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GUARDA MUNICIPAL

Guarda Municipal de Araucária: por que tanta violência?

Investimentos maciços no período 2019-2022 mostram predisposição a coibir manifestações e lutas por moradia

Curitiba (PR) |
O expediente de balas de borracha e ação truculenta é comum quando acontece uma ocupação por moradia - Carlos Poly

No início de 2023, duas famílias foram despejadas da área Jardim Magnópolis, a partir de solicitação da Companhia Paranaense de Energia (Copel). A desocupação forçada foi executada pela Guarda Municipal de Araucária (GMA) e ainda pode alcançar mais 28 famílias.

Neste episódio, chamou a atenção o período de mais de três décadas em que as famílias habitavam o local, quando não esperavam este tipo de ação. Ao mesmo tempo, impressionou a violência com que foram retiradas do espaço, a base de golpes, gravatas e outras técnicas de imobilização.

Essa situação não foi específica. Uma série de fatos atesta que a Guarda Municipal de Araucária tem predisposição ao confronto contra trabalhadores em áreas de ocupação irregular e também contra servidores municipais.

A atual prefeitura de Hissam Hussein Dehaini (Cidadania), entre 2019 e 2022, fez investimentos pesados na contratação de servidores, na compra de armamentos, carros e preparo para uso do arsenal adquirido.

Violência contra servidores públicos municipais

Em 25 de setembro de 2020, os servidores comemoravam a reprovação do pacote de ajustes da prefeitura em relação ao funcionalismo. De acordo com relato do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Araucária (Sismmar) e do Sindicato dos Servidores de Araucária (Sifar), a gestão municipal teria acionado a guarda para impedir a comemoração.

Já em setembro de 2021, em frente à Câmara local, servidores protestavam contra o aumento da alíquota de contribuição previdenciária, quando foram surpreendidos pela guarda que, segundo os sindicatos, agiram com truculência, deixando 20 servidores feridos.

Em protestos recentes, o relato é de forte aparato da GMA como forma de intimidação dos manifestantes.

Violência contra ocupações

O expediente de balas de borracha e ação truculenta é comum quando acontece uma ocupação por moradia. Num domingo, 16 de maio de 2021, a prefeitura acionou guarda municipal, ao lado da polícia militar, para retirar os trabalhadores que ocupavam terreno na cidade. Mesmo em período de pandemia, balas e o gás lacrimogênio atingiram quem estava no local, entre crianças, idosos e até vizinhos da área ocupada.

Arsenal ampliado

A prefeitura de Hissam Hussein Dehaini divulga, em diferentes espaços, o investimento maciço no armamento, efetivo e treinamento da GMA. Em 2022, o orçamento para segurança pública atingiu cerca de R$ 35 milhões, divulgado como o maior da história da cidade.

Entre várias aquisições, para dar um exemplo, estão novas carabinas CTT semi-automática, calibre 40. Até então, os guardas contavam com arsenal de menor potência. Além da aquisição de 50 pistolas de choque, entre outros equipamentos.

O investimento está focado em armamento, mas também numa espécie de tratamento diferenciado entre segmentos do serviço público municipal. Entre 2018 e 2021 a cidade concedeu aumento financeiro de 30% no adicional de risco à vida aos guardas municipais.

Tornar a cidade “atrativa”  

Uma das análises sobre a atual política de segurança pública em Araucária, cidade da região metropolitana de Curitiba com polo industrial, é a tentativa de conter as lutas sociais e tornar a cidade “apresentável” para investidores. No período que coincide com o governo de Bolsonaro, essa política de contenção às lutas populares seria aceita pela população.

“Desde antes da pandemia, o governo Hissan tem buscado um funcionamento mais estruturado do capital na cidade. Alteraram várias questões estruturais, o Plano Diretor, novo código tributário, para atração de empresas. Ao mesmo tempo, tenta coibir manifestações”, afirma a direção do Sifar, após pergunta enviada pelo Brasil de Fato Paraná.

Outro lado

A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com assessoria de imprensa da Prefeitura de Araucária, que ficou de responder um questionário enviado. Porém, até o fechamento da edição, não recebemos a resposta.

Edição: Frédi Vasconcelos