Paraná

COMUNICAÇÃO

Opinião. As redes sociais, a dor de cada um, e as distâncias na comunicação

"Nós certamente sentimos intensidades diferentes de dor"

Curitiba (PR) |
"Porém, nós certamente sentimos intensidades diferentes de dor" - Foto: - Giorgia Prates

Você já dividiu seus pensamentos ou sentimentos com alguém e parecia que aquela pessoa não conseguia compreender o que você estava querendo dizer? Era como se você e aquela pessoa estivessem falando em línguas diferentes.

Para Wittgenstein, o que aconteceu foi mais que uma impressão, foi um fato. Segundo o filósofo, cada um de nós possui uma língua privada, uma língua própria, na qual somos capazes de expressar o que pensamos e sentimos.

Com essa língua nós conversamos com o nosso interior e a compreensão é perfeita, pois você tem compreensão plena do sentido que dá aos termos utilizados.

Já quando conversamos com alguém temos um problema de comunicação. Vou usar um exemplo muito simples e que me acompanha desde a infância. Quando eu aprendi as cores eu ficava pensando se as outras pessoas enxergavam as cores da mesma forma que eu enxergava. Eu pensava o seguinte: “Imagine que eu enxergo a cor amarela e chamo ela de amarelo, mas uma outra pessoa enxerga a cor azul onde eu vejo amarelo, mas chama essa cor de amarelo. Se um dia ela tivesse acesso aos meus olhos, ela diria que o meu amarelo era azul, pois ela está enxergando azul.” Crescendo eu percebi que isso é bastante comum com sensações e sentimentos. Se eu digo que cortei meu dedo, você imaginará a dor que você sentiria se cortasse o seu dedo.

Porém, nós certamente sentimos intensidades diferentes de dor. Um corte no meu dedo pode gerar uma dor insignificante, enquanto para você pode ser uma dor muito intensa. Há também a questão do histórico. Talvez um parente seu tenha morrido devido a uma infecção que começou com um corte no dedo. Dizer para você que eu cortei o dedo será muito mais impactante para você do que será para mim viver a experiência.

Faz alguns anos que me afastei de boa parte das redes sociais – Facebook, Instagram etc. -, mas ainda me recordo de como tais ambientes eram capazes de gerar debates acalorados. Entretanto, os debates eram cheios de frases de efeito, risadas, ofensas, memes. E sempre que você conversava com pessoas que estavam fazendo parte daquele debate ouvia-se algo como “meu ponto de vista é óbvio!”.

Talvez essa obviedade se deva ao fato de que estejamos falando línguas diferentes. Bolsonaro fez do comunismo o seu grande inimigo, aquele contra o qual ele luta. Mas o que ele quer dizer com comunismo? Digo isso porque já fiz uma curta investigação empírica acerca do tema. E concluí que existem muitas interpretações para o que é comunismo. E esse talvez tenha sido um dos conceitos mais demorados que formei. Justamente porque há vertentes e complexidade na definição. Mas alguns pontos ficam claros quando estudamos. Por exemplo, o comunismo não deseja uma estrutura estatal de comando, mas que o povo comande a si mesmo diretamente. Porém, é normal ouvir de bolsonaristas que um dos sinais da chegada do comunismo é o Estado grande.

Duas lições importantes da minha vida: Compreender melhor o que estão querendo dizer com certos termos e esclarecer esses termos antes de qualquer discussão ou debate. E ter certa humildade para admitir que talvez a minha compreensão sobre um fenômeno esteja fora daquilo que já foi esclarecido com muito debate. Achar que comunismo é ter estado grande não é opinião, é erro. Esse debate já foi feito e você só está atrasado.

Edição: Pedro Carrano