Paraná

TRAGÉDIA ANUNCIADA

Comunidades exigem canais de diálogo com poder público no tema das enchentes

Lideranças populares apontam problemas em relação às cheias e cobram mais atenção do poder público

Curitiba (PR) |
Sobre a presença do poder público, reforçam a crítica - Reprodução

Início de ano e, mesmo com índice elevado de chuvas, no mínimo seis comunidades foram impactadas pelas cheias, deixando a crítica entre lideranças sociais de que a gestão municipal não se preparou para o impacto causado pelas cheias na cidade e enchentes nas comunidades e áreas de ocupação.

Os relatos dos dois dias de fortes tempestades apontam que, dessa vez, a principal região afetada foi a Cidade Industrial de Curitiba (CIC), em particular as comunidades localizadas na região conhecida como Barigui. Além disso, a ocupação Nova Primavera, iniciada em 2012, próxima à região conhecida como Sabará, teve várias casas alagadas.

A avenida Juscelino Kubitschek, por sua vez, ficou inundada, dificultando o trânsito de carros. Ao lado disso, registram-se impactos no Parolin e problemas já previstos no Novo Mundo (Bolsão Formosa). Já na vila São Carlos, no Pinheirinho, imagens mostram a cheia das águas até a altura da canela das pessoas.

O prefeito Rafael Greca (PSD) e a assessoria de comunicação da prefeitura classificam o episódio como apenas pontual, em vista do volume inédito de água alcançado nesses dois dias.

Como já apontou o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a aceleração da crise climática, resultado da ausência de controle e planejamento sobre os recursos naturais usados na produção, têm impacto direto nos ciclos hidrológicos, gerando secas prolongadas e enchentes.

No entanto, não é sensato julgar que gestões municipais não possam, ao longo dos anos se preparar e desenvolver técnicas para lidar com essa situação. A prefeitura, por sua vez, justifica ações de macrodrenagem, indica conclusão de obras e aponta o problema do dejeto de lixo nos rios da cidade. Embora, sem criar campanha consistente junto à população.

Mesmo com obras, Parolin novamente é impactado

Andréia de Lima, liderança comunitária do Parolin, mora exatamente ao lado do projeto de canal extravasor do Rio Guaíra, obra iniciada em 2018, que carrega as cheias, mas está incompleta e gera reclamações entre o povo da região. Constantemente, a casa de Andréia é alagada ou fica perto disso, o que é constantemente denunciado pelas redes sociais.

No dia 14 de dezembro, a Defensoria Pública do Estado articulou reunião com a Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smop), com presença da comunidade. Na encontro, de acordo com a liderança, a gestão municipal avisou que até o primeiro trimestre deste ano as obras serão concluídas no Parolin. Outra reunião está sendo chamada para o mês de fevereiro.

“Acho que a participação da comunidade junto às secretarias de obras é fundamental. Estou muito triste com o que aconteceu com as pessoas na Cidade Industrial, para nós isso é um gatilho, já passamos essa situação, que nos incomoda. Temos que levar isso para os vereadores para que tenham consciência para aprovar projetos que facilitem a nossa vida nessa situação”, aponta Andréia.

A prefeitura, por meio da assessoria de comunicação, aponta que está em processo de conclusão de oito quilômetros de obras, em três etapas. “Quando as três etapas estiverem concluídas a expectativa é reduzir o impacto das cheias na foz do Rio Pinheirinho, no encontro com o Rio Belém, beneficiando as famílias da região”, informa a assessoria de imprensa da prefeitura.

Impacto grave entre famílias da Nova Primavera

Na ocupação Nova Primavera, iniciada em 2012, a situação não é menos tensa. Imagens do local mostram pertences pessoais, colchões e móveis em meio ao barro. Os moradores e lideranças locais apontam que se trata da cheia de maior impacto sobre a comunidade. “Bastante pessoal impactado, estourou o muro de um morador, umas dez famílias impactadas, conseguimos umas coisinhas, uma senhora perdeu tudo, corremos atrás”, comenta Marcio Rodrigues de Souza, construtor, liderança há sete anos da comunidade.

Sobre a presença do poder público, reforça a crítica. “Eles só vieram aqui nos dias de audiência pública, difícil o diálogo com a prefeitura e com a regional”, lamenta.

Sobre a ausência de canais de comunicação, questionada sobretudo em relação ao caso do Parolin, a gestão responde: “A comunidade do Parolin tem canal aberto de comunicação com a administração municipal. A partir da Administração Regional do Portão e das equipes da Fundação de Ação Social, a população participa frequentemente de reuniões com representantes do município, de diferentes secretarias municipais”.

De fato, ao que parece, apenas a passagem de mais um ano vai responder?

Edição: Ana Carolina Caldas