Paraná

ELEIÇÕES NAS MÍDIAS

Opinião. O que vale é o data-urna

Começa horário eleitoral e se acirra o debate de quem ganhará a disputa, TV ou redes sociais

Curitiba (PR) |
Pesquisa do Datafolha (2018), no primeiro turno da eleição presidencial, mostrou que 66% dos eleitores brasileiros tinham contas em redes sociais - Giorgia Prates

Em 26 de agosto, começa o horário eleitoral gratuito e também se acirra o debate se neste ano a TV ou as redes sociais influenciarão mais as eleições, principalmente para presidente. Boa parte da dúvida vem desde 2018, quando, pela primeira vez, a propaganda na TV parece ter influenciado pouco.

A vitória de Jair Bolsonaro foi a de um candidato com pequena estrutura partidária e que contava com 9 segundos em cada um dos programas eleitorais diários e 11 inserções de 30 segundos no primeiro turno. Como comparação, Fernando Haddad tinha 2,23 minutos no programa e 189 inserções. O candidato mais “rico”, Geraldo Alckmin (PSDB), com mais de 5 minutos, não chegou a 5% dos votos válidos.

Há várias nuances aí para não cair no lugar-comum de que um fator isolado definiu o resultado. Óbvio que as fake news distribuídas por redes sociais tiveram influência, mas foram acompanhadas da facada no candidato vencedor, que lhe deu cobertura espontânea em todas as mídias (por mais tempo que outros candidatos), a hegemonia do discurso da antipolítica, além da prisão do candidato favorito nas pesquisas, o ex-presidente Lula.

Mas, para analisar mais profundamente um desses fatores, as redes sociais, e principalmente o WhatsApp, é bom entender o porquê de sua efetividade. Pesquisa do Datafolha (2018), no primeiro turno da eleição presidencial, mostrou que 66% dos eleitores brasileiros tinham contas em redes sociais, o que chegava a 90% entre os mais jovens. E 65% dos entrevistados declaravam ter conta nesse aplicativo. Nos eleitores de Bolsonaro, 70% estavam conectados ao WhatsApp, e 53% informavam-se sobre política e eleições principalmente no aplicativo.

Outro ponto importante é que a rede de Bolsonaro era feita de diversos níveis. Redes profissionais e com empresas contratadas, grupos formados a partir de linhas de transmissão entre profissionais como, por exemplo, taxistas e caminhoneiros, amigos com as mesmas ideias ou mesmo de organizações, até chegar às famílias. Tudo de maneira descentralizada. A mensagem saía de grupos de maior “centralidade” para outros “periféricos”.

Entender esse funcionamento é essencial para tentar responder se as redes e, principalmente o WhatsApp, terão a mesma importância este ano. Provavelmente, a história se repetirá como farsa, e o resultado pode ser diferente. Depois de 2018 foram criados mecanismos de vigilância e regras para tentar evitar (ou pelo menos diminuir) o efeito das fake news pela Justiça Eleitoral e mesmo pelas empresas proprietárias das redes. A efetividade desses mecanismos ainda terá de ser testada.

Porém, outros fatores externos devem mudar as eleições de 2022. Primeiro, espera-se que não haja atentado a nenhum (a) candidato (a). O "lavajatismo" e a prisão de Lula parecem coisas de um passado distante. Além disso, Bolsonaro não é mais o desconhecido, o antipolítico que ia mudar tudo. Ficou quatro anos numa administração mal avaliada, com pesquisas apontando rejeição superior a 50%.

Tudo isso aponta para a diminuição do poder das fake news. Mas, provavelmente, a TV e o horário eleitoral gratuitos não terão o papel preponderante de antes de 2018, por conta do espraiamento da informação em outros meios e também do formato definido nos últimos tempos, com menos tempo de programa e menos dias de campanha. Mas tudo isso são hipóteses que podem se desmanchar com os resultados das próximas pesquisas ou, mais importante, com o resultado do Data-Urna.

Edição: Pedro Carrano