Na sexta, 24, em palestra na 19ª Jornada de Agroecologia, em Curitiba, João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, falou sobre os três modelos de produção agrícola que coexistem no Brasil há, pelo menos, 30 anos. Destacando que dois deles são ligados ao capital e, apenas, um aos trabalhadores.
Nesse primeiro grupo elenca o latifúndio, explica que não é apenas sinônimo de grande propriedade, mas sim um modelo de expropriar a natureza, explorar seus recursos. “Eles se apropriam de forma privada de bens que deveriam ser comuns, se apropriam das terras, das águas, da biodiversidade, dos minérios etc.”, afirma Stédile. Diz ainda que com a atual crise do capitalismo muitos foram explorar esses recursos, porque dão muito lucro e rapidamente, e que por trás dos lúmpens, que desmatam, mineram, estão grandes empresas estrangeiras, que ficam com a maior parte do lucro.
Agronegócio
O outro modelo, também ligado ao capital, é o agronegócio. Que, explica, é baseado em grandes extensões de terra, no monocultivo, uso de sementes transgênicas, agrotóxicos e na expulsão dos trabalhadores. “Agrotóxico não é necessidade agronômica, é para substituir a mão de obra, porque quanto menos trabalhador na fazenda, maior o lucro. Daí também a mecanização. Uma colheitadeira de algodão substitui 300 trabalhadores”, explica Stédile.
Ele também afirma que as grandes extensões de terra são determinantes pela necessidade de divisão de lucro. “Porque com agrotóxicos, quem fica com maior parte do lucro não é o fazendeiro. Cálculos da Conab mostram que, da renda agrícola da soja, o proprietário da terra fica com 13%. Cerca de 48% vão para as empresas de insumo ou com quem compra o produto para exportar (multinacionais), para a mão de obra sobram 8%”, informa Stédile.
Outra característica é que o agronegócio não produz alimentos, mas sim commodities para exportação, que são iguais em todo o mundo. “É uma dependência total do mercado externo. Reproduzindo a “platation”, usando em lugar dos escravos, o agrotóxico, que mata a biodiversidade e o solo”, explica. Por conta dos danos ambientais, como contaminação da água e do solo, Stédile afirma que agronegócio é um modelo é insustentável para o futuro porque não consegue produzir sem agrotóxico e sem contaminar o meio ambiente.
Futuro na agricultura familiar
Na palestra, o dirigente do MST lembrou que o único modelo ligado aos trabalhadores é a agricultura familiar, que produz alimentos como condição para sobreviver e vende o excedente. E que, por ser voltada ao mercado nacional, é responsável por 80% dos alimentos consumidos no Brasil. Outro fator importante é que o agricultor, nesse modelo, sabe que depende do equilíbrio com a natureza, “Se derrubar a mata, fica sem água, se agride a natureza, fica sem alimento. Além do que é um modelo que necessariamente se reproduz em comunidade. Camponês que quer imitar o agronegócio vai à falência”, diz.
Mas Stédile destaca que a agricultura familiar não pode ficar parada no tempo nem olhando para trás. “Cada universidade deveria ter curso de agroecologia, é necessário recuperar e comercializar sementes crioulas, mecanizar a agricultura familiar e aumentar a produtividade de trabalho, com adaptação a propriedades menores”, afirma. Cita como exemplo experiência que conheceu na China, em que viu colheitadeira do “tamanho de uma kombi”.
Diz que o próximo governo tem de ter programa voltado à agricultura familiar e à agroecologia, com importação de máquinas, criar unidades de bioinsumos e de fertilizantes orgânicos. “Tem de ter uma fábrica desses fertilizantes. E defensivos biológicos, mas tem de ter fábrica, não usar a urina da vaca. Tem de ter agroindústria de maneira cooperativa e com capital subsidiado”, elenca.
Edição: Lia Bianchini