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Anielle Franco na lista da 'Time': o protagonismo de uma mulher negra pelos direitos humanos

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Durante a posse da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi sancionada a lei que tipifica a injúria racial como racismo
Durante a posse da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi sancionada a lei que tipifica a injúria racial como racismo - Sergio Lima / AFP
Para mudar a nossa história, é fundamental que tenhamos espaço e protagonismo

Março, mês da luta feminista, começou com uma notícia importante para as mulheres: a revista Time elegeu Anielle Franco como uma das 12 lideranças mais influentes do mundo.

O protagonismo de Anielle sinaliza um avanço não só para nós, negras, mas para a sociedade como um todo. Como defendeu Angela Davis, filósofa norte-americana, “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura se movimenta com ela” e Anielle, que exerce protagonismo em seu ativismo pelos direito humanos, na literatura, na comunicação social, e agora enquanto ministra da Igualdade Racial, é mais uma, entre tantas provas concretas do que defendeu Davis! 

Desde o brutal assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018 (RJ), Anielle tem sido uma voz poderosa na luta por justiça e tem trabalhado incansavelmente para manter vivo o legado de Marielle, cuja trajetória política inspirou mulheres de todas as classes, lugares e grupos étnicos, mas especialmente aquelas que, como eu: negra, LBT e periférica, não se reconheciam nos espaços de decisões.

E como a sociedade ganha quando isso acontece? Explico: Quando mulheres negras estão em espaços decisivos, como é o caso de Anielle Franco, novas perspectivas e experiências são postas à mesa de discussão e as políticas e ações são mais inclusivas e equitativas, promovendo mudanças para parcelas esquecidas e negligenciadas e que, por consequência, levam desvantagem frente a outros grupos.

Quem não se lembra da frase: “É difícil trazer mulheres negras para Brasília”, declaração da ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), para justificar a ausência  de diversidade racial em sua equipe.

Na sequência do episódio, foi Anielle quem criou um banco de talentos com mulheres negras tecnicamente capacitadas e dispostas a atuarem no ministério em questão. E é sobre isso: em um país onde praticamente a metade da população é negra, quando não se governa para todas as pessoas o que resta é, deliberadamente, a vontade de exclusão. 

O gesto de Anielle foi, na verdade, um enfrentamento educativo aos estereótipos e ao racismo manifestados por Tebet e enraizados na cultura de todo um povo. E esse gesto nos diz muito porque ele considera o que está sendo excluído e não desconsidera o que exclui, mostrando que existem caminhos quando se olha para todas as pessoas com integridade.

A importância de Anielle está, justamente, nessa capacidade de ampliar vozes e articular diferentes grupos, impulsionar o debate de pautas e mobilizar em torno de problemas que afetam diretamente a segmentos marginalizados e invisibilizados. Se esses grupos ganharem, ninguém sai perdendo. Compreende a lógica?

Além disso, o fato de uma brasileira negra ser reconhecida por uma publicação de alcance global como a TIME, amplia a visibilidade da luta contra a violência policial e o contra o racismo no Brasil, pois é representante de pessoas que enfrentam diariamente a discriminação e o preconceito, sentido por peles pretas e sub-representadas tanto na mídia quanto na política. 

Esse reconhecimento também nos mostra que a lutas das mulheres, especialmente negras, indígenas e quilombolas está ganhando eco e trazendo uma nova perspectiva de protagonismo e diversidade contra as barreiras do preconceito. No entanto, apesar dos avanços e da ampliação da nossa voz, ainda há muito a ser feito contra uma violência que é sistêmica.

É preciso combater opressões como o racismo, o preconceito contra a população LBGTQIA+, o  sexismo e para isso é necessário que ocupemos espaços estratégicos. Para mudar a nossa história, é fundamental que tenhamos espaço e protagonismo na construção de uma sociedade que valorize a diversidade e promova o respeito pelos direitos humanos. Por razões como essas, percebo importância no reconhecimento público, nacional e internacional, do trabalho de Anielle e eu, enquanto vereadora pela MandatA Preta - projeto inspirado em Marielle Franco -  também agradeço, mais uma vez, por sua luta que, como toda semente de Marielle, tem suas raízes plantadas em solo fértil.

Juntas, nós podemos ter um Brasil mais igualitário, em que as violências e a opressões não tenham mais espaço para operar. Por isso, como disse Marielle “eu sou, porque nós somos”. É chegada a hora da mudança e sempre estivemos prontas para promovê-la!

Edição: Pedro Carrano