Mais de 30 bombeiros civis foram empregados pela empresa Terceiriza, a partir suposta licitação com a prefeitura de Guaratuba, para atividade e trabalho no período de Carnaval na cidade litorânea, entre 18 e 21 de fevereiro.
Pelo trabalho, receberiam R$ 100 por dia, além de alojamento, café da manhã, almoço e jantar. Porém, tudo ficou numa promessa que não desceu a serra. Em tempos de flexibilização e precarização nas relações de trabalho, o caso de Guaratuba parece exemplar.
Isso porque as promessas da empresa contratante foram, segundo o relata de uma trabalhadora: “Descemos com promessa de alojamento, três cozinheiras à disposição, a barraca poderia até levar, mas haveria alojamento”, critica a bombeira Geovanna dos Santos Nunes.
De acordo com ela, a empresa justificou que havia tido problemas com alagamento devido às chuvas e que, ao longo do carnaval, as coisas seriam resolvidas.
Fato é que, entre 36 trabalhadores que participaram da suposta licitação, a primeira leva chegou a Guaratuba ainda na sexta-feira de Carnaval. “Chegaram por volta da meia-noite, a primeira leva. Eles não haviam recebido alimentação, o que foi prometido. Nós chegamos no sábado, 15h30, e a escola estava debaixo de água. Bombeiros civis carregam equipamentos e prestamos serviços pré-hospitalares, então não tem como deixar equipamento em qualquer canto”, protesta Geovanna. A forma de contrato, de acordo com ela, foi uma ficha de inscrição prévia. O mais foram narrativas. “Trabalho há um ano como bombeira em eventos e nunca passei isso”, complementa.
Falta de garantias
Diante do que consideraram uma falta de garantias por parte da Terceiriza, depois de sete horas sem alimentação, sem alojamento, com colchões infláveis montados em meio a poças de água, 16 trabalhadores registraram um boletim de ocorrência (B.O.).
A partir de então, as promessas da empresa dividiram os trabalhadores. Os bombeiros que registraram o BO resolveram voltar a Curitiba, mesmo tendo que arcar com os próprios recursos e não recebendo pelo primeiro dia de serviço. Perceberam também que os trabalhadores de segurança viveram experiências similares.
Precarização como reflexo da Reforma Trabalhista
Em conversa entre o Brasil de Fato Paraná e o Sindicato dos Bombeiros Civis do Paraná, localizado em Curitiba, que representa a categoria, a entidade considera que o episódio revela uma forma de contratação precária, própria da flexibilização causada com a Reforma Trabalhista, aprovada ainda no governo Temer, em 2017 – em que pese a organização de greve geral e resistência dos trabalhadores naquele ano.
Isso porque passaram a ser válidas formas como o “trabalho intermitente”, com realização de trabalho pontual e jornadas episódicas. “Contratados para eventos, por dia, o que percebemos que ocorre a partir da reforma trabalhista de 2017, uma espécie de trabalho intermitente, que não dá garantias para o trabalhador, contratado por dia”, afirma a direção do sindicato. A categoria, por sua vez, defende jornada de 36 horas semanais, contratação de empresas especializadas e supervisão por parte do poder público. “Caso contrário, o trabalhador só vai denunciar quando estiver em situação precária, falta de pagamento, como aconteceu”, aponta o sindicato.
O Sindicato dos Bombeiros Civis preocupa-se ainda que a forma de contratação precária desses profissionais e a ausência em alguns casos de trabalhadores qualificados pode gerar riscos para a sociedade. “Vários exemplos que ocorreram em outros estados de problemas nesse sentido”, aponta o sindicato.
O que é?
Trabalho intermitente é o modelo de vínculo de emprego que ocorre de forma não contínua e tais períodos de atividade são determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de atividade. Essa modalidade de contrato de trabalho foi regulamentado pela Lei 13.467/2017 na reforma trabalhista.
A partir da convocação realizada pelo empregador, o trabalhador intermitente atende ou não ao chamado, e, prestando o serviço, é remunerado por esse período de atividade.
Fonte: CNI
Outro lado
A reportagem do Brasil de Fato Paraná, até o final da edição, segue tentando falar com representante da Terceiriza, ainda sem êxito. Assim que tivemos a versão da empresa, publicaremos nesse espaço.
Edição: Frédi Vasconcelos