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ANÁLISE I A economia poderia ser diferente?

A questão é que não estamos tão acostumados a refletir sobre o que é ciência

Curitiba (PR) |
O poder econômico e a distribuição de riqueza não têm nada de transcendental. Nós definimos assim e podemos definir diferente. - Giorgia Prates

Economia é ou não é ciência? Sim, economia é ciência. A questão é que não estamos tão acostumados a refletir sobre o que é ciência. Ser ciência não significa ser algébrico. Não significa que determinado campo apresenta suas soluções com fórmulas matemáticas e que causa e efeito estão perfeitamente alinhados.

Ser ciência significa possuir um objeto de estudo e poder tirar cada vez mais pedaços de falsidade daquele espaço. Há muita coisa que a física, a mais reconhecida das ciências não pode explicar, o que não significa que ela seja inútil, nem que ela não possa fazer algumas previsões acerca de certos fenômenos. A economia funciona da mesma forma. O artesanato intelectual é a chave para desvendar fenômenos em um campo científico.

Ser científico não significa ser separado do real e do político. Tudo é político. A física foi política quando cientistas que nasceram em países do eixo decidiram fabricar a bomba nuclear para os aliados. A biotecnologia é política quando decide focar seus esforços em determinados fármacos e não em outros, por exemplo. E a economia é uma ciência e, por ser ciência, política.

A questão não é entender os fenômenos econômicos puros, no vácuo, mas compreendê-los dentro das decisões políticas que fazemos e que deixamos de fazer. O fato de definirmos que riqueza pode ser acumulada e que a acumulação de riqueza gera poder é uma decisão política.

Portanto, a decisão de quem morre de fome e quem vive em abundância não é algébrica, é científico e política. Científica porque tem método, tem objeto, tem formulação. Política porque é definida, criada, aceita por nós. O poder econômico e a distribuição de riqueza não têm nada de transcendental. Nós definimos assim e podemos definir diferente.

Edição: Pedro Carrano