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29 de abril: uma ferida que não se fechou

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29 de abril: A data é um símbolo da luta dos trabalhadores da educação no Paraná. 
29 de abril: A data é um símbolo da luta dos trabalhadores da educação no Paraná.  - Joka Madruga
As maldades que Richa iniciou, Ratinho tem continuado e até ampliado

No dia 29 de abril, relembramos um dos acontecimentos mais tristes da história do Paraná, ocorrido no ano de 2015, na Praça Nossa Senhora de Salete, em Curitiba, entre as sedes dos poderes Executivo e Legislativo do estado. O Massacre do Centro Cívico, como ficou conhecido, ganhou as páginas dos principais jornais do Brasil e do mundo, revelando a tirania do governo Beto Richa (PSDB), o descaso de seus deputados aliados e o uso abusivo do aparato militar contra professoras, funcionárias de escola e profissionais de outras áreas do funcionalismo público estadual.

Em resposta a uma manifestação legítima e pacífica, que buscava evitar a aprovação de uma série de projetos que retiravam direitos da categoria, a Polícia Militar executou a ordem do governo e empreendeu uma ação violenta que resultou em mais de 200 pessoas feridas. Estima-se que foram usadas cerca de 4 mil munições. Durante cerca de duas horas, calcula-se que foram disparadas em média 20 balas de borracha e 11 bombas de gás por minuto contra as trabalhadoras e os trabalhadores.

Já se passaram sete anos dessa tragédia. Mas infelizmente, os episódios de violência contra as servidoras e servidores estaduais continuam. Ratinho Junior (PSD), que sucedeu Richa, se elegeu prometendo respeito e diálogo com a categoria, mas tem feito de tudo, menos cumprir o que prometeu. Na verdade, a única promessa que tem colocado em prática é a declaração que fez certa vez em um palanque, quando jurou “fidelidade canina” à Beto Richa.

As maldades que Richa iniciou, Ratinho tem continuado e até ampliado. Ele não tem honrado o pagamento da data-base, provocando uma defasagem salarial de mais de 34%, tem destruído as carreiras, aumentou o desconto previdenciário e passou a cobrar taxa até dos aposentados. Na Educação, o governo extinguiu o cargo público das funcionárias de escola e terceirizou a contratação dessas trabalhadoras, admitindo o pagamento de salários baixíssimos e sem a garantia de qualificação e formação, essenciais para a qualidade do ensino.

A pauta da categoria é extensa e tem sido cotidianamente ignorada e tratorada por manobras e práticas antissindicais. A mais recente maldade de Ratinho Jr. foi a substituição de professoras por aparelhos de televisão em salas de aula. O único propósito do governo tem sido destruir a educação e outros serviços públicos do estado do Paraná, destinando os recursos públicos para beneficiar empresas privadas. Ou seja, o massacre de 29 de abril de 2015 continua, mas agora as “bombas” não atingem apenas o funcionalismo, pois já afetam de maneira significativa a vida da população que mais precisa do Estado.

Sem uma educação pública de qualidade, com professoras e funcionárias bem remuneradas e escolas com estrutura, sem servidores com seus direitos respeitados, a tendência é de que a desigualdade social só aumente. Mas o que interessa para esses governos autoritários e neoliberais não é o bem-estar social, mas sim os lucros que podem obter a partir da exploração do Estado. E para atingir seus objetivos, eles não têm pudor algum em usar todas as formas de violência possíveis.

Até hoje, ninguém foi punido pelo Massacre do Centro Cívico. Essa impunidade é uma ferida que não se fechou e continua sangrando na memória e na vida daquelas e daqueles que lutam por uma sociedade justa e igualitária, para todas e todos. Apesar de toda essa violência, observamos uma categoria que não se deixa abater, que segue fazendo a resistência e tem a certeza de que eles passarão, pois a história julgará cada um deles sem piedade pelas maldades que cometeram.

*Carol Dartora é vereadora de Curitiba pelo PT, primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal da capital do Paraná. Professora de História, mestre em Educação, doutoranda em Tecnologia e Sociedade, militante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento Negro.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Lia Bianchini