Paraná

POLÍTICA ECONÔMICA

OPINIÃO | A "Lava Jato" dos juros

Muda o governo, mas o BC continua bolsonarista

Curitiba (PR) |
Movimentos populares realizaram atos contra a taxa de juros e o presidente do Banco Central - Foto: Elineudo Meira / @fotografia.75

Desconfie todas as vezes quando ouvir/ler todos os jornalistas e “especialistas” convidados por Globo (jornais e TVs), Folha de S.Paulo (UOL), Estado de S.Paulo, e outros veículos de comunicação que se dizem profissionais, terem a mesma opinião e fazerem movimentos de “manada”, em que não há nenhum espaço para vozes que discordam.

Foi assim como a Lava Jato transformou-se na operação que iria “acabar com a corrupção no Brasil”. Porém, poucos anos depois, sabe-se que esses veículos serviam como verdadeiras assessorias de imprensa do juiz considerado parcial pelos tribunais superiores, que combinava o jogo como os procuradores, denunciados na série de reportagens Vaza Jato. A justificativa era“derrotar Lula e o PT”, só que acabaram destruindo o setor de construção pesada no Brasil e elegendo Bolsonaro.

Agora, o mesmo movimento acontece em relação aos juros e à independência do Banco Central.

Parece que é mandamento bíblico e ninguém pode discordar, pelo menos nesses veículos de comunicação. O fato, porém, é que o Brasil tem os mais altos juros reais do mundo, na casa de 8% ao ano, enquanto os países desenvolvidos têm, descontada a inflação, juros negativos. Ok, o mundo todo deve estar errado e só o BC independente certo. Cabe a ironia, mas o problema é que se isso não mudar, pode levar o Brasil à recessão. Daí esses mesmos veículos vão gritar: “culpa do Lula”, como era na época da Lava Jato.

Sobre o fato de que o governo eleito não pode nomear o presidente do BC até a metade de seu mandato, na prática o que aconteceu é que Bolsonaro nomeou Roberto Campos Neto por seis anos, nos quatro de sua presidência e dois na de Lula. Muda o governo, mas o BC continua bolsonarista.

Aliás, essa discussão mostra mais uma vez que, em relação à economia, nunca há a possibilidade de esses veículos ouvirem o “outro lado”, o contraditório. Com isso, deixam de escutar importantes vozes neste momento, como o economista André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real, crítico à atual política de "Independência" do Banco Central.

A única receita econômica propagandeada é aquela em que os mais ricos ficam cada vez mais ricos (entre eles os donos dos veículos de comunicação) ou em que o tal mercado financeiro (corretoras, bancos etc.) ganhe novas fortunas a cada dia. Para saber por que isso, é só seguir para onde vai o dinheiro de tal política.

Edição: Pedro Carrano