Paraná

Xenofobia

Após ameaças, comunidade árabe pró Lula adia evento em apoio ao ex-presidente em Foz do Iguaçu

Evento em apoio à eleição de Lula teria presença de Geraldo Alckmin, Roberto Requião e Gleisi Hoffmann

Foz do Iguaçu (PR) |
Lula e Alckmin
Candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin estaria no evento - Nelson Almeida/AFP

"Eu vou lá tacar ovos". "Árabes bandidos". "Brimos com segundas intenções". Esses são alguns dos comentários xenófobos relacionados ao jantar em homenagem ao ex-presidente Lula (PT) organizado por parte da comunidade árabe que vive em Foz do Iguaçu, região oeste do Paraná.

Previsto para ocorrer na próxima terça-feira (23), o evento passou a ser alvo de duras críticas, ofensas e até ameaças em páginas de Facebook com viés conservador. Sem confirmar oficialmente a questão da aparente violência política, a organização do ato terminou por adiar sua realização.

"As lideranças brasileiro-árabes de Foz do Iguaçu que apoiam a chapa Lula-Alckmin para a Presidência da República vêm a público informar o adiamento do evento de campanha do ex-presidente Lula, que teria as presenças de seu vice, Alckmin, o candidato ao governo do Paraná, Roberto Requião, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. A nova data será divulgada em breve", pontuam, por meio de nota, ao justificarem a incompatibilidade de agendas como causa oficial de seu adiamento.

Ainda segundo nota encaminhada à imprensa regional, a comunidade árabe idealizadora do jantar se apresenta como progressista ao pedir votos para a dobradinha Lula/Alckimin. "Nos somamos aos milhões de brasileiros que acreditam num país melhor, mais justo, soberano, próspero e democrático, alcançável com Lula e Alckmin governando o Brasil, apoiados por ampla coalizão de partidos e forças sociais, de todas as ideologias e visões de mundo, irmanadas pelo bem comum de reconstruir o nosso país."

Sede da segunda maior comunidade árabe do Brasil, estima-se que Foz do Iguaçu conte com uma população árabe formada por cerca de 25 mil pessoas. "Acreditamos na correção de nossa posição e tivemos prova disso: nas poucas horas em que ofertamos os 400 convites para o jantar que aconteceria após o encontro, quase todos foram vendidos. Somos gratos a estas centenas de pessoas, que representam outras centenas, senão milhares, no mínimo seus familiares que, como nós, acreditam na força da democracia, da concórdia, da paz, da amizade, do progresso e da prosperidade."

Sobre as reações contrárias, o grupo lamentou. "Lamentamos, de outro lado, as pouquíssimas manifestações que buscaram descaracterizar o evento, promovido nos mais elevados valores democráticos que norteiam nosso povo. A diversidade política é inerente à democracia, sem a qual não existe. A sociedade brasileira é diversa em opiniões e preferências, assim como os diversos grupos que a integram e lhe dão vida e pujança. E nós temos uma escolha legítima, que é Lula e Alckmin."

Por fim, ao destacarem o posicionamento pró-Lula, a comunidade árabe que encabeçou o ato defendeu o respeito à divergência política necessária ao pleno exercício da democracia. "A diversidade é o oxigênio da democracia e do progresso. Censurar, perseguir, ofender, ameaçar, promover a intolerância e o ódio entre pessoas e grupos, ao ponto de fazer que alguns temam por suas próprias segurança e integridade, jamais! Os direitos à vida e à liberdade estão acima das divergências e devem ser defendidos por todos."

Edição: Lia Bianchini