Paraná

Entrevista

Os trabalhadores da cultura também precisam estar no Legislativo, defende Guta Stresser

Atriz afirma que começou a se expor politicamente diante do momento obscuro desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT)

Curitiba (PR) |
"Em 2022, muitos dos que não se posicionaram estão vindo com a gente porque viram que se calar levou à situação que estamos vivendo", diz atriz - Foto: Pretícia Jerônimo

A atriz Guta Stresser voltou para uma temporada longa em Curitiba, sua cidade natal e onde começou a vida profissional principalmente no teatro. O retorno tem um motivo ligado à política: integrar uma candidatura coletiva para o cargo de deputada federal e se envolver de forma mais participativa nas campanhas de 2022.

Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, contou que sua motivação em se posicionar politicamente começou no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Ela, que esteve por mais de três décadas vinculada à TV Globo, principalmente atuando como a Bebel de “A Grande Família”, diz estar acostumada com a exposição pública, porém a política traz mais cobrança e responsabilidade.

Confira:

Brasil de Fato Paraná – Você começou sua vida profissional fazendo teatro em Curitiba e, agora, tem passado uma temporada aqui. Como é esse retorno? 

Guta Stresser – Sou nascida e criada em Curitiba, fui para o Rio de Janeiro com 22 anos. Desde que fui morar no Rio, sempre vim a passeio para Curitiba e esta é a primeira vez, nesses anos todos, que passo uma temporada mais longa.

Eu vim especialmente para integrar uma campanha e candidatura coletiva da cultura. E tenho feito um reencontro com Curitiba muito interessante, descobrindo de novo o que eu amo nesta cidade, uma nostalgia do que eu vivi aqui no começo da minha vida profissional e, também, um encontro com outra Curitiba. Percebo uma mudança de ocupação dos espaços, muita gente interessada, muitas candidaturas e gente interessada em gestão pública e política.


Entrevista de Guta Stresser para o Brasil de Fato Paraná / Pretícia Jerônimo

Falando em política, você começou e se expor mais em 2018. O que a motivou?

Mesmo eu tendo feito um programa durante anos na TV, “A Grande Família”, e assim sendo não é de hoje que lido com bastante exposição por ser uma pessoa pública, na política, essa exposição te coloca de outro jeito, porque vem cobrança e responsabilidade.

Lá atrás, o que me motivou foi perceber que estava acontecendo algo muito estranho. Em 2013, fui para a rua fazer críticas à desapropriação da Aldeia Maracanã para fazer Copa e Olimpíadas. Porém, no processo de impeachment, aquele circo no dia da votação, com Bolsonaro homenageando o Ustra, eu fiquei estarrecida.

Como o meu mestre Antonio Abujamra dizia: “desconfie sempre da paisagem”. E a paisagem era uma coisa muito obscura vindo. Aí, em 2018, não teve jeito de não se posicionar, eu dizia que quem não estava se posicionando estava ao lado daquela perseguição, da perda de direitos já anunciada. Em 2022, muitos dos que não se posicionaram estão vindo com a gente porque viram que se calar levou à situação que estamos vivendo.

O que você espera do próximo presidente eleito?

A primeira coisa é a volta do Ministério da Cultura. Isso não é pouca coisa pra nós, porque quando a gente perde o ministério, a gente perde a importância da cultura dentro de uma gestão. E espero que o Lula seja eleito e refaça todo o trabalho que ele fez no passado, alinhando principalmente cultura e educação.

E entender que o setor cultural movimenta muito a economia. Então, aumentar orçamento para cultura não é um favor. Por exemplo, quando vamos apresentar um espetáculo ou show, os lugares em volta vão ficar mais cheios, os hotéis etc. Além disso, é importante destacar que a nossa cultura traz muita visibilidade para o País.

Você veio para Curitiba integrar uma candidatura coletiva que concorre ao cargo de deputado federal. Qual é a importância dos artistas ocuparem esses espaços?

Em princípio, não pensava em entrar para política dessa forma, mas, à medida que fui entendendo que não tinha mais como não me posicionar politicamente, percebi que a falta de profissionais da nossa área no Legislativo também afeta nossa categoria.

Acho que os trabalhadores da cultura também precisam estar no Legislativo. Não tem como reclamar das coisas que nos faltam e a gente nunca participar.

Ouvi de um amigo, o Adriano Pettermarn, que participar da política é uma doação, é estar a serviço de quem representamos. Aliás, acho que isso é que o Bolsonaro não quer entender, que cada canetada que ele dá é para atender os interesses do povo, não dele.

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini