Paraná

Tudo caro

Café da manhã cada vez mais caro: pão, leite e café subiram mais de 25% em um ano

Em Curitiba, cesta básica custa R$ 701,26 reais, equivalente a mais de 60% do salário mínimo

Curitiba (PR) |
Trabalhadores relatam dificuldades para garantir os alimentos comuns do café da manhã brasileiro - Foto: Giorgia Prates

O dia do trabalhador está cada vez mais difícil. Quando acorda e vai tomar o café da manhã já se assusta com os preços. Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que, de junho ano passado até junho deste ano, o café praticamente dobrou de preço, o leite subiu quase 30% e o pãozinho francês teve aumento de cerca de 25%.

Como o dinheiro no bolso não vem aumentando, por conta do desemprego e da política econômica do governo Bolsonaro, a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos também mostra que é necessário trabalhar cada vez mais para comprar os itens básicos da alimentação.

Em Curitiba, por exemplo, uma cesta básica de alimentos para a família custa, segundo o estudo, R$ 701,26, o equivalente a mais de 60% do salário mínimo. Para comprar só isso, são necessárias mais de 127 horas de trabalho, mais da metade do mês para quem ganha o mínimo. Sem contar os outros gastos fixos, como água, luz, transporte.

Para entender como o aumento do preço dos alimentos tem se refletido no dia a dia da população, o Brasil de Fato Paraná foi às ruas ouvir trabalhadoras e trabalhadores.

Leite só de vez em quando 

Antônio Jesus Cardoso de Lima Filho é trabalhador da reciclagem e presidente da Associação de Catadores Novo Amanhecer, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Na mesa de sua casa, seu Antônio conta que o leite passou a ser item raro. 

“O leite é muito de vez em quando. Faz tempo que eu não compro, sabe. Antes, quando comprava com mais frequência, estava no preço de R$ 3,80, por aí. Agora, tem que pesquisar bastante de mercado em mercado, mas por menos de R$ 5,00, não encontra. Eu fico com dó de quem tem criança, não está sendo fácil."


Seu Antônio, trabalhador da reciclagem, conta que o leite deixou de ser comum na mesa de sua casa / Arquivo pessoal

Mãe deixa de comer para garantir leite das crianças 

Luciana Alves, moradora do CIC e mãe de 3 filhos, dois em idade escolar e uma menor de 8 meses. As três crianças têm o leite como parte das refeições ao longo da semana. Ela e o marido são catadores de recicláveis e viram o preço do que vendem diminuir e, de outro lado, o gasto com a comida aumentar.

“Meus filhos todos tomam leite. Está sendo bem difícil conseguir comprar com essa alta de preços. Antes, os reciclados eram mais bem pagos também, mas agora diminuiu nossa renda com o que estão pagando nos recicláveis. Com isso, a gente deixa de comer, de comprar comidas para garantir o leite das crianças”, diz. Na ponta do lápis, Luciana conta que o gasto em leite dobrou. “Antes eu gastava entre R$ 150 e R$ 200. Agora, entre R$ 300 e R$ 400. Está um absurdo”, conta.


Para garantir o leite das crianças, Luciana deixa de comprar comida para ela e o marido / Arquivo pessoal

Por que está aumentando 

Segundo Sandro Silva, supervisor técnico do Dieese no Paraná, vários fatores explicam a subida de preços dos alimentos.

No caso do leite, já vinha subindo desde fevereiro, em Curitiba. Teve pico de aumentos em março e abril, caiu em maio, e voltou a subir fortemente em junho deste ano, com mais de 9%.

Os números têm a ver com o aumento do custo de produção (combustíveis e outros insumos), com pessoas abandonando a produção de leite e a entressafra agora, com o inverno.

No caso do café, a grande alta foi no ano passado, pela redução da oferta internacional e a pressão dos custos, principalmente do frete e da subida do dólar, já que é exportado.

Preços nas alturas 

Em 12 meses, veja quanto subiu cada produto em Curitiba, segundo dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica do Dieese:

  • Café: 98,71% 

  • Tomate: 56,19% 

  • Farinha de trigo: 44,38% 

  • Açúcar refinado: 38,44% 

  • Batata: 30,00% 

  • Leite integral: 29,24% 

  • Pão francês: 25,00% 

  • Manteiga: 23,24% 

  • Banana: 15,69%.

Edição: Lia Bianchini