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Artigo | Urgente: A fome tem pressa

"Precisamos fortalecer a agricultura familiar e produzir mais alimentos que cheguem na mesa dos brasileiros"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Em apenas um ano quase dobrou o número de brasileiros que passam fome" - Matheus Alves

Estamos vivendo uma situação de violência extrema em nosso país rico e altaneiro, especialmente os mais pobres, vítimas de uma superestrutura que oprime e concentra. Somos manchetes no mundo inteiro pela guerra interna que enfrentamos, cujo principais inimigos são a miséria e a riqueza, que combinadas produzem um resultado que chama atenção de quem olha de longe e castiga quem mora perto. Viver no Brasil é muito perigoso, realmente, pois, as políticas públicas em favor dos mais pobres estão sendo aniquiladas de tal sorte que mata crianças e adultos. 

Confesso que gostaria muito de trazer boas notícias e apontar caminhos que pudessem produzir uma vida mais digna para os gaúchos e brasileiros. Contudo, encontramos um cenário muito complicado e arriscado em que farei alguns apontamentos nesse brevíssimo texto. 

Os brasileiros e o mundo acompanharam, no dia 8 de junho de 2022, a publicação do mapa da fome no Brasil e a realidade ali demonstrada é mais dura do que aquela que se imaginava. Cerca de 33,1 milhões de pessoas estão sendo vitimadas pela fome, sendo 14 milhões a mais do que aquela encontrada em 2021. São dados que foram levantados e sistematizados pelo 2º Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar e Nutricional, da Rede PENSSAN. No último levantamento, realizado em abril de 2021, constou-se que 19 milhões estavam sob essa condição de vulnerabilidade social e alimentar aguda. Portanto, em apenas um ano quase dobrou o número de brasileiros que passam fome.

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A pandemia aprofundou esse quadro de miséria associado com a extinção de programas federais de apoio e compra de alimentos. Lembrando que em 2014 o Brasil investia mais de 580 milhões de reais por ano na compra de alimentos da agricultura familiar para as comunidades e populações vulneráveis. Até o mês de junho de 2022, o governo investiu 89 mil reais para compra de alimentos. Realmente um valor irrisório e que demonstra o total descompromisso do governo do inominável. 

Pesquisadores que acompanham essa pauta - destaco aqui o papel do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA) - defendem que a carência de alimentos para nossa população é efetivamente um prejuízo insanável na formação psíquica e social das nossas crianças e adolescentes. A deficiência nutricional compromete o crescimento e a inteligência das crianças e tira a força dos adultos, submetendo-os a uma tortura angustiante: a fome. 

De outra banda, o agronegócio brasileiro nunca produziu e exportou tanto para o mundo. Com alta tecnologia, um setor social beneficiado por financiamentos e negociações internas e externas (Lei Kandir, que isenta do ICMS as exportações de produtos primários e semielaborados, ou seja, não industrializados). A profissionalização do agro brasileiro vem se transformando de proprietários individuais para grandes empresas na produção de grãos. Ao mesmo tempo que dólar se valorizou, a inflação subiu, os insumos foram para as alturas e o povo se desempregou ou teve sua renda desidratada pela inflação, o agronegócio, ainda ganha muito dinheiro.

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Não estou condenando a produção do agronegócio e nem desferindo críticas, apenas me utilizando desse exemplo para que vocês compreendam que não é razoável que alguns ganhem muito e a maioria fique desassistida pelo poder público. As “commmodities” são importantes para geração de divisas para o país, contudo, há um paradoxo que o Estado brasileiro precisa resolver. A produção de alimentos precisa chegar na mesa do brasileiro prioritariamente. É fundamental, para existirmos como nação, que haja mecanismo que garantam a segurança alimentar. Por isso o Estado tem que ser o necessário e forte quando encontramos um quadro como esse em que “a riqueza está com joelho no pescoço dos pobres”.  

Na outra semana produzi um artigo, cujo título foi a “crise entrou na panela”, e que frente aos novos dados disponibilizados fica a pergunta: mas que panela? A fome tem pressa, tem urgência, não podemos ficar passíveis frente a essa desgraça que assola crianças e adultos do nosso país. Não me contento em colocar a cabeça no travesseiro à noite e lembrar que milhões de brasileiros estão com suas barrigas vazias. A fome dói. Precisamos imediatamente instituir o programa de renda básica para o nosso povo nos moldes propostos pelo companheiro Eduardo Suplicy, ex-senador e vereador de São Paulo, e compreendido por tantos agentes sociais no Brasil e do RS de que a “saída é pela porta”.

Precisamos fortalecer a agricultura familiar e produzir mais alimentos que cheguem na mesa dos brasileiros. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 70% dos alimentos que chegam na mesa dos brasileiros são oriundos da agricultura familiar ou artesanal. Contudo, sem condições, cadeias inteiras são desativadas por falta de incentivo, produzindo uma escassez na oferta desses itens tão necessários. 

Frente a isso, esse ano temos a maior arma para combater essa falta de perspectiva no Brasil e no RS: o voto. Votar em Lula é uma necessidade de sobrevivência dos pobres brasileiros que não veem uma alternativa de curto e médio prazo. Hoje dá para comparar o que foi o Brasil no governo Lula e o que está sendo agora e por esses motivos não vamos ficar constrangidos de dizer bem alto, Lula já. Urgente: a fome tem pressa. Não há sinais de que nesses próximos meses tenhamos uma solução. Aqui no Sul é ainda pior em face do rigoroso inverno que estamos atravessando, com milhares de brasileiros sobrevivendo nas ruas, passando frio e fome, totalmente desalentados. 

Um abraço fraterno a todos e todas leitores e vamos exercitar ainda mais a solidariedade nessa difícil quadra da história. Porém, sairemos de cabeça erguida e com dignidade.

*Adão Pretto Filho é militante dos movimentos sociais e ex-vereador de Viamão (RS).

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira