Está no Relatório do Formulário Anual 20-F encaminhado à Bolsa de Valores de Nova York: “O Estado do Paraná tem o poder de controlar todas as nossas operações, incluindo o poder de eleger a maioria dos membros do nosso Conselho de Administração e determinar o resultado de ações que requerem a aprovação de acionistas ordinários”.
É dentro desse poder de definir e vetar que o governador Ratinho Junior (PSD) indicou os diretores da Copel e ainda estabeleceu o salário que eles ganhariam anualmente. E não estamos falando de pouco dinheiro. Em apenas três anos (2020 a 2022), o salário dos diretores somados passou dos R$ 25 milhões. Apenas o maior salário, do CEO da Copel, Daniel Pimentel Slaviero, bateu em R$ 879,2 mil anuais, mais de R$ 70 mil por mês.
Apenas para o exercício encerrado em 31 de dezembro de 2022, “o valor total da remuneração paga por nós aos membros do nosso Conselho de Administração, Diretoria Executiva e Conselho Fiscal foi de R$ 8,6 milhões, dos quais 68,1% foram para nossa Diretoria Executiva, 14,5% foram para nosso Conselho de Administração, 9,5% para nossos comitês e 7,9% para nosso Conselho Fiscal, conforme aprovado em nossa 67ª assembleia geral ordinária realizada em 29 de abril de 2022”, diz o documento protocolado em Nova York.
E o faturamento deve aumentar para este ano, quando o governador Ratinho Junior, que dá as cartas na Copel por meio dos seus indicados políticos, aprovou valor ainda maior para o pagamento do Conselho de Administração, Diretoria Executiva e Conselho Fiscal, conforme proposta da administração para a 206ª Assembleia Geral Extraordinária e 68ª Assembleia Geral Ordinária. “Para 2023, atendendo à Resolução CVM nº 81/2022, informamos que o Acionista Majoritário deverá propor o limite global anual de até R$ 11.386.806,44 (onze milhões, trezentos e oitenta e seis mil, oitocentos e seis reais e quarenta e quatro centavos)”, diz o documento.
Milionários versus proletários
O valor pago à diretoria contrasta em muito com a remuneração dos funcionários da Copel. Dos cerca de 6 mil empregados, mais da metade (3.135 funcionários) recebem menos de R$ 7,5 mil mensais. Ou R$ 90 mil por ano. Valor bem diferente do que afirmaram os deputados estaduais Homero Marchese (REP) e Galo (PP), em uma “fake news” sobre salários dos trabalhadores para votarem a favor da venda da Copel. Mentira que trouxe novamente à tona o fato de que, além dos salários milionários, o prêmio por metas da diretoria está muito acima do pago aos funcionários.
Causa espanto, por outro lado, que os nobres deputados acima citados não tenham ladrado quando houve a divulgação de que o presidente da Copel e seus diretores receberam bônus que chegaram a mais de R$ 400 mil em meio à pandemia de Covid-19”, disse o Coletivo da Copel.
O valor exorbitante que aparece no Formulário Anual 20-F é reflexo de uma “regra simples” criada pelo CEO para o pagamento do PPD (Prêmio de Desempenho). A fórmula foi implementada em 2021 para os funcionários, mas era paga à diretoria desde 2019. Nela, o PPD paga mais para os diretores em uma ponta, enquanto reduz o valor pago aos funcionários – em comparação ao abono – em outra. O modelo é injusto porque cria uma desigualdade de remuneração ainda maior na hora de distribuir os faturamentos. Para a diretoria, ao atingir a meta, são pagas seis remunerações a mais. Os superintendentes recebem mais quatro remunerações. Os empregados, apenas 1 remuneração.
Diretoria da Copel tem ações da empresa
De acordo com o relatório, um diretor e um membro do Conselho Fiscal detinham, direta ou indiretamente, menos de 1,0% de ações da empresa. As ações são das categorias Classe B e Units. Apenas um diretor detém 33.300 de ações Classe B e 17.100 Units. Isso equivale a aproximadamente R$ 929 mil.
Edição: Frédi Vasconcelos