Paraná

13 DE MAIO

Artigo | Deram-nos a abolição, mas não a liberdade

Hoje marca-se 134 anos da abolição da escravidão, mas será que realmente os negros e negras tiveram liberdade?

Curitiba (PR) |
Porém, nos espaços de poder ainda concentram-se como maioria as pessoas brancas. Às vezes até conseguimos entrar na universidade, mas nem sempre conseguimos continuar - Giorgia Prates

Sabemos que há 134 anos a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, lei que foi responsável por “libertar” milhares de homens e mulheres de uma população escravizada por cerca de 388 anos no Brasil.

Nosso país foi o último das Américas a assinar a abolição da escravatura e provavelmente seria o último do mundo, se não fosse a pressão do movimento abolicionista nacional e internacional, que pressionou a princesa enquanto Dom Pedro II estava na Europa.

Logo após a abolição, homens e mulheres negros que foram tirados de suas terras e obrigados a construir este país com sangue e tortura, encontraram-se sem saída, a não ser ir para os morros e barracos.

O Estado, co-autor das agressões que ainda hoje nos causam tanta dor, nos virou as costas, acreditando que apenas a abolição já “estava de bom tamanho”.

Não nos deram o direito à educação, moradia, alimento, segurança e ainda aproveitaram-se da pós escravidão para nos explorar ainda mais. Mesmo com tudo isso, tivemos que nos adaptar às suas leis e quem não as cumprisse, seria encarcerado. Isso não te diz algo?

134 anos depois, o que temos?

Os navios negreiros se transformam em “transportes coletivos”, os capitães do mato, se tornaram a polícia que mais mata pessoas negras no mundo.

Hoje, somos 52% da população brasileira, somos a que mais trabalha e a que mais sofre. No sistema carcerário, a população negra chega 67% e cada 23 minutos morre um jovem negro no Brasil.

Porém, nos espaços de poder ainda concentram-se como maioria as pessoas brancas. Às vezes até conseguimos entrar na universidade, mas nem sempre conseguimos continuar, porque entre a fome e o livro, escolhemos a enxada e mesmo assim resistimos.

Em 2020, em Curitiba, elegemos para a Câmara Municipal mais duas pessoas negras, entre elas, Carol Dartora, primeira vereadora negra na história de Curitiba, e Renato Freitas, homem negro que estampa seu cabelo black como a coroa que realmente é, ambos com números expressivos de votos, porém a cada passo que avançamos, aumentam os nossos obstáculos.

Renato hoje corre o risco de perder seu mandato, por entrar na Igreja do Rosário, construída pelas mãos de pessoas negras, para pessoas negras, em um protesto pela vida, mais precisamente de um jovem negro, assassinado no Rio de Janeiro.

Esta é a face do que ocorre hoje, mesmo com a abolição, a liberdade não veio, nem aqui, nem no resto do mundo, a pele negra ainda sofre, seja na violência policial, no racismo estrutural ou no racismo institucional, que tenta nos tirar de quaisquer espaços de poder.

Enquanto não houver uma política de reparação, como a de cotas, nunca deixaremos de ser um país escravocrata, que encarcera e assassina a pele negra.

*Fotógrafo e integrante do mandato da professora Josete (PT)

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. 

Edição: Pedro Carrano