Paraná

ORGANIZAÇÃO POPULAR

Mais de 200 Comitês Populares foram criados no Paraná

Ao lado de brigadas de agitação, o desafio da esquerda é manter espaços organizativos depois das eleições

Curitiba (PR) |
O Partido dos Trabalhadores (PT) calcula a criação de 100 comitês em Curitiba, que vão de espaços consolidados da militância até referências de “porta de fábrica” - Lucas Botelho

A preocupação das organizações de esquerda e dos movimentos populares antes das eleições era construir espaços que organizassem a militância social durante a campanha e, ao mesmo tempo, seguissem motivados depois do período eleitoral.

Com isso, surgiram, no Paraná, comitês populares e brigadas de agitação e entrega de material para o povo.  

O Partido dos Trabalhadores (PT) calcula a criação de 100 comitês em Curitiba, que vão de espaços consolidados da militância até referências de “porta de fábrica” de montadoras como a Volvo e outras na Cidade Industrial.

Houve criação de comitês em áreas de ocupação e também articulações recentes de artistas. No Paraná, estimativa de agosto do MST aponta 216 comitês populares criados no estado.  

Brigadas de agitação e propaganda  


Toda quinta e sábado, brigada de agitação distribui materiais para o povo / Divulgação

Impulsionada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em todo o país, no Paraná a brigada contou com parceria entre o movimento, associações de moradores, caso da vila Formosa, militantes dos Partidos dos Trabalhadores, sindicatos e Movimento de Trabalhadores por Direitos (MTD).  

Todas as quintas-feiras e sábados, esse agrupamento panfleta materiais populares e das campanhas majoritárias, traçando um roteiro por comunidades da periferia de Curitiba, buscando envolver lideranças populares.

“Envolve a sociedade civil como um todo, não só os militantes petistas ou os militantes dos partidos coligados, porque envolve o debate sobre o Brasil que queremos. Temos que garantir que o governo Lula, sendo eleito, tenha respaldo popular”, prevê Ana Célia Curuca, advogada e vice-presidente do PT municipal.   

Presente e futuro  

Igor Felippe Santos, da secretaria nacional dos comitês populares, enxerga que, desde 2021, foram conformados três ramos: comitês construídos a partir da estrutura do PT, aqueles criados nos espaços sindicais e um terceiro eixo, de acordo com ele, seriam os comitês populares, incentivados principalmente pelo MST, a partir das experiências militantes de cada região.  

Santos reconhece a dificuldade de sistematizar a experiência fora do cadastramento do partido. Porém, destaca o levantamento geral de 10 mil comitês no Brasil. Na atual campanha, ele enfatiza as movimentações de arrastões de vermelho ou “piseiros 13”, surgidas em cidades do Nordeste e até experiências ligadas à campanha ao governo, como ocorre no Rio Grande do Sul.  

Santos aponta a diversidade dos comitês como característica organizativa também para o próximo período. “Pode tanto aplicar metodologia por setores, por bairros, articulação na área da cultura e também interreligiosos. Temos um processo de mobilização dos diversos setores da sociedade, mas que se encontram nos comitês populares”, afirma.  

Uma história recente de lutas e aprendizados no Paraná

Dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná, Roberto Baggio, aponta que, no caso do estado, dois fatores somam-se para a experiência positiva dos comitês. O primeiro é o fortalecimento da militância que participou da Vigília Lula Livre. 

“De certa forma foi uma experiência política positiva para o movimento de participar das batalhas políticas da sociedade”, afirma Baggio. O segundo é o enraizamento nos bairros de periferia a partir das ações de solidariedade na pandemia, desde 2020. E, em 2022, a articulação Despejo Zero reuniu dez áreas de ocupação urbana, sete movimentos populares e o movimento indígena.  

“E na essência o que seria a ideia dos comitês? Conhecer a realidade do povo. A partir dessa realidade, motivamos pessoas do local para ações, que podem ser uma cozinha comunitária, por exemplo. Gerou-se uma energia política, que pudemos sentir no grande mutirão do comício de Lula (do dia 17 de setembro)”, afirma Baggio.  

 De “Lula Livre” a “Lula presidente” 

Em 2018, um grupo de militantes experientes decidiu dialogar com a sociedade sobre a injustiça vista na prisão do ex-presidente Lula. Com jornais, caixa de som, boa vontade e outras ferramentas simples, fundaram o Comitê Lula Livre Praça Tiradentes. Neste ano, a experiência tornou-se um comitê popular.  

Na visão de Izabel Fernandes, costureira, a sociedade é agora mais aberta ao apoio a Lula. O Comitê não relata hostilidades neste ano, embora reconheça que a agressividade própria do movimento fascista é um risco nessas eleições. 

“Atuamos de segunda a sábado, das 14h às 18h. Não fomos mais ofendidos (como em 2018), somos recebidos bem pelas pessoas. Antes íamos à praça por ‘Lula Livre’, para sair da prisão, agora por um ‘Lula presidente’, o que é emocionante”, relata Izabel.  

 

Edição: Frédi Vasconcelos