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Uma história de resistência e conquista

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As ações afirmativas e lutas de enfrentamento das desigualdades sociais do Movimento Negro estão mudando a história das mulheres negras no Brasil. Iyagunã é prova disso. - Divulgação
a sacerdotisa Iyagunã Dalzira, conquistou aos 81 anos de idade, o título de Doutora pela UFPR

Em tempos de eleições que arrastam as possibilidades de um país melhor para o segundo turno, uma fresta de esperança: uma das matriarcas do candomblé em Curitiba, a sacerdotisa Iyagunã Dalzira, conquistou recentemente (23 de setembro) aos 81 anos de idade, o título de Doutora pela UFPR.

No país cujo a primeira lei (1837) proibiu o acesso à Educação para pessoas negras, a aprovação da tese, considerada exemplar pela universidade, aconteceu num auditório (com transmissão online) composto majoritariamente por pessoas negras, lideranças do movimento negro e do candomblé, filhas e filhos de Iyagunã, onde a universidade reconheceu se tratar apenas de um protocolo, pois os saberes trazidos pela sacerdotisa evidenciam seu amplo conhecimento.

As ações afirmativas e lutas de enfrentamento das desigualdades sociais do Movimento Negro estão mudando a história das mulheres negras no Brasil. Iyagunã é prova disso. Segundo o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná (NEAB-UFPR), Iyagunã Dalzira iniciou os estudos regulares aos 47 anos, no programa de Educação de Jovens e Adultos, o EJA. Aos 63, iniciou o curso de Relações Internacionais. Aos 72, defendeu seu mestrado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, com uma dissertação sobre os saberes do Candomblé na contemporaneidade.

Agora, no doutorado, sua tese na UFPR foi intitulada “Professoras negras: gênero, raça, religiões de matriz africana e neopentecostais na educação pública”. Mais que mestre, doutora ou mãe de santo, Iyá é hoje uma personalidade do movimento negro. Ela faz parte da 7ª geração de africanos que chegou ao Brasil e representa um dos principais símbolos na luta pela defesa da tradição africana, da religiosidade africana e contra o racismo no Paraná. 

As terras do sul também são de axé.

Edição: Pedro Carrano