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Artigo: Tebet transferiu muito menos votos a Lula do que se imagina

Apoio foi importante, mas estão dando à futura ministra uma importância eleitoral que não se comprova nos números

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Simone Tebet e Lula - Reprodução/Twitter - Ricardo Stuckert

Nomeada ministra do Planejamento num acordo de “frente ampla” para dar sustentação a Lula no Congresso e também porque se diz que foi decisiva nas eleições para a vitória do petista, Simone Tebet e seu MDB podem até ajudar daqui para a frente, mas nas eleições os números mostram que a participação dela foi bem menor do que se imagina.

No primeiro turno, Tebet teve 4,2% dos votos válidos no País. Lula chegou em primeiro, com 48,4%, e Bolsonaro em segundo, com 43,2%. No segundo turno, Lula cresceu 2,5%, para 50,9%, e Bolsonaro saltou 5,9%. Pode-se dizer que, nesse caso, os eleitores de Tebet e Ciro, terceiro e quarto colocados, optaram majoritariamente pelo presidente que perdeu.

Sem analisar aqui a candidatura de Ciro, o que pode ser feito num próximo texto, se isolarmos, fica claro que a maior parte dos votos da ex-senadora foi para Bolsonaro se analisados os locais em que teve suas votações mais expressivas. Para testar essa hipótese, foi utilizada Plataforma Confirma, da QCP Consultoria, que utiliza a base nos dados oficial do TSE e permite analisar a votação de qualquer candidato nas eleições no Brasil por região, estado, cidade e local de votação. Numa pequena amostra, foram separadas as unidades da Federação em que Tebet teve seus melhores índices e, nesses locais, quais os cinco em que se saiu melhor e para onde migraram os votos no segundo turno.

As maiores votações proporcionais da futura ministra foram no estado de São Paulo (6,3%), no Distrito Federal (6,0%) e no Mato Grosso do Sul (5,3%). Na maioria das outras regiões, ficou perto da média geral, com exceção do Nordeste, com seu pior número sendo registrado no Ceará de Ciro Gomes, em que ficou com 1,2% dos votos válidos no primeiro turno.

Em São Paulo, as cinco cidades em que teve melhor performance foram Lagoinha (10,65%), São Caetano do Sul (9,42%), Salesópolis (8,28%), Quadra (8,12%) e São Paulo (8,11%). Em todas essas, com exceção da capital, Bolsonaro venceu no primeiro e segundo turnos. Aumentou, nas quatro cidades, de 8% a 10% sua votação do primeiro para a segunda rodada. Mais ou menos a votação de Tebet nos municípios. Não dá para afirmar que recebeu todos os votos dela, mas fica claro que a maioria migrou para o presidente que sai.

A exceção é a capital, em que Lula ganhou no primeiro e segundo turnos. Porém, mesmo nessa cidade, Bolsonaro aumentou mais seus votos que o eleito. Do primeiro para o segundo turno, Lula passou de 47,53% para 53,54%, diferença de 6,01%. Bolsonaro cresceu 8,47%, de 37,99% para 46,46%. Mais ou menos a votação de Tebet. Óbvio que há outros fatores, mas fica mais uma vez clara a tendência de transferência de votos.

Em Brasília, a história se repete. Tebet teve 6% dos votos, Bolsonaro venceu nos dois turnos e cresceu 7,1% entre uma eleição e outra. Lula acrescentou apenas 2,33% dos votos válidos na sua conta. Óbvio que votos de outros candidatos também migraram para Bolsonaro, mas a maior parte dos que preferiram Simone parece ter ido para Jair. O que fica mais nítido quando se olham os setores da capital em que se saiu melhor.

O recorde é no Setor Sudoeste, em que Tebet teve 9,79% dos votos. Lá, Bolsonaro cresceu 9,04% entre um turno e outro. Tendência repetida na Octogonal Sul, com 9,54 para Tebet e crescimento de 8,22% para o capitão. No Lago Sul, Tebet teve 8,87% e o crescimento de Bolsonaro foi de 6,71%. No Lago Norte, 8,39% para a ex-senadora e crescimento de 7,9% para o capitão. A exceção é o Setor das Indústrias Gráficas, em que Tebet teve 9,02%, e Lula e Bolsonaro crescem cerca de 8% entre um turno e outro. Uma curiosidade para entender o tamanho do buraco na questão militar, Bolsonaro teve mais de 80% dos votos válidos no Setor Militar Urbano e no Setor Militar Complementar, de longe seus melhores resultados na capital.

Fugindo um pouco do que se espera, Tebet não teve sua melhor votação proporcional no estado natal e onde construiu carreira. Conseguiu 5,3% dos votos válidos no Mato Grosso do Sul, contra 52,7% do capitão e 39% de Lula. No segundo turno, o presidente derrotado chegou a 59,5%, enquanto Lula estacionou em 40,5%. Levantamento das cidades em que foi mais votada repete a tendência dos resultados anteriores.

A melhor performance de Tebet é no município de Vicentina (7,2%). Lá Bolsonaro cresceu 6,5% entre um turno e outro. Lula ganhou nos dois turnos, mas cresceu apenas 2,5% entre as votações. Em Parnaíba, Tebet obtém 7,13%, Bolsonaro lidera sempre e cresce 7,21% entre votações. Resultados parecidos em Cassilândia, com Tebet com 6,97 e crescimento do presidente derrotado de 7,8%. Em Figueirão, a senadora teve 6,86%, o capitão cresceu 6,8%. Na capital, Campo Grande, a sul-mato-grossense teve 6,77%, e o Bolsonaro cresceu 8,1%. Em todos esses locais, a variação de Lula foi entre 2% e 3% positivos, bem menor que a do capitão.

Este artigo precisa ser complementado com a análise de outros fatores e candidatos nas eleições. A ideia foi pegar uma pequena amostra para desmontar a visão de que Tebet foi “decisiva” para a eleição de Lula. O que os números não mostram. Espera-se que sua atuação no ministério e a atuação no MDB no Congresso sejam mais satisfatórios do que foram quando faziam também parte da base aliada de Lula e Dilma. Sabe-se como terminou o segundo mandato da ex-presidente e como Tebet votou na hora do impeachment.

Edição: Pedro Carrano