Paraná

Eleições 2022

Candidaturas defendem propostas de mandatos populares para efetivar políticas públicas

Carol Dartora (PT) e Paulo Porto (PT) foram os candidatos entrevistados no BdF Eleições

Curitiba (PR) |
Carol Dartora e Paulo Porto participaram do programa BdF Eleições, do Brasil de Fato Paraná - Reprodução internet

O programa BdF Eleições entrevista todas as terças candidatos e candidatas a cargos no legislativo nas eleições de 2022. Carol Dartora (PT), candidata a deputada federal, e Paulo Porto (PT), candidato a deputado estadual, foram entrevistados e destacaram a importância de se construir mandatos populares.

Paulo Porto é indigenista, professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e foi vereador por dois mandatos na cidade de Cascavel, no oeste do Paraná. Ele atua com foco nas lutas dos povos indígenas, na reforma agrária, em atenção ao movimento sem terra e aos pequenos agricultores. Para ele, sua grande pauta, hoje, é a luta contra os agrotóxicos e a desmistificação sobre o agronegócio.

“O agronegócio mente. Ele cria uma narrativa com uma mídia muito cúmplice em relação à sua importância para a economia nacional. Como se o agronegócio fosse a coisa mais importante do Brasil e nós tivéssemos que criar políticas exclusivas e prioritárias para o agronegócio atropelando as demais políticas”, disse.

Para sua candidatura, Paulo Porto formou um coletivo com caciques representantes de 15 povos indígenas da região de Cascavel. “Não tem como não falar da questão indígena quando você fala da questão agrária. Na região oeste do Paraná, a gente tem 23 aldeias e 20 estão em litígio, não estão reconhecidas pelo Estado brasileiro, então você imagina a tragédia social que é isso com esses povos”, pontuou.

O candidato explica que o movimento dos indígenas de debater a política institucional de maneira mais orgânica é recente. “As lideranças indígenas são todas muito articuladas, formam um celeiro de lideranças. Entender que existe um projeto histórico à revelia desses povos é um debate novo, que ocasionou de uma maneira muito positiva a vinda dessas lideranças para o debate institucional. Vamos ter nessas eleições muitos candidatos indígenas”, aponta. Para Porto, os povos indígenas são o movimento organizado que mais enfrentou e desafiou o atual governo.“Talvez o único movimento que conseguiu fazer amplas mobilizações.”

Uma das principais tarefas de seu coletivo na Assembleia Legislativa do Paraná, se eleito, é estabelecer uma política pública que atenda aos povos indígenas do estado para a implantação de casas de passagens nas cidades, política que atualmente depende dos municípios. “Nós temos que criar uma política pública estadual para acolher essas comunidades com o mínimo de respeito que elas merecem. Segue sendo uma demanda muito importante”, afirmou.

Deslocamento social

Carol Dartora é candidata a deputada federal também pelo Partido dos Trabalhadores. Professora da rede estadual, dirigente sindical, mestre e doutoranda, em 2020 foi a primeira mulher negra eleita vereadora da cidade de Curitiba, com mais de oito mil votos.

Para ela, sua eleição já foi uma demonstração da necessidade da população de se reconhecer nos espaços de poder, mas apenas isso não basta. Dartora defende que esse deslocamento social tem que também ser o marcador de gênero e raça para se converter em políticas públicas. E foi isso que ela construiu nesses dois anos de mandato e que agora impulsionam sua candidatura para a Câmara Federal.

“Nossa candidatura a deputada federal vem dentro de uma leitura do momento, leitura do contexto e também do acúmulo nesse período do mandato como vereadora. A gente vive uma sub-representação gigantesca das classes populares, a gente tem uma sub-representação de mulheres. Hoje são 513 deputados federais e apenas 77 são mulheres, é um número muito baixo, pequeno, vexatório, nos envergonha pensar o quão aquém de uma equidade de gênero a gente está. Dessas mulheres, menos ainda são negras, menos ainda são indígenas”, explicou.

Das políticas públicas busca construir, Dartora conquistou a aprovação de duas importantes leis que são marcadores sociais: uma lei de cotas para concursos públicos em Curitiba e a priorização de processos para mulheres em situação de violência. “A gente precisa da ocupação dos espaços, mas não ocupar por ocupar, a comemoração da cidade não é só porque é uma mulher negra. É porque essa experiência precisa se converter em política pública, essas identidades precisam ser contempladas numa construção efetivamente democrática”, afirmou.

Desafios na educação

A pauta da educação também é prioritária para ambos os candidatos, que são professores de formação. Carol Dartora explicou os diversos problemas enfrentados na educação pública, tanto do país quanto no estado. “A educação vem sendo desmontada, destruída, e isso é projeto. Estamos vivendo tanto a destruição da carreira dos professores, que estão com salários defasados, como a destruição do campo da educação como um espaço de formação do senso crítico e também de possibilidade de avanço para a classe trabalhadora, para as pessoas do campo”, denunciou.

Na avaliação da candidata, é preciso uma bancada forte da educação nas casas legislativas para reverter esse processo. “A gente vai precisar de uma bancada forte da educação tanto em nível federal quanto em nível estadual para promover essa reconstrução de uma educação emancipatória, democrática e popular”, afirmou.

Paulo Porto completa que também é preciso debater a autonomia das escolas no Paraná, especialmente no campo, com suas especificidades. Ele aponta como medidas fundamentais, por exemplo, ampliar as licenciaturas de formação de professores e investir no transporte escolar no campo.

Enfrentamento à violência

Carol Dartora e Paulo Porto também falaram sobre a violência política que o campo progressista enfrenta no país, desconstruindo a narrativa de polarização.

Para os candidatos, o que ocorre é ataque político, a exemplo dos diversos episódios que recentemente ocorreram no Paraná, como o assassinato de Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu e a cassação de Renato Freitas, em Curitiba. “Renato Freitas sofre perseguição explicitamente política, com o componente da violência racial muito grande”, afirmou Carol Dartora.

Para ela, a violência política é histórica no país, mas a sensação de acirramento de violência neofascista vem pelo fato de movimentos populares passarem a ocupar os espaços de poder.

O BdF Eleições é transmitido todas as terças, às 11h30. A íntegra da entrevista com Carol Dartora e Paulo Porto está disponível no canal do Brasil de Fato Paraná no YouTube.

Edição: Ana Carolina Caldas