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Crise

No governo Bolsonaro, inflação esvazia os bolsos dos trabalhadores

Recorde de aumentos faz população ter de escolher entre comprar comida, remédio ou pagar aluguel

Curitiba (PR) |
"Para se alimentar, a gente não consegue comprar uma carne ou uma verdura”, conta Carla, moradora da comunidade Tiradentes, em Curitiba - Foto: Giorgia Prates

Em março deste ano, o Brasil registrou a maior inflação para o mês desde o Plano Real, em 1994. O índice chegou a 1,62%, projetando índice entre 7% e 8%, podendo chegar próximo dos mais de 10% do ano passado. Mais que um índice, a inflação afeta diretamente o bolso dos trabalhadores, já que os principais aumentos são de itens básicos, como combustíveis, alimentos, remédios e aluguéis.

Como no governo Bolsonaro os preços sobem e a renda dos trabalhadores cai, a situação de milhões de brasileiros é de fragilidade econômica. A reportagem do Brasil de Fato Paraná conversou com alguns desses trabalhadores que têm de se virar todos os dias para pagar as contas. De escolher entre a comida na mesa, o gás para cozinhar ou pagar o aluguel.

Confira os depoimentos abaixo:

“O salário tem que dar até o fim do mês” 

Dona Geralda, 64 anos, é aposentada, teve uma crise séria em sua coluna e ficou de cinco a seis meses na cadeira de rodas. Com problemas de saúde, teve que fazer cirurgias e ainda sofre com dores que a impossibilitam de trabalhar. Conta com um auxílio-doença de quase 850 reais e a ajuda da filha. “Tem que dar, preciso pagar todas as contas”, relata.

Com as limitações no orçamento, não consegue mais comprar os medicamentos necessários. “A codeína que eu precisaria usar para aliviar minhas dores, com o novo aumento, fica impossível de comprar”.


"O que será de nós?", questiona dona Geralda / Foto: Arquivo pessoal

Responsável pelas contas da casa, sofre também para comprar um botijão de gás. “Se o governo não consegue segurar? O que será de nós? Não temos para onde correr.” Ela conta ainda que na região onde mora, uma antiga ocupação, há famílias que precisam escolher entre pagar aluguel e comer. “Está muito difícil viver”, afirma.

"É frustrante trabalhar e não ter poder de compra” 

Ana Clara, 23 anos, veio do Espírito Santo para morar em Curitiba. Formada em Economia, escolheu o centro da cidade justamente para economizar com deslocamento para trabalho, supermercado e hospitais. Apesar disso, precisa lidar com o alto preço de alimentos e remédios. “Tomo determinados remédios que não são fornecidos gratuitamente, eu acabo gastando R$ 150 por mês, somando mais o valor da casa, fica muito alto”, conta. 


Ana Clara define o cenário atual como "frustrante" / Divulgação

Para baratear os custos, e conseguir alimentar-se bem, recorre a sacolões populares e mercadões da família, com preços menores. “Tentamos fazer tudo que é possível, andando, até mesmo nos momentos de lazer. Para direcionar a nossa renda da melhor forma e para que possamos ter uma vida com melhor qualidade.”

Apesar da luta diária, Ana não esconde a frustração: “É absurdo ter que fazer escolhas tão bestas como: ah, hoje é final de semana, queria comer uma carne, não vai rolar, olha o preço... Sabe? É frustrante trabalhar e não ver que o seu esforço se reflete no poder de compra.”

“Preciso batalhar para manter a renda de casa”

Luís, 31 anos, tinha carreira consolidada no ramo de logística em uma multinacional da área de segurança. Após ter que lidar com a síndrome de Burnout (identificada em pessoas com alta carga de trabalho), e crises de ansiedade, preferiu afastar-se da empresa para cuidar de sua saúde. Ele é pai de uma menina de quatro anos de idade e luta, junto à esposa, para manter o orçamento de casa como motorista de aplicativo.

Mas com o aumento dos combustíveis, a situação financeira piorou. “Com o aumento da gasolina e do combustível, tem sido cada mais difícil, os gastos aumentaram muito”, relata.


Aumento no preço dos combustíveis dificultou a vida de Luís, motorista de aplicativo / Foto: Arquivo pessoal

Luis morava com sua esposa e filha em um apartamento financiado, mas, para economizar, foram morar na casa de seus pais. Enquanto sua esposa trabalha em casa, Luis sai fazer as corridas. “Está ficando difícil, mas não tem escolha, preciso batalhar para manter a renda de casa. Quero voltar a comprar uma carta de crédito e investir em uma casa novamente.”

“O bolso dá gente pedindo socorro”

Carla mora na comunidade Tiradentes, na Cidade Industrial de Curitiba, e trabalha com projetos voluntários na região, além de cuidar da casa, enquanto seu marido trabalha para fora. Relata que está cada vez mais caro para seu companheiro deslocar-se para o trabalho, o que impacta também no dinheiro para comprar comida.


"A gente não consegue comprar uma carne ou uma verdura”, conta Carla / Foto: Giorgia Prates

“Tá bem difícil, as finanças estão complicadas, meu marido tem gastado muito para ir para o trabalho. Para se alimentar, a gente não consegue comprar uma carne ou uma verdura”, conta.

Carla e seu marido tentam comprar cesta básica para garantir a compra do mês e a despensa de casa, mas com o aumento cada vez mais significativo dos alimentos, confessa: “O bolso da gente pedindo socorro.” 

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini