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Audiência pública resgata luta dos paranaenses contra a privatização da Copel

Durante o evento, foi lançado o livro “A Copel é nossa”, com presença de lideranças políticas, sindicais e estudantis

Curitiba (PR) |
Evento marcou o lançamento do livro "A Copel é nossa", do escritor e engenheiro eletricista Sérgio Inácio Gomes - Foto: Divulgação/Senge-PR

A Copel é nossa? Nem tanto mais. Este é o saldo da audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), nesta segunda (15). Mas se a empresa não foi privatizada, como conta o escritor e engenheiro eletricista Sérgio Inácio Gomes, autor do livro "A Copel é nossa", porque ela não é mais tão nossa?

Porque embora ela não tenha sido vendida no passado, atualmente ela está sendo dilapidada de três formas: com a privatização de partes, como aconteceu com a Copel Telecom; pela abertura de capital na Bolsa de Valores, fazendo com que a direção da empresa atue mais voltada aos interesses de seus acionistas privados; e com o aumento da terceirização, fazendo com que a quantidade de terceiros seja, atualmente, maior do que do quadro próprio.

A audiência foi proposta pelos deputados Professor Lemos (PT) e Tadeu Veneri (PT), com apoio do Senge-PR, Sindiedutec, CREA-PR, UNE, UPES e entidades que participaram ativamente da mobilização que impediu a privatização da Copel, há 21 anos, em 15 de agosto de 2001. O evento também marcou o lançamento do livro "A Copel é nossa."

O presidente do Senge-PR, Leandro Grassmann, lembrou que o governo estadual do Paraná já privatizou a Copel Telecom e quer se desfazer ainda da Compagás, da Usina Hidrelétrica Foz do Areia e da Ferroeste. Para impedir essas vendas, novamente é necessário mobilização política e, principalmente, social.

“É dentro deste cenário que se repete, passadas duas décadas das privatizações do período do presidente Fernando Henrique Cardoso, que o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) e entidades parceiras publicam o livro 'A Copel é nossa', uma obra que marca os 21 anos da luta em defesa da manutenção da Companhia Paranaense de Energia como empresa pública”, comparou o presidente.

Orgulho dos paranaenses

A história precisa ser contada e recontada para que se aprenda com ela. Essa é a avaliação do deputado estadual Tadeu Veneri, que é autor do prefácio do livro. “Se a gente não contar nossa história, outros poderão contar de uma forma não real. Os trabalhadores precisam ser protagonistas de sua história”, disse o deputado.

Na audiência pública, Veneri lembrou da CPI da Copel em 2003, da qual fez parte, junto ao então deputado Ratinho Junior, que, agora como governador, está sendo responsável por entregar a maior empresa paranaense aos interesses do mercado. “Ao ler o trabalho de Sérgio Inácio, ficam evidentes o quanto foi dura a luta para preservar a Copel e o avanço do processo de destruição da empresa nos últimos anos”, escreveu o deputado, no livro.

Sentimento de perda também compartilhado pelo deputado Requião Filho (PT). “A Copel é uma empresa que pode fomentar a economia, o campo, gerar empregos. Mas a Copel de hoje trabalha para gente de fora do Brasil. Trabalha para os acionistas. Hoje temos uma privatização às sombras”, avaliou.

Os atuais donos da Copel

Tem razão o deputado filho do ex-senador Roberto Requião, que foi um dos três senadores contrários à privatização. Segundo o autor, Sérgio Gomes, os dividendos da Copel estão abastecendo fundos de pensão, principalmente nos EUA e Canadá. “Para ter uma ideia de quem são os poderosos 'sócios' da Copel, basta apenas comentar que a BlackRock administra US$10 trilhões pelo mundo afora. Isso representa a metade do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, de US$ 21 trilhões”, apontou o autor.

Organização popular

O deputado Professor Lemos propôs a realização da audiência pública 21 anos após a sessão que votou o Projeto de Iniciativa Popular (PLIP) proibindo a venda de estatais sem a participação do povo. A sessão mais longa da história é um marco da participação popular.

“Foi o PLIP que mais recebeu assinaturas na Alep e que tramitava em 15 de agosto de 2021. Foi a sessão mais longa da história, passando de 20 horas, que o livro recupera”, destacou o deputado.

Mas que fim levou o PLIP? O autor contou:

“Muitos ficarão em dúvida, desconhecem se houve desdobramentos depois daquelas tumultuadas sessões legislativas dos dias 14, 15 e 20 de agosto, em que uma delas foi encerrada num dia, mas foi retomada depois, sob a “proteção” de um exército de 1500 policiais militares, ocasião em que, na intenção de resolver a questão de forma rápida e conclusiva, o PL 248/2001 foi votado e 'rejeitado', por 27 deputados contra e 26 a favor do projeto de lei de iniciativa popular. Pronto, resolvido."

Apoios

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR) esteve presente na audiência pública, assim como a Fisenge e outros sindicatos ligados à Copel.

O presidente do CREA-PR, Ricardo Rocha Oliveira, destacou a importância da luta coletiva. Ele ainda lembrou que a Copel é a maior empresa de engenharia do estado. “A história é aquela que a gente escreve. Se não registra, ela passe e até se esquece. E a história é, antes de tudo, um posicionamento político”, enalteceu.

Posicionamento este adotado pelo Conselho há mais de duas décadas, como resgata o livro. “Além dos sindicatos e movimentos sociais, é preciso ressaltar o papel de liderança do presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR) da época, o colega Rossafa, que debateu profundamente a questão com todo seu profissionalismo e levou o Conselho Profissional da Engenharia a tomar o posicionamento na defesa da Copel”, anota a obra na página 40.

O livro

Em oito capítulos, o livro "A Copel é nossa" aborda tanto o período quanto duas décadas da maior empresa do Paraná. No primeiro conta a história da Copel e como era a eletricidade no Paraná quando a Copel foi criada. No capítulo seguinte, “Os movimentos sociais: nossa trincheira de lutas”, descreve a luta sob a narrativa dos movimentos populares.

O livro “A Copel é nossa” pode ser adquirido por R$ 60. O frete é grátis. O pagamento é feito por PIX, após preencher o formulário no site.

Edição: Lia Bianchini