Paraná

PROFESSORES EM LUTA

OPINIÃO: APP-Sindicato, 76 anos lutando pela escola pública paranaense

Nada nos impediu de lutarmos e seguirmos em frente, mesmo nos piores cenários políticos estaduais

Curitiba (PR) |
seguirmos em frente, mesmo nos piores cenários políticos estaduais (as eras Lerner, Richa, Ratinho) - APP Sindicato

Década de 1940 em Curitiba: tínhamos cerca de 170 mil moradores em seis distritos. Muitos moradores trabalhavam em serralherias e engenhos de erva-mate ou em chácaras familiares para abastecer a população local, que se  emocionava com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em Casablanca, num dois oito cinemas da capital , divertia-se  no Cassino do Ahú ou fazia o "footing"  no Passeio Público aos finais de semana.

Ouviam-se os jogos de futebol (Atletibas) ou as corridas de cavalo do Prado do Guabirotuba, na rádio PRB2. Era a era de ouro do rádio: Emilinha Borba, Nelson Gonçalves, Aracy de Almeida cantavam os "hits" do momento.  Os jovens amigos Poty Lazzarotto e Dalton Trevisan lançam a Revista Literária Joaquim.  Já sobre a segunda Guerra Mundial, quase nada se sabia ou se fazia de conta não saber.

Ainda era a época dos temidos exames de admissão e as curitibanas tinham no Instituto de Educação do Paraná seu ingresso no magistério, já  que  ali era o ponto alto da formação de nossas normalistas.  Nesse período (1942-1946) tivemos a “Reforma Capanema” que reestruturava e regulamentava todos os níveis de educação que eram ofertados à população brasileira. Surgiram dois ciclos educacionais: o ginasial (quatro anos de duração) e o colegial (três  anos de duração) que se organizaram desta maneira até nossa primeira LDB (Lei 40.24/61) em 1961.   

Diante destas mudanças estruturais e de novas ofertas de ensino, inclusive com uma demanda para cursos técnicos de Comércio (formando secretárias, datilógrafas, recepcionistas e contabilistas); um agrupamento de docentes do Colégio Estadual do Paraná e do Instituto de Educação  criam a Associação dos Professores do Paraná em 26 de abril de 1947.

Nesta época, havia um excesso de  professoras e professores na capital do estado, em detrimento do interior. Éramos uma categoria que crescia e não possuíamos sequer um plano de carreira. Neste mesmo ano surgiu uma Campanha Nacional de Alfabetização, mas poucos eram os que se aventuram a lecionar no interior do estado, devido às precárias condições de trabalho e de salário. Neste cenário, fazia-se fundamental organizar a categoria para que uma educação efetiva fosse ofertada à população e, sobretudo para que tivéssemos garantias empregatícias. Vejamos apenas alguns números da época:  o Brasil contava com 50 milhões de habitantes;  destes, tínhamos quase 50% da população acima de 15 anos, analfabeta (15 milhões) e o Paraná correspondia a, algo em torno de, 4% dos habitantes do país  (1.240.000 pessoas) . 

Os desafios eram imensos e a carreira do magistério ainda se revestia na mística do amor, dom, doação e missão de vida, sem serem levadas em consideração as questões essenciais da profissão: formação, carreira, salário, condições de trabalho.

Muitas foram as lutas nestes 76 anos para estruturarmos nossa carreira que, a partir de 1997, passou a contar também com os funcionários e funcionárias de escola. Tivemos   greves gerais (foram 14), paralisações, atos públicos, marchas, conferências, congressos assembleias, milhares de campanhas.

Houve perseguições à entidade, sobretudo na época da ditadura militar e, para pudéssemos sobreviver, ocorreram reestruturações internas. Também houve erros, desacertos, mas nada nos impediu de lutarmos e seguirmos em frente, mesmo nos piores cenários políticos estaduais (as eras Lerner, Richa, Ratinho). Sobrevivemos e somos hoje, um dos maiores sindicatos do país, atuando em todas as frentes sociais, já que a educação é plural e, a cada dia, a escola desempenha novos papeis no tecido social.

Parabéns não só à nossa entidade que completa 76 anos de existência , mas também   aos 60.813 sindicalizados e sindicalizadas que  fazem parte da nossa história!!!

*Secretária Executiva de Comunicação da APP Sindicato

Edição: Pedro Carrano