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O nome disso é racismo recreativo

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Mano Cappu, e o cantor e compositor Wes Ventura, nomes cada vez mais representativos na cena musical preta do sul do país, foram constrangidos por Michelle Gutmann - Divulgação
"não são brincadeiras inofensivas"

Em um coquetel de confraternização da FIMS (Feira Internacional da Música do Sul) – evento realizado em Curitiba de 2 a 5 de novembro – o rapper, roteirista e diretor de cinema, Mano Cappu, e o cantor e compositor Wes Ventura, nomes cada vez mais representativos na cena musical preta do sul do país, foram constrangidos por Michelle Gutmann, mulher branca, integrante da equipe de produção do evento, com a pergunta: “vocês estão roubando copos?”.

A frase dita em tom de brincadeira foi motivada pelo gestual dos músicos ao guardar seus óculos no bolso durante o coquetel.   

Segundo o doutor em Direito Adilson Moreira, o racismo recreativo abrange os atos caracterizados como brincadeiras entre pessoas adultas que não expressariam desprezo ou ódio racial, mas que reproduzem uma série de estereótipos raciais, podendo ser classificados como injúrias porque comunicam hostilidade racial por meio do humor: “Palavras comunicam valores culturais e não deixam de disseminar sentidos negativos devido a uma suposta ausência de motivação psicológica. Elas expressam um consenso social dos membros do grupo majoritário sobre o valor de pessoas que pertencem a minorias raciais. Por esse motivo, o sentido do humor racista deve ser interpretado dentro do contexto social no qual ele está inserido e não apenas como uma expressão cultural que objetiva produzir um efeito cômico. Piadas racistas só adquirem sentido dentro de uma situação marcada pela opressão e pela discriminação racial”.

Na cidade que possui um histórico de apagamento da população negra, a contratação de profissionais que representem essa população nos quadros de funcionários é essencial, inclusive para prevenir constrangimentos como o ocorrido com os músicos: não são brincadeiras inofensivas, o nome disso é racismo recreativo.

Edição: Pedro Carrano