Paraná

Povos indígenas

Jovens indígenas criam rede para fortalecer comunicação da região Sul

Mais de 20 jovens Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng participaram do 1º Encontro de Jovens Comunicadores Indígenas

Curitiba (PR) |
"Espero que esse seja o primeiro de muitos, para que todos saibam que o sul também é território indígena”, diz participante do encontro - Foto: Daniela Huberty/COMIN

Momento histórico para o movimento indígena da região Sul do país. Foi essa a definição dada para o 1º Encontro de Jovens Comunicadoras(res) Indígenas da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), que reuniu mais de 20 jovens na Aldeia Pirá Rupá, em Palhoça (SC), entre 5 e 10 de junho.

Durante cinco dias, jovens indígenas dos povos Avá-Guarani, Guarani Mbya, Guarani Nhandeva, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng participaram de um processo de imersão e formação continuada e de intercâmbio de saberes tradicionais e técnicos. Com o tema “A comunicação indígena que temos e a comunicação indígena que queremos ter”, o encontro finalizou com a criação de uma rede de comunicadoras e comunicadores indígenas da Arpinsul.

“A realização do encontro foi um momento importante e necessário para a comunicação indígena no âmbito da região Sul, pois foi a primeira vez que algo do tipo foi realizado. E o surgimento da rede, além de histórico, será uma ferramenta de empoderamento das jovens e dos jovens parentes”, afirma o coordenador de comunicação da Arpinsul, Yago Kaingang.

Yago ressalta ainda que a criação da rede é uma forma de contribuir para o fortalecimento da organização indígena “através do nosso próprio protagonismo e, a partir daí, levarmos nossas narrativas ao Brasil, ao mundo e ao universo. Da aldeia para o mundo!”.

Através da rede, a juventude poderá atuar diretamente em seus territórios e em suas organizações de base e ecoar suas vozes também para fora desses espaços, narrando suas próprias histórias e lutas. “A importância da criação dessa rede tem justamente como objetivo levar essas demandas e outras questões das pautas indígenas e fortalecer nossas lideranças da região Sul que, por muito, foram invisibilizadas a nível nacional”, reitera Laércio Karai, do povo Guarani Mbya.


Encontro reuniu mais de 20 jovens na Aldeia Pirá Rupá, em Santa Catarina / Foto: Daniela Huberty/COMIN

Atividades de formação

O encontro iniciou suas atividades com um momento de apresentação de todas e todos e acolhida do cacique da aldeia Pirá Rupá, Karai Jekupe, e do coordenador da Arpinsul, Marciano Rodrigues, que exaltaram a importante articulação da juventude indígena.

Durante o evento, as jovens e os jovens indígenas participaram de diferentes oficinas e rodas de conversa, todas mediadas por pessoas indígenas que já atuam com comunicação em seus territórios ou coletivos.

Com as assessorias de Ingrid Sateré Mawé e Cris Tupan, a juventude participou das oficinas “Criação de conteúdo e gestão de redes sociais” e “Fotografia e uso de tecnologias”.

Ingrid falou sobre a importância de aprender e usar as plataformas digitais e como funcionam, as possibilidades e desafios de conexão com as redes sociais e a construção de uma comunidade digital. Já Cris tratou sobre os olhares e narrativas a partir da fotografia e, em um momento prático, as jovens e os jovens fizeram fotografias buscando diferentes luzes, pontos de vistas e perspectivas.

Na oficina “Introdução à transmissão em redes sociais”, com a assessoria de Yago Kaingang, foram apresentados os tipos de transmissão, equipamentos, recursos básicos e os programas usados para transmitir. Todas e todos fizeram suas próprias transmissões em grupo.


Encontro finalizou com a criação de uma rede de comunicadoras e comunicadores indígenas da Arpinsul / Foto: Daniela Huberty/COMIN

Comunicação como ferramenta de luta

Além da formação técnica em comunicação, a juventude indígena que participou do encontro debateu sobre importantes temáticas da comunicação e da causa indígena.

A roda de conversa “Comunicação e Política”, com mediação de Marciano, discutiu o papel da comunicação nas lutas do movimento indígena diante da atual conjuntura de ataque aos povos indígenas, e a importância de ressignificar a comunicação pela resistência e coletividade. Com a mediação de Cris Tupan, as jovens e os jovens trataram sobre “Comunicação para diversidades e pelas lutas sociais” e conheceram uma vasta literatura sobre o movimento indígena.

“Foi um momento em que nós, jovens, sentamos e falamos sobre nossas crenças, tradição e também sobre as dificuldades que encontramos em nosso território tradicional. O encontro nos proporcionou várias dinâmicas, que podemos levar para nossa vida e luta diária [...] espero que esse seja o primeiro de muitos que virão, para que todos saibam que o sul também é território indígena”, diz Jaciara Priprá, do povo Laklãnõ-Xokleng.

*Com informações da assessoria de comunicação do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN).

Edição: Lia Bianchini