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Perfil. Mosaicista produz quadros em homenagem a Moïse e em defesa de Renato Freitas

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Equatoriano nascido em Riobamba, exilado político em Curitiba desde o fim dos anos 1980, a História, as dores, os símbolos e o suor latino-americano fazem parte de sua obra - Giorgia Prates
Equatoriano usa técnica a serviço das lutas antirracistas e dos movimentos populares

Episódios recentes e marcantes do racismo estrutural brasileiro, que geraram resistência antirracista, contaram com o apoio de intervenções artísticas do mosaicista equatoriano Javier Guerrero.

Guerrero elaborou uma placa com o retrato do imigrante congolês Moïse Kabagambe, violentado e assassinato no quiosque Tropicália, no Rio de Janeiro, no dia 24 de janeiro. O trabalho chegou às mãos da família de Moïse.

Já no dia 25 de junho, no marco da luta contra a cassação do vereador Renato Freitas (PT), em articulação com o mandato e com a Cúria Diocesana, Guerrero instalou uma placa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Benedito.

Ali foi o local do protesto, em fevereiro, contra o assassinato de Moïse, e a entrada dos manifestantes, no recinto vazio, serviu de pretexto pelos vereadores para a cassação de Freitas.

“Renato mostrou coerência na defesa da população negra, dos moradores de rua do centro e da periferia. Ele nos representa. Meus trabalhos são sofridos. Sofro porque me entrego totalmente. Pela primeira vez em 32 anos de Brasil me sentia representado na Câmara”, afirma Guerrero, emocionado.

Nuestra America

No caso da obra de Javier, o artista realiza a aliança da técnica com a visão social da arte, bem como faz o resgate do imaginário da esquerda, por meio de série de retratos de homens e mulheres revolucionárias de cada país da América Latina e Caribe. Guerrero já retratou figuras fundamentais da história da luta dos povos no continente, caso de Carlos Marighella, Emiliano Zapata (México), Manuela Sáenz (Equador), e também de escritores e escritoras populares, caso de Aimé Cesaire (Martinica), Leonel Rugama (Nicarágua), Mirta Aguirre (Cuba), Claude McKey (Jamaica), Jacques-Stephen Alexis (Haiti), entre vários nomes.

Nascido em Riobamba, ao sul do país, Guerrero participou da luta político-militar nos anos 80 no Equador, no interior de uma organização chamada Alfaro Vive, que resgatava o imaginário do nacionalista Eloy Alfaro, um movimento que foi rescaldo das lutas guerrilheiras dos anos 70 e enfrentou reação declarada do presidente dos EUA à época, Ronald Reagan.

Guerrero foi preso e torturado. Na condição de exilado político, fixou-se em Curitiba nos anos 90. Sua obra retrata a História, as dores e os símbolos latino-americanos.

Agenda da luta de classes

Guerrero é dos poucos artistas plásticos no Brasil cuja produção responde à agenda da luta de classes e dos movimentos populares. Retomando a tradição do muralismo mexicano e nicaraguense, seus trabalhos são feitos e muitas vezesz também expostos em locais públicos.

Com isso, surgiram painéis, por exemplo, na época da solidariedade mundial com a Comuna de Oaxaca (México – 2006); mais tarde ele fez o painel em homenagem ao comunicador popular negro, Anderson Leandro, brutalmente assassinado em 2012.

Suas obras passaram também por obras contra a privatização da Petrobras e também contra a fome, na época da prisão de Lula, em 2018.

 “A realidade me obriga a fazer isso (obras políticas) e não fazer peixes e flores, por exemplo. García Márquez falava que queria o socialismo o quanto antes para poder escrever algo que não fossem apenas tragédias”, compara.

 

 

 

 

 

Edição: Frédi Vasconcelos