Paraná

Entrevista

As esperanças para o Brasil estão renovadas, diz cantora Paula Lima

Entre seus novos trabalhos, cantora pretende fazer releitura das canções de Rita Lee

Curitiba (PR) |
"Espero que a gente tenha um bálsamo de luz, que arte e cultura voltem a ter espaço de valor dentro do Brasil", diz Paula Lima - Foto: Giorgia Prates

Conhecida por reincorporar e popularizar gêneros da música negra no Brasil, a cantora e compositora Paula Lima chegou a se formar em Direito, pois sendo mulher preta sentia insegurança quanto ao futuro. Mas conta que se viu nascendo artista quando o público a abraçou.

Recentemente, ela esteve em Curitiba para show em parceria como o grupo musical paranaense MUV e em entrevista ao Brasil de Fato Paraná disse estar esperançosa quanto ao futuro do país.

Confira a entrevista:

Brasil de Fato Paraná – Gostaria que você contasse sobre seus trabalhos.

Paula Lima – Muita coisa acontecendo e tem projetos até o final de 2023. Acabei de lançar o “Paula Lima ao Vivo”, em que escolhi canções que eu fazia em show e gostaria de registrar. Todas elas têm um motivo.

Por exemplo, uma canção da Alice Caymmi pela felicidade, leveza. Outra chamada “Deixa Eu Dizer”, do Ivan Lins, feita na ditadura. Eu tinha que falar que ninguém vai calar a nossa boca, sobre liberdade e democracia. Em outra música, “Me deixa em Paz”, do Mansueto, faço homenagem a três personalidade negras: Milton Nascimento, Alaíde Costa e ao próprio Mansueto, entre outras.

Até janeiro, lançarei um “single” que se chama “Aqui Só Dá Você”. Depois, o projeto é “SOU LEE”, em que vou gravar canções da Rita Lee, essa musa atemporal e para todas as gerações, cores e gêneros.

Quando você se descobriu artista?

Acho que aos 6 anos de idade, quando vi minha professora tocando acordeom e eu quis cantar com ela. Já minha mãe dizia que eu tinha que aprender um instrumento, então fui aprender piano dos 7 aos 17 anos.

Com conhecimento maior da vida, sentia medo da instabilidade, até porque somos mulheres pretas, e aí a gente sente insegurança em relação ao futuro. Quando fiz os meus primeiros trabalhos e muitos jingles, comecei a ver que estava ficando maior que estudar Direito, trabalhar no Tribunal de Justiça e comecei a acreditar. Mas só me vi como artista quando senti a reação do público real, quando o público me abraçou e percebi que já podia viver de música.

Como você vê a música negra e a valorização dos artistas negros no Brasil?

Estamos em um novo momento do Brasil, renovam-se as esperanças. Estamos ainda passando por um momento sombrio, mas parece que a sombra está saindo. Espero que a gente consiga se rever e se unir de uma maneira consciente dos verdadeiros valores da vida. Não é Deus, Pátria, Família, dessa forma hipócrita que vimos. Só pode ser Deus, Pátria e Família se respeitarmos todo mundo.

Você se posicionou pela eleição de Lula. O que significou esse momento?

Não estava pensando neste presente, pois tem algo muito maior, que é o caminho do bem, respeitar o outro. Eu não tinha como ficar quieta, me sentia parte e achava que com a minha voz poderia contribuir. Não podia me omitir por conta de número de seguidores e, no meu caso, eu tinha um contrato que estava me cutucando. Mas era a hora de se colocar.

Qual seu maior sonho como artista e mulher no Brasil?

Espero que a gente tenha um bálsamo de luz, que arte e cultura voltem a ter espaço de valor dentro do Brasil. O bom é saber que 60 milhões de pessoas pensam como a gente. O caminho está aberto e eu desejo que as pessoas possam realizar seus sonhos, que acordem todo dia de manhã com alegria e vontade de viver e respirar.

Por exemplo, que o salário mínimo seja digno, haja educação justa para todo mundo e que todos possam chegar onde querem. Sou porque somos e estamos bem quando todos estão bem. 

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini