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CRÔNICA. E chegam mensagens de um grande coletivo que pode mudar esse Brasil

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A vitória de Lula é a vitória do povo brasileiro, de sua capacidade de dar a volta por cima - Giorgia Prates
Porque será necessário defesa contra os ataques do fascismo, que já estão sendo organizados

Dona Eronilda envia um áudio na primeira pessoa do plural: Vencemos! Já os rapazes da ocupação Independência Popular mandam uma mensagem coletiva, entre gritos e rojões, chamando pra uma cerveja e cobrando a promessa do pagamento de uma rodada se Lula vencesse.

Domingo, 18h45. A virada de Lula se anuncia nas apurações e também nos fogos lançados pela vizinhança no bairro. Começam então a chover mensagens no meu zap privado, não só nos grupos. Era aquela saudação de carinho, aquele gesto que estendemos às pessoas que consideramos próximas, com quem temos alguma forma de confiança.

Foram mensagens de amizade, emoção, abraços à distância, comemorações e gritos de quem, de alguma maneira, como um grande coletivo, atravessou esses seis anos, desde o golpe contra o governo de uma presidenta, navegando num mar de incertezas, num período de tormentas, retirada de direitos e de sinal verde para as piores violências contra nosso povo.

Ulisses cansado, que volta numa Odisseia, envelhecido e marcado, mas ainda se reconhece dentro de si mesmo. Nós ainda sonhamos. Ainda podemos querer mais de um país e de nós mesmos. Mas, mesmo cansados nessa caminhada, esse Ulisses coletivo chamado povo brasileiro terá que preparar a próxima travessia e recuperar forças para isso.

No bairro, os fogos de artifício vinham de pessoas que a gente nem imaginava que estivessem do lado do que a gente considera um país justo. Estávamos até então, durante boa parte da campanha, como bichos acuados pela violência do fascismo, sem colocar adesivos nos carros, bandeiras ou camisetas, mas carregados de esperança na possibilidade de dizer um não, mesmo que fosse necessário fingir ou nada dizer para o patrão.

As mensagens se avolumam, chegam em fileira. Baiana, cozinheira e moradora de uma área de ocupação, nunca vacilava em se dizer: Eu sou PT, mesmo não sendo filiada. Lázaro, meu psicólogo, em tom mais comedido, envia mensagem de parabéns. Recebo também um coração carinhoso de Adriana, uma das poucas primas com afinidade com a esquerda, sempre presente na importante Vigília Lula Livre. Dona Vita, moradora da vila Leão, elencava com orgulho as ações que fez ao lado das amigas.

É isso mesmo. A vitória de Lula é a vitória do povo brasileiro, de sua capacidade de dar a volta por cima, de se organizar, de mobilizar a vizinhança. De cada um colocar a sua pedra de tijolo nessa construção. É preciso que o povo enxergue essa vitória como sua, primeiro porque de fato o é, e porque será necessária a defesa contra os ataques do fascismo, que já estão sendo organizados e, também, cobrar firme nosso futuro governo.

Recordo de uma das peças que considero mais bonitas do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, que viveu e atuou em pleno período de surgimento do nazismo. Isso porque, na cena final da peça “Terror e Miséria do Terceiro Reich”, alguns militantes perseguidos pelo nazismo se questionam como a Alemanha pôde chegar até aquele momento. Um deles simplesmente provoca o público:

- Bastava termos dito não.

É o que começamos a fazer naquele domingo inesquecível.

Edição: Frédi Vasconcelos