política de patrocínio da Administração Pública do Estado do Ceará”. Disse ainda que antes da formalização do contrato, “foi feita uma análise técnica com previsão de dotação orçamentária para amparar a despesa prevista e que no final haverá a devida prestação de contas e análise detalhada da execução do projeto”.

O MST Ceará também se manifestou. Em nota, o Movimento Social repudiou os ataques sofridos na Alece por "deputados estaduais que não tem compromisso com o povo". O texto assinado pela Coordenação Estadual Ceará, informa que o MST Ceará esteve no Parque Água Branca em São Paulo, com 2 caminhões de produtos, somando mais de 40 toneladas vindos diretos de assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária de todas as regiões do estado." Afirmamos sempre o nosso compromisso em produzir alimentos saudáveis e garantir comida na mesa de quem mais precisa. Não há ilegalidade em qualquer governo apoiar a agricultura familiar camponesa, que é quem de fato produz mais de 70% da comida que vai para a mesa da população brasileiro".

Dados da Feira Nacional da Reforma Agrária

Além dos números já citados pela reportagem, durante a Feira Nacional da Reforma Agrária 500 toneladas  de alimentos orgânicos de todo o Brasil foram comercializados, assim como mais de 80 mil refeições foram servidas no polo Culinária da Terra para promover a cultura alimentar camponesa. Para semear a solidariedade, 38 toneladas de alimentos foram doados a organizações à comunidades de São Paulo, e para fazer brotar, 880 kg de sementes e 20 mil mudas foram distribuídas em São Paulo para construir o Espaço do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”.

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Edição: Camila Garcia