Paraná

Alerta

Agrotóxico aumenta casos de câncer de mama em mulheres expostas aos venenos, diz pesquisadora

Carolina Panis, bioquímica e professora da Unioeste, apresentou dados de pesquisa realizada no Sudoeste do Paraná

Curitiba (PR) |
Mulheres da região Sudoeste do PR ocupacionalmente expostas ao agrotóxico têm risco 59% maior de contrair doenças - Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

A bioquímica e professora da Universidade Estadual do Paraná (Unioeste), Carolina Panis, usou o grande expediente da sessão plenária da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para falar sobre sua pesquisa relacionando o uso de agrotóxico com o câncer de mama em mulheres ocupacionalmente expostas e esse tipo de veneno. 

A exposição aconteceu nesta segunda (25), a convite do presidente da Comissão de Ecologia, Meio Ambiente e Proteção aos Animais da Alep, deputado Goura (PDT).

O estudo, que investigou a agressividade do câncer de mama em mulheres que trabalham na agricultura familiar e que tem contato direto com agrotóxicos, seja por meio da manipulação, da aplicação ou mesmo pelo contato com roupas e equipamentos contaminados, foi realizado no Sudoeste do Paraná, região que mais consome agrotóxico e berço da agricultura familiar no estado.

Segundo dados apresentados pela pesquisadora, as mulheres da região Sudoeste ocupacionalmente expostas ao agrotóxico têm risco 59% superior de contrair doenças do que mulheres que vivem nas cidades. O percentual foi apresentado após uma pesquisa realizada por oito anos e que agora começa a apresentar os dados analisados.

“Hoje os dados são bastantes concretos e alarmantes sobre o impacto do uso de agrotóxico na população paranaense, não só no Sudoeste do Paraná. Seis vezes maior do que o consumo per capta da população brasileira. O Sudoeste é uma região extremamente agrícola, particularmente da agricultura familiar. Região que sofre exposição severa, onde as mulheres fazem parte desse contexto de exposição”, disse.

A pesquisa abrange a 8ª regional do estado do Paraná, que conta com 27 municípios. Em alguns casos, segundo Carolina, o índice de “consumo” é 10 vezes maior do que a média nacional.

“Diferentemente do que se vê na população mundial, quando detectado precocemente o câncer tem taxa de cura elevada. No Sudoeste a gente observa que são registrados 40% mais diagnósticos do que no resto do Brasil, com 15% mais mortalidade do que no resto do Brasil”, alertou. “A junção desses fatores nos fez pensar qual o risco de uma mulher ocupacionalmente exposta ao agrotóxico ao câncer de mama?”, questionou.

A partir deste questionamento foi dado o início à pesquisa, com 700 mulheres atendidas no projeto, analisando o perfil clínico, dados de biopsia e questão ocupacional ou não.

Segundo Carolina, a partir desta pesquisa, identificou-se que mulheres ocupacionalmente expostas apresentam falhas em alguns mecanismos que são importantes para defesa contra tumores. E entre as consequências desta exposição estão o aumento no número de casos de câncer de mama, a diminuição da faixa etária em que essas mulheres apresentam a doença, a agressividade dos tumores, bem como o aumento da taxa de mortalidade.

A pesquisadora destacou o papel da mulher na agricultura da região analisada. Muitas vezes, é ela quem prepara o agrotóxico, ajuda na pulverização e lava as roupas usadas na lavoura. Ou seja, o contato com o veneno é direto.

Outro dado importante apontado é que 94% das mulheres responderam não usar nenhum tipo de luva, máscara ou qualquer outro equipamento de proteção para manipular esses produtos.

Carolina finalizou alertando que a contaminação por agrotóxico se estende aos familiares, pois foi detectado contaminação por pesticida no sangue e urina e também no leite materno. A pesquisadora pediu o apoio dos deputados para que um núcleo de análise seja criado na Unioeste.

“Precisamos avançar nesse tópico. Hoje somos vistos no estado como referência. Mas é preciso fazer um monitoramento da população exposta, para que vocês, que fomentam as políticas públicas, possam tomar as medidas devidas. Para avançar, a gente precisa criar um núcleo para fazer essas análises. Temos capacidade operacional e técnica e precisamos de estrutura física para virar referência no estado do Paraná”, disse.

*Com informações da Assembleia Legislativa do Paraná.

Edição: Lia Bianchini