Ceará

Luta indígena

Indígenas do Ceará participam de mobilização nacional Acampamento Terra Livre, em Brasília

A expectativa é que o presidente Lula também participe do evento e faça a homologação de alguma Terra Indígena

Brasília (DF) |
Em 2023, o evento completa dezenove anos e reúne mais de 6 mil indígenas de todo o país, segundo a organização. - Foto: Roberta França

Você já imaginou encontrar um lugar com uma amostra de todas as culturas indígenas do Brasil? Um lugar onde a diversidade de discussões políticas, línguas, pinturas, rostos, artesanatos, danças e cantos de todos os povos do país se encontram? Esse lugar existe, se chama Acampamento Terra Livre (ATL), a maior mobilização nacional dos povos indígenas do país e acontece todo ano, em abril, para marcar as celebrações do Abril Indígena. Quem organiza o evento é a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Em 2023, o evento completa dezenove anos e reúne mais de 6 mil indígenas de todo o país, segundo a organização. O ATL começou no último dia 24 e segue até o dia 28 de abril e tem como tema “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação não há democracia!”.

Os quinze povos indígenas articulados no movimento do Ceará também participam do ATL 2023. Neste ano, a delegação do estado trouxe quatro ônibus e uma van com cerca de 300 indígenas das etnias Anacé, Gavião, Karão, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Kariri, Pitaguary, Potiguara, Tapeba, Tabajara, Tapuia-Kariri, Tremembé, Tubiba-Tapuia e Tupinambá.


O ATL começou no último dia 24 e segue até o dia 28 de abril e tem como tema “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação não há democracia!”. / Foto: Roberta França

Para Adriana Tremembé, coordenadora da Federação dos Povos Indígenas do Ceará (Fepoince), a articulação das lideranças indígenas e o apoio das instituições, como a Adelco, a Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME) e o Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese de Fortaleza (CDPDH), foi fundamental para a ida da delegação cearense. "Chegando aqui a gente faz toda essa coletividade das refeições, de estarmos juntos, então tem um gasto muito grande, por isso que é importante a parceira, os apoios, os projetos. Isso nos ajuda demais!", defende a liderança. 

Neste ano o ATL trouxe uma cozinha organizada pelo MST, mas as delegações podem construir sua própria estrutura para o preparo das refeições. Uma grande tenda se arma para receber as barracas e dar um pouco de proteção climática.

A programação do ATL conta com mais de 30 atividades divididas em cinco eixos temáticos, sendo eles: Diga o povo que avance; Aldear a Política; Demarcação Já; Emergência Indígena e Avançaremos. Lideranças nacionais, secretários de governo de todo o país e ministros, como a Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, Ministra do Turismo, Daniela Carneiro, Secretário da Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, o cearense Weibe Tapeba, dentre outras autoridades participaram do ATL. O DJ Alok foi outra personalidade que passou pelo evento e fez um show exclusivo para os indígenas na primeira noite cultural.

A expectativa de todas as delegações é que o presidente Lula também participe do evento nesta sexta-feira (28), e que faça a homologação de alguma Terra Indígena (TI) que já está aguardando sua assinatura. Adriana Tremembé fala da ansiedade do movimento do Ceará por este anúncio. "Estamos aqui com toda essa dificuldade, mas também com a esperança de conquistar alguma homologação", destaca. A demarcação das TIs é a principal bandeira de luta dos povos indígenas, por isso a ansiedade para o anúncio do presidente. Além destas, a delegação cearense traz outras pautas para o acampamento. A liderança Tremembé explica: "uma das pautas importantes que a delegação do Ceará traz para esta edição do ATL é a denúncia contra a especulação imobiliária, a mineração e também a instalação dos parques eólicos nas Terras Indígenas".

Cacique Irê, secretária da Secretaria dos Povos Indígenas do Governo do Estado do Ceará (Sepince), participou da mesa "Parentíssimos e Parentíssimas: autoridades indígenas no Movimento e no Governo" e destacou: "é com muita alegria que estamos ocupando estes espaços, mas também reverenciando sempre nossos idosos guardiões, sempre reverenciando nossa luta. Estamos aqui pelos que nos antecederam, mas também pelos que virão", contou.

Ainda sobre o cenário político, Cacika Irê, destacou o novo tempo que passa o país. "Este ano podemos ter um pouquinho de esperança. Enquanto indígenas que somos, estamos sabendo reconstruir a política deste país. Mas para que a política seja reconstruída, nós, enquanto indígenas, precisamos não só mais ser os telespectadores, mas também estar dentro desta política".


Para Adriana Tremembé, coordenadora da Fepoince, a articulação das lideranças indígenas e o apoio das instituições foram fundamentais para a ida da delegação cearense. / Foto: Roberta França

Bancada do cocar

Dentro da programação do ATL, a Deputada Federal, Célia Xakriabá (MG), realizou uma Sessão Solene na Câmara dos Deputados, no último dia 24 de abril, em homenagem à 19ª edição do Acampamento Terra Livre.

Jorge Tabajara, secretário executivo da Sepince e advogado do Escritório de Advocacia Popular Indígena Ybi, esteve na sessão e nos contou sobre a emoção de presenciar a atuação da bancada do cocar. "Ter essa oportunidade de participar de uma audiência no Congresso com a presidência de uma parenta indígena, foi uma alegria para nós", relata Jorge. Célia aproveitou o momento para expor as principais bandeiras de luta dos povos indígenas. "A gente continua na luta também contra todos aqueles projetos de destruição, de mineração, o avanço do agronegócio nos territórios indígenas. Também tivemos a oportunidade de abordar a situação do Marco Temporal que, para nós, povos indígenas, é o julgamento do século e já tem data marcada para acontecer", acrescenta Jorge.  
 
O Marco Temporal diz respeito à ação do Supremo Tribunal Federal, que defende que povos indígenas podem reivindicar terras onde já estavam no dia 5 de outubro de 1988, dia que entrou em vigor a Constituição Brasileira. O movimento indígena é contra esta decisão pois muito atrapalha a política de demarcação de terras indígenas.

*Especial para o Brasil de Fato

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Edição: Francisco Barbosa