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Educação

Para professoras de Curitiba, rede municipal vive o pior cenário que já enfrentaram

Turmas que deveriam ter entre 20 e 25 alunos chegam a 35 ou mais. Salários são baixos, faltam professores e estrutura

Curitiba |
Além da falta de pessoal e turmas lotadas, há deficiência na estrutura das escolas - Divulgação _ professores

Em Curitiba foi debatido e implantado o Plano Municipal de Educação, na Conferência Municipal de Educação, em 2014. Dentre suas diretrizes, a cada três anos as cidades deveriam realizar novo encontro para avaliar o cumprimento das metas. O que não ocorre na gestão de Rafael Greca. Para educadores, isso refletiu na falta de planejamento e no desmonte da educação pública municipal. Além disso, para professoras ouvidas pela reportagem do BDF-PR, o atual cenário é o pior que já viveram. Defasagem salarial, aumento de número de alunos e turmas associado à falta de professores, desvalorização profissional, com a paralisação dos planos de carreira, falta de profissionais para atendimento de inclusão, desmonte da educação integral e descaso com a estrutura física das escolas estão entre os problemas.


Uma professora, que não quis ser identificada, disse à reportagem que nunca viveu, em seus mais de 15 anos no magistério, situação como a atual. “As maiores dificuldades estão na falta de professores. Começaram os contratos PSS (professores temporários, n.r.) e muitos já chegam desmotivados”, diz.

Segundo dados do sindicato dos professores municipais, SISMMAC, o ano de 2023 começou com um dos maiores déficits de professores. De 2017 para cá, se aposentaram 3.128 professores, e segundo o Portal da Transparência, hoje há 2.700 professores a menos do que o número necessário nas unidades educacionais. E de 2016 a 2022 não houve concursos públicos.


Ângela Maria de Castro, professora na rede municipal há 27 anos, destaca que hoje Curitiba é também uma das cidades que paga os menores salários. “Não temos um plano de carreira e há defasagem salarial de mais de dez anos. Curitiba é uma das cidades que menos paga, o que leva muitos professores a fazerem concurso em outras cidades”, explica. Para ela, a situação fica ainda mais complicada com o aumento de número de alunos por sala autorizado pela secretaria de educação. “Temos um gargalo na educação infantil, que é onde precisa ter um espaço adequado, estrutura e condições humanas para as crianças. A política adotada pela Prefeitura é aumentar ainda mais o número de alunos e turmas. Tem profissional sozinha nas turmas, que deveriam ter também auxiliar, tem alunos de inclusão etc.”

O Plano Municipal de Educação definiu que o limite de estudantes por profissional e por turma seria, na educação fundamental séries iniciais, de até 20 por turma. No ensino fundamental séries finais, até 25. Porém, a secretaria aumentou para 35 e 38 crianças, respectivamente.

Educação Integral sem qualidade


E os problemas vêm se agravando na educação integral, o chamado “tempo ampliado”. “Iniciei minha trajetória numa escola integral. Esse nome foi mudando ao longo dos anos. Conforme a gente vai estudando a educação integral, sabe que esses significados não atingem a educação de uma forma ampla na rede municipal de ensino. As crianças deveriam ter um tempo de qualidade, que desenvolvessem suas habilidades em toda a sua plenitude, mas não podemos ter isso porque nas escolas de Curitiba faltam profissionais, não tem estrutura,” diz Ângela.


Já para outra professora (que não quis ser identificada), o sentimento é de frustração. “Educação integral é a gente trabalhar numa proposta que permita o protagonismo das crianças. Hoje, o que temos são turmas muito lotadas, como nunca visto antes. Fica impossível fazer o atendimento individualizado e várias outras atividades. Temos uma legislação que determina número de alunos por turma, que não está sendo cumprida”, diz.


Segundo o SISMMAC, há, além da falta de profissionais, improvisação de refeitórios em várias escolas, ausência de saída de emergências e espaços alternativos para atividades das crianças, que ficam dentro da escola por mais de 8 horas. Para Diana de Abreu, presidente do sindicato, houve total falta de planejamento da gestão Greca. “Apressou-se, neste ano, a fazer a implementação do ensino em tempo ampliado e abriram-se vagas nos CMEIS. Fez isso na urgência, sem ter planejado a estrutura física, material e profissional. Temos nesses CMEIS crianças pequenas sem banheiros adaptados, refeitórios adequados, mobiliário e espaços suficientes. É uma gestão que age na urgência, com ausência de planejamento”, afirma Diana.

Descaso


Para a pedagoga Milaine Alves Barszcz, que está há 19 anos na rede municipal de Curitiba, a atual situação revela descaso da Prefeitura. “Os professores sempre sofreram com os governantes frente à desvalorização profissional, no entanto, o que ocorre atualmente é a mais intensa desconstrução da educação pública, é o sucateamento da escola. Atualmente as unidades educacionais de Curitiba são depósitos de crianças e estudantes, os poucos profissionais que ainda resistem tentam fazer a diferença, mas estamos sendo engolidos pela má vontade do prefeito e demais governantes”, analisa.

Outro lado


Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação da Prefeitura enviou a seguinte resposta, que segue publicada na íntegra:
O trabalho de contratação de professores é permanente no município. Somente este mês, a Prefeitura de Curitiba contratou em duas semanas 641 professores que foram classificados para o processo seletivo simplificado (PSS) e tiveram a sua documentação e comprovação de experiência profissional validada pela banca examinadora formada por técnicos da Secretaria da Administração e Gestão de Pessoal e da Secretaria da Educação. Os contratados começaram a trabalhar nas unidades distribuídas por todas as regionais da cidade, de acordo com a necessidade indicada pela Educação. Foram contratados 336 profissionais do magistério (Docência I) e 305 professores de Educação Infantil. Também estão chamados os concursados. Mais detalhes: https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/prefeitura-de-curitiba-faz-convocacao-de-candidatos-aprovados-no-concurso-publico-de-2022/67717

Edição: Frédi Vasconcelos