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Educação e saúde pioram para crianças no governo Bolsonaro

Período tem queda de investimentos em áreas essenciais para desenvolvimento dos filhos

Curitiba (PR) |
Fome, desnutrição, sucateamento da educação, volta de doenças já erradicadas são alguns dos problemas que atingiram crianças brasileiras nos últimos 4 anos - Foto: Giorgia Prates

O "País do Futuro" vem colocando cada vez mais o futuro de suas crianças em risco. Vários fantasmas voltaram a assombrar mães e filhos nos quatro anos do governo de Bolsonaro. Fome, desnutrição infantil, atraso escolar, estudantes fora da escola e a volta de doenças como sarampo e paralisia infantil mostram uma realidade difícil.

É o que conta, por exemplo, Jaqueline Ferreira, mãe solo de quatro filhos e que vive da coleta de recicláveis em Curitiba. O sonho de garantir um futuro melhor para suas crianças parece cada vez mais distante. “Eu vi tudo aumentar. Para dar uma vida melhor para eles, tudo tem gasto, já que quase não temos mais ajuda do governo”, diz.

Jaqueline sonha em garantir uma boa educação aos filhos, mas confessa que está difícil. “Hoje em dia a escola não consegue mais ajudar os pais, por exemplo, com materiais e uniformes. Eu tenho três adolescentes e, muitas vezes, fica faltando coisas pra eles estudarem direito”, conta.

A situação fica pior na saúde. “Infelizmente, não tem saúde nesse país. Há mais de um ano espero consulta para minha filha de 15 anos com fonoaudióloga. Meu outro filho precisa de oncologista para conseguir operar e há mais de dois anos estamos na fila”, relata.

Fome e desnutrição infantil

Maria Isabel Correa, vice-presidente do Conselho de Segurança Alimentar do Paraná (Consea- PR), lembra que a gestão Bolsonaro começou a desmontar políticas públicas voltadas para segurança alimentar.

“Ele eliminou o Consea nacional. A partir daí, começou a desestruturação das políticas públicas inclusivas. Uma delas é o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE, que, na gestão dele (Bolsonaro), não teve reajuste. O PNAE é muito mais que oferecer alimentos, é alimentação saudável. E há um número significativo de crianças que só comem na escola”, cita.

Para Maria Isabel, a falta de alimentação saudável nessa etapa da vida cobra um preço muito alto. “O desenvolvimento de qualquer pessoa depende da alimentação. Os alimentos mais baratos, hoje, são os processados e ultraprocessados, sendo responsáveis por doenças como obesidade infantil, diabetes, hipertensão e muitas outras,” diz.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a proporção de crianças com até 6 anos vivendo abaixo da linha da pobreza saltou de 36,1%, em 2020, para 44,7%, em 2021. E, com isso, o quadro de desnutrição infantil voltou a subir. Segundo o Instituto Desiderata, mais de 700 mil brasileiros de 0 a 5 anos estão nessa situação.

Crianças fora da escola

A escola é também o sonho de um futuro melhor. Porém, os cortes na educação atingiram diretamente sua qualidade. Tânia Dornelas, da Campanha Nacional de Direito à Educação, afirma que a queda de investimentos trouxe dificuldades para o acesso e permanência de crianças e adolescentes na escola.

“Entre 2019 e 2021, a execução orçamentária para educação caiu R$ 8 bilhões em termos reais e continua em declínio em 2022. Essa ausência de investimentos se materializa na falta de acesso à educação básica como um todo, deixando crianças fora da escola,” explica.

O número de crianças que não frequentam a escola ou não concluíram seu ciclo quase dobrou de 2020 para 2021, saltando de 540 mil para 1,07 milhão. E há outros agravantes. “A merenda escolar não tem reajuste desde 2017, e os cortes previstos para o ano que vem já afetam o programa responsável por ônibus escolares, formação continuada dos professores e a compra do material escolar”, conclui.

Volta de doenças

Doenças infantis que já haviam sido erradicadas no Brasil estão reaparecendo. Desde 2021 há queda no número de crianças vacinadas, principalmente contra poliomielite, sarampo, rubéola e catapora. A baixa adesão se repetiu em diversas outras vacinas.

Para Aline Almeida Bentes, médica, professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), algumas das causas são a disseminação de fake news sobre vacina pelo próprio presidente e a falta de investimentos na saúde pública.

“Os recursos que deveriam ser destinados à saúde tiveram cortes, trazendo falta de insumos, médicos e remédios nas unidades de saúde. O que foi agravado pelos maus exemplos do presidente, com o discurso antivacina e a falta de compromisso com a saúde da população”, diz. 

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini